Enquanto caia, Scorpius sabia que da próxima vez que encontrasse seus amigos, já não seriam assim tão amigos.
Em uma das suas noites anteriores, quando a insônia batia à porta e sussurrava perguntas na sua mente para mantê-lo acordado, Scorpius chegara a uma conclusão. No momento parecera precipitada, mas agora era bem plausível.
O vento frio passava por baixo dos seus braços como se fosse sólido, e também machucava seu rosto. Ele quase não conseguia respirar de tão rápido que caía, o ar entrava rápido demais nos seus pulmões e quase não conseguia sair por causa da pressão.
Tudo que ouvia era o rugir do vento.
Até que parou de cair.
Por um instante se considerou morto. No outro instante se deu conta que seu plano havia de fato funcionado.
Quando abriu os olhos, viu que estava tombado no dorso de um animal pálido, com escamas fofas feitas quase do mesmo material que as nuvens, mas sólido o suficiente para o carregar. Era o seu Saoen, o basilisco. Diferente do retratado nos livros, aquele Saoen não era o retrato do monstro. Talvez Scorpius só estivesse acostumado com a aparência do bicho, mas não sentiu medo quando se deu conta que era ele. Agarrou-se melhor a ele, e gritou que seguisse de longe a frota de Abraxans.
O Saoen deslizou pelo céu. Scorpius estava temeroso que alguns dos Agoureiros o visse, então foram bem longe, mas sem nunca perdê-los de vista.
Viu Albus caído, provavelmente desmaiado. Viu os amigos atados uns aos outros. E o viu.
Aquele traidor ingrato.
Talvez não fosse culpa dele, afinal. Talvez ele tivesse sido influenciado. Scorpius queria acreditar nisso, infelizmente não tinha muitos motivos.
Lembrava-se do dia em que levara os amigos até a casa da prima, Anabel. Antes de saírem para o Ministério, depois de capturarem os agoureiros, ela o chamara no canto e dissera algo que perturbou Scorpius por uns dias:
-Temos pouco tempo e só poderei ficar na cidade até amanhã. Não vou arriscar mandar cartas. -ela parecia nervosa, ele observara, olhava constantemente para os lados, como se pudessem ser ouvidos. -Existe uma coisa estranha naquele menino, o cérebro dele não parece bem.
Scorpius a contara sobre ele estar tendo os mesmos problemas de insônia que ele, que sua mente estava constantemente sendo invadida por Delphi, ao passo que ela respondeu:
-Não. Não! Scorpius, você tinha muitas portas abertas para muitos traumas recentes, era fácil entrar na sua mente. Aquele menino... é como se ele estivesse deixando-as abertas por espontânea vontade. Ninguém faz isso, nem a mais confiante das pessoas. Sempre temos portas trancadas e com muita força. Ninguém faz isso.
Scorpius soubera na hora. Simon não estava bem antes, sempre estava sonolento e com muitos pesadelos, ou era oque ele dizia. Olhando agora Scorpius pensava se ele não estava cansado pelo esforço que fazia com eles. Manter a mente aberta daquela forma estava sugando suas energias.
E então houve o incidente da Abertura dos Jogos. Rick encontrando dois agoureiros que usavam lentes para esconder os olhos vermelhos. É claro. Era tão fácil.
Scorpius sentia-se cheio de fúria. O contara o plano sabendo que, naquela noite, Delphi o tentaria matar primeiro, se não tivesse feito isso poderia até acreditar na inocência de Simon. Mas lá estava ele, voando nas costas de um Saoen.
Simon tinha os traído.
Intencionalmente ou não... já não importava mais.
Os abraxans tinham sido acorrentados, Scorpius percebeu, eram levados por um grupo maciço de Agoureiros, talvez estivessem enfeitiçados também, o que era mais provável. Nenhum grupo de pássaros comuns conseguiriam levar à força três abraxans adultos.
Ele e o Saoen seguiram a uma distância segura por algumas horas, até Scorpius perceber que aparentemente os Abraxans não estavam sendo levados para Manhattan, e teve certeza quando eles começaram a descer e pousaram nas ruínas de uma fábrica. Scorpius fez o Saoen ficar parado ali em cima para assisti-los.
Os cavalos, assim que pousaram, tombaram sobre as pernas. Os seus amigos mal se mexiam. Já os agoureiros voltaram a sua forma humana. Agindo artificialmente como soldados, conseguiram puxar com eficiência dois dos animais e posiciona-los em uma posição de Y. Depois entraram no meio da formação e se seguraram em um pneu velho com uma mão, e com a outra tocaram os focinhos dos abraxans. Eles giraram vigorosamente, e tão rápido que Scorpius mal percebeu quando eles desapareceram. Era um portal. O pneu era um portal.
Ele começou a entrar em desespero.
Estavam muito perto da MACUSA para que eles fossem para lá de portal. Eles não tinham ido para a Macusa, tinham ido para outro lugar em que ele nunca os acharia.
Scorpius sentiu a boca seca e os olhos arderem. Tinha a leve possibilidade de tudo ter dado errado. Ele encostou a testa no Saoen e respirou fundo. Talvez existisse alguma técnica do ministério de rastrear portais. Por Merlim, tinha que ter.
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Stigma - Scorbus
Fanfiction2° Temporada de Poisonous Love Com o início do ano, uma viagem escolar seria o ponto de animação da escola. A ansiedade corria solta pelos corredores de Hogwarts. Infelizmente para alguém com o coração partido não seria tão satisfatório acompanh...