Capítulo XIV - ZECA

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- Entra logo – pediu a Malu, assim que me viu na janela. – O Bruno só pode ter surtado!

- Como assim? - indaguei, ao pular a janela.

A situação parecia mais sob controle do que nunca. Aquele doido varrido estava sentado na cama, com a mais pura expressão de normalidade, muito ao contrário do cara insano que ficava me pendurado em paredes e me xingando.

- Sério, Zeca! - tornou ela. – Ele só pode ter batido a cabeça, pois não está falando coisa com coisa.

- Nossa! Quanto drama, Malu. - exclamou ele, com desdém.

- O que está acontecendo? - perguntei, ainda sem saber se eu devia ou não me preocupar.

Ela sentou-se ao lado do irmão e ficou lhe encarando de maneira estranha, como se estivesse procurando algum defeito ou algo que explicasse o motivo de toda essa confusão.

- O Bruno quer arranjar confusão com o pessoal do hospital, Zeca! - exclamou ela. – Logo agora que eles nos deixaram em paz.

- Eles não nos deixaram em paz, Malu! - tornou ele, enfático. – Nós só deixamos de ser úteis.

- Mas estamos bem desse jeito, não estamos? - indagou ela.

Enquanto os dois discutiam, eu permanecia em silêncio os observando. Os dois eram tão diferentes que chegava a ser engraçado o modo como eles discordavam. Mesmo que minha relação com o Bruno nunca tenha sido muito amistosa, eu estava feliz de saber que ele a protegeria.

- O que você acha, Zeca? - perguntou ela, finalmente.

- Eu não sei o que pensar – respondi. – Eu nem sei bem do que vocês estão falando!

Bufando e revirando os olhos, ela levantou-se da cama do irmão e me chamou pra sentar ao seu lado, na sua cama.

Da maneira mais sucinta possível ela me explicou tudo que sabia sobre essa história de terceira criança e sobre como descobriu que aquele maníaco estava atrás dela. Além disso, ela também contou sobre como o Bruno teve sua ideia.

- E foi isso. - terminou ela. - E agora o Bruno quer tentar mexer num vespeiro. Eu já tentei explicar pra ele que nós não fazemos mais parte daquilo.

Fiquei dividido entre discordar da minha amiga e concordar com o meu inimigo. Mas o que eu podia fazer? Seu plano era bom. Na verdade, seu plano era ótimo e fiquei me perguntando como eu nunca tinha pensado nisso antes.

- Quer você queria ou não, nós sempre faremos parte daquilo, Malu. - expliquei. – Eu acho que esse plano até que faz sentido.

- Viu só?! - indagou o Bruno, pulando da cama, no maior ar de triunfo. – Eu te disse que meu plano é bom!

- E onde exatamente os sabichões pensam em procurar? - indagou ela, cética

- É uma questão meio lógica – começou o Bruno – Se o médico não encontrou essa criança ainda, isso significa que ela não foi mandada para o orfanato.

- Ou se foi, logo foi adotada – completei.

- Exato! - ele apontou pra mim. – Não ter família era um dos pré-requisitos para participar do experimento, então pensei em começarmos pelo orfanato.

- Está bem - concordou a Malu. – Digamos que, hipoteticamente, a gente encontre essa criança antes daquela gente. Onde vamos acomodá-la?

- No mesmo lugar que acomodamos você, quando te tiramos de lá. - respondi. – Qualquer lugar é melhor que aquilo.

- Acho que devemos começar amanhã - sugeriu o Bruno. – Já estamos vários passos atrás do médico.

- Concordo – disse. – Precisamos diminuir essa vantagem.

- Ótimo. Esperamos você amanhã, nesse horário – concluiu Bruno, dando a mão para que eu apertasse.

- Você sabe que ainda me deve um pedido de desculpas, não sabe? - apertei sua mão.

- Não força a barra, cara – advertiu ele.

Voltei pra casa me sentindo leve e cheio de expectativas. Pela primeira vez senti que tínhamos uma chance contra aquela gente.

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Capítulo especialíssimo postado em homenagem a surpresa maravilhosa que tive hoje. Caso não saibam, 'A Segunda Geração' foi vencedor da categoria Os Originais do Prêmio Wattys 2017. E para comemorar, resolvi postar um capítulo extra. Espero que gostem.

Finalmente Bruno e Zeca resolveram esquecer suas diferenças em prol de algo maior. Até quando essa trégua vai durar?

Não esqueçam do votinho e do comentário.

Beijão ;***

A Terceira Criança - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora