- Onde você pensa que está indo? - indaguei aos berros, da calçada.
Que o Zeca era um baita traidor, isso eu não tinha a menor dúvida. Sabia também que ele era mentiroso e pilantra também. Então eu realmente não sei porque fiquei tão chocada ao notar que ele tinha tentado me deixar pra trás naquela noite.
- Fala baixo! - exclamou ele, num murmúrio. – Quer que todo mundo ouça a gente aqui?
- Se eu não precisasse de você pra poder ir lá, você estaria perdido, Zeca. - ameacei-o, mesmo sabendo que minha ameaça era inútil.
- Eu já te disse. Se o Tonho sequer sonhar que você está aqui... - começou ele.
- O Tonho. Sempre o Tonho! - revirei os olhos. – Até pouco tempo meu irmão era o cara mais medroso que eu conhecia. Agora todos se borram de medo dele.
- Que culpa eu tenho se seu irmão ficou paranoico de uma hora pra outra!? - deu de ombros, se fazendo de desentendido.
Pensei em responder que a culpa era dele, sim. Que se ele não tivesse nos abandonado como fez, o Tonho não teria assumido a responsabilidade de tudo e, automaticamente, não teria se tornado o maníaco assustador que se tornou. Mas resolvi ficar quieta, pois eu sabia que querendo ou não, eu dependia do Zeca para poder fazer alguma coisa interessante pelo menos uma vez na minha vida.
Seguimos em silêncio até a pensão da Malu, onde eles já nos esperavam do lado de fora. O vento estava tão frio que parecia que ia cortar minhas orelhas fora.
- Espero que dessa vez tenhamos mais sorte – disse a Malu.
O segundo orfanato ficava ainda mais distante que o primeiro. Não que fosse muito longe, mas tratavam-se das minhas preciosas horas de sono. Cada minuto andando, significava que eu dormiria ainda menos do que eu já estava dormindo.
Conforme fomos andando, o grupinho foi se separando. Até porque era impossível andar lado a lado nas calçadas estreitas. E como era de se esperar, o Zeca e a Malu tomaram a dianteira tagarelando sem parar, o que me fez ficar para trás com o Bruno.
Ele deve ter percebido que eu não queria papo com ele, pois não tentou puxar conversa nenhuma vez. Agradeci em pensamento, pois, por mais que eu não gostasse nada dele, também não gostava nada de ser grosseira.
O vento estava ficando cada vez mais forte e eu já estava tão arrepiada que meus braços doíam. Me odiei por não ter trazido uma blusa mais quente. E ainda estávamos no começo da nossa missão. A coisa só pioraria.
- Você está com frio? - indagou o Bruno, ao notar que eu estava encolhida e tremendo enquanto andava.
- Não - respondi, seca.
Tentei apressar um pouco o passo, mas eu estava numa situação complicada. Eu não queria andar rápido o suficiente para alcançar o Zeca e a Malu, nem ficar para trás o suficiente, para que o Bruno pensasse que podia ficar puxando assunto comigo. Decidi ficar em um meio termo. Acelerei um pouco e o deixei pra trás.
Não demorou para ele me alcançar. Dessa vez, colocando sua jaqueta sobre os meus ombros. Senti-me tentada a ficar com ela, pois ela ainda estava quentinha do calor do seu copo, mas meu orgulho falou mais alto do que meu frio.
- Eu não quero sua... - comecei, mas fui interrompida.
- Não tem de quê - respondeu ele, sarcástico.
Nesse meio tempo, meu corpo já tinha se acostumado ao calor e senti-me traída pelo meu próprio corpo, pois dessa vez o orgulho não teve nem chance.
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Será que tá começando a rolar alguma coisa ou é só alarme falso?
Estou pensando em começar a postar no sábado também, o que acham? Deixem suas opiniões.
Beijinhos
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A Terceira Criança - Livro 2
Science FictionATENÇÃO! Este livro é a continuação de A Segunda Geração e sua sinopse possui spoilers do primeiro livro. Oito meses após sua última visita ao hospital e com uma vida completamente diferente, Malu descobre que o hospital tem planos gananciosos para...