Capítulo XIII - MALU

3.6K 614 256
                                    

Quando o despertador tocou naquela manhã eu levantei num salto. Isso, porque eu nem sequer percebi que eu estivera dormindo. Fiquei esperando o Bruno chegar até muito, muito tarde e nem notei que peguei no sono.

Olhei para o lado e vi que sua cama estava vazia, o que me deu um aperto no coração. Onde ele poderia estar? Arrumei-me em velocidade máxima, a fim de procurá-lo nas redondezas antes de pegar o ônibus para o trabalho.

Após várias voltas nos quarteirões – sem o menor sucesso, é claro – acabei me rendendo e segui para o ponto do ônibus, na esperança de encontrá-lo no trabalho. Como eu tinha me atrasado um pouco, acabei pegando um ônibus diferente daquele de todas as manhãs, e só me dei conta que esse era o ônibus dos enfermeiros quando eu já estava quase de frente para eles.

Corri para um acento, na esperança de que eles não tivesse me visto – e se vissem, não me reconhecessem, o que era ainda mais importante. Esse acento ficava umas duas filas na frente deles, o que me possibilitou ouvir sua longa e massante conversa sobre as novelas sem usar qualquer telepatia.

Apesar de isso não dizer nada, pensei que esse poderia ser um sinal de que o doutor maluco não encontrara a tal criança ainda, e isso me deixou um pouco mais aliviada.

Chegando no trabalho, saí meio desesperada na esperança de encontrar o Bruno. Procurei ele em todos os lugares – possíveis e impossíveis – mas ele não estava lá, o que só aumentou ainda mais meu desespero.

Se pessoas normais já teriam um zilhão de preocupações numa situação dessas, eu estava quase entrando em parafuso. Eu não temia pelas coisas normais, que irmãs normais temeriam – assaltos, sequestros, esse tipo de coisa – porque o Bruno sabe se virar sozinho muito bem. O que me preocupava de verdade era aquele médico lunático solto por aí. E se ele tivesse pegado o Bruno? O que eu faria?

- Onde está o Bruno? - indagou-me o Pacheco, com cara de poucos amigos.

- Ele está doente – menti, tentando acabar logo aquela conversa.

- E posso ver o atestado dele? - insistiu.

Eu estava totalmente esgotada com os acontecimentos daquelas últimas doze horas e não pensei duas vezes antes de persuadi-lo a aceitar minha historinha sem mais questionamentos. É claro que eu me arrependi disso depois, mas foi tudo o que eu consegui pensar para despistar aquela sarna.

Passei o dia inteiro com a cabeça longe, tentando me concentrar o máximo possível em uma possível mensagem de socorro que o Bruno poderia me mandar, mesmo sabendo que havia barreiras para telepatia no hospital.

Além da preocupação eu sentia muita culpa também. Eu tinha sido muito babaca com ele, e mesmo que ele bem que tenha merecido levar um esculacho, eu acho que peguei pesado demais. Ele não tinha a menor culpa de termos sido separados quando ainda éramos bebês e eu não tinha o menor direito de culpá-lo por isso.

Finalmente cheguei em casa após aquele longo dia de trabalho, eu já estava meio que perdendo as esperanças e estava até cogitando pedir ajuda do Zeca para poder localizar o Bruno, mas nada disso foi necessário. No momento em que abri a porta, encontrei-o deitado na sua cama.

- A gente precisa fazer alguma coisa, Malu – disse ele, levantando da cama, assim que eu entrei no nosso quarto.

- Eu sei – respondi, meio sem graça – Eu fui muito idiota com você ontem, e...

- Vamos esquecer isso – sugeriu ele, interrompendo-me. – Temos assuntos realmente importantes para tratar.

- Do que você está falando?

- Aquilo que você me disse ontem à noite me fez pensar muito, Malu. E você está certa! Nós não tivemos oportunidade de crescer juntos. Não tivemos oportunidade de ter uma vida normal e até hoje não temos uma! Por mais que a gente tente, não nos encaixamos em lugar nenhum.

- Você não devia levar o que eu disse a sério, Bruno! - insisti.

- Pelo contrário! - ele estava em êxtase, como se as palavras não conseguissem acompanhar seu raciocínio – Senta aí que eu vou tentar te explicar.

Sentei na beirada da cama, ainda sem entender bulhufas do que ele dizia.

- Ontem eu saí daqui muito chateado – começou ele, enquanto andava de um lado pro outro – Tão chateado, que fiquei remoendo tudo o que você me disse por horas. E caramba, Malu! Como eu fui idiota esse tempo todo. A verdade é que eu estava morrendo de ciúmes daquele cara, porque ele teve a possibilidade de cuidar de você esse tempo todo e eu não. E ontem à noite eu notei que eu estava direcionando minha raiva pro cara errado. Apesar de não ir muito com a cara dele, ele não teve culpa da nossa separação, nem de tudo de ruim que aconteceu na nossa vida. Tudo isso é culpa daquele médico desgraçado e de toda aquela gente.

- E você alguma vez chegou a duvidar disso? - indaguei, achando aquele papo meio esquisito.

- É claro que não. Nenhum de nós nunca teve a menor sombra de dúvida sobre isso. A pergunta é: o que exatamente nós fizemos para mudar isso?

- Você enlouqueceu? - perguntei, levantando da cama num salto. – O que você acha que nós podemos fazer contra tudo aquilo?

- Nós podíamos começar atrapalhando os planos deles! - respondeu ele, como se tivesse acabado de bolar o plano mais genial do universo.

- Puxa, Bruno! Você é um gênio mesmo! - exclamei, irônica. – Como é que nunca pensamos nisso?

- Deixa de ser besta, Malu! Eu não estou sugerindo que a gente entre naquele hospital disfarçados – riu. – Até porque eu já vi que isso não dá certo. Meu plano é muito mais inteligente do que isso.

- Ah, é? - indaguei, cética. – E qual é o seu plano, gênio?

- Nós vamos atrás da terceira criança. E vamos encontrá-la antes do médico.

*********************

Fala, galerinha!! O que acharam do capítulo? O plano do Bruno faz sentido ou é só mais uma confusão na vida deles?

Pelo menos ele e a Malu se entenderam, né?

Não esqueçam do comentário e do votinho, tá?

Beijão ;*


A Terceira Criança - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora