Capítulo XCIII - BRUNO

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Chamei a Malu para ir até o quarto da Flávia para que pudéssemos tentar planejar alguma coisa, mas ao entrar no quarto, novamente nos deparamos com o mesmo vazio. Isso já tinha acontecido antes, por isso me sentei em sua cama e fiquei esperando que ela chegasse.

A Flávia apareceu logo em seguida e ficou surpresa ao ver a Malu em seu quarto. Ela ficou parada na porta e me encarou com um olhar muito expressivo.

- Está tudo bem – disse. – A Malu está do nosso lado agora.

- O doutor está nos esperando na sala dele – respondeu ela.

Seguimos pelo corredor – que estava apinhado de guardas agora – e entramos na sala do médico. Ele estava em sua mesa, com sua característica expressão de maníaco.

- Sentem-se – disse. – Temos muito que conversar.

Obedecemos sem criar caso e esperamos pela fala do médico.

- Amanhã começaremos a bateria de exames e, dependendo dos resultados, o experimento começará logo em seguida – explicou. – Caso algum de vocês apresente alguma alteração, trataremos a patologia e todos os exames serão refeitos.

Todo esse processo levaria tempo. E era desse tempo que eu precisava para bolar alguma ideia para sair daqui.

- Agora vem a parte mais importante de todas – sorriu, mas não parecia feliz. – Malu venha até aqui.

Sem hesitar, ela levantou-se da sua cadeira e seguiu até o outro lado da mesa, ficando de pé ao lado do médico que, levantou-se também e começou a mexer no capacete da Malu.

Ele tinha mordido a isca! Ele estava livrando a Malu do capacete e, logo logo seria a minha vez. E daí finalmente estaríamos livre desse inferno.

O médico abriu um pequeno painel no capacete e mexeu em algumas configurações, mas ao invés de ele se abrir, a Malu caiu desmaiada sobre a mesa. Levantei sobressaltada tentando entender o que estava acontecendo.

- O que isso significa? – perguntei, alarmado.

- A partir de agora a sua irmã não lembra de mais nada sobre a sua vida – respondeu, impassível. – Este é apenas mais uma das funções desse aparelhinho incrível.

- Seu desgraçado! – exclamei, pulando sobre a mesa tentando agarrar o seu pescoço.

Cinco guardas entraram na sala e me tiraram de cima do médico, dando-me uma coronhada com tanta força que não sei como ainda continuei acordado. Então eles me seguraram na minha cadeira.

- Ora, ora, Bruno... – Era a primeira vez que ele me chamava pelo meu nome. – Você não deveria ter me subestimado. Eu sou telepata, esqueceu?

Senti-me o ser mais burro da face da Terra. Eu tinha me esquecido desse fato tão relevante. E graças a minha burrice, a Malu estava desmaiada sem memória bem na minha frente.

- Mas não foi isso que me fez entender que você estava conspirando contra mim. Ah, não. Eu tive uma ajudinha. Minha querida amiga Flávia foi quem me contou tudo sobre vocês.

Foi muita sorte da Flávia ter um monte de guardas me segurando, caso contrário, eu a esfolaria viva tamanha a raiva que eu sentia.

- A culpa foi toda sua, Bruno! - exclamou ela, com raiva. - Se você não tivesse trazido a Nice para cá, eu não teria que ter feito isso. Mas foi a única maneira de salvar a minha irmã.

Antes que eu tivesse chance de mandá-la para o inferno, o doutor continuou:

- O que eu acabei de fazer é só uma pequena amostra de tudo o que eu posso fazer com ela. E não se engane, garoto – interrompeu-me quando eu fiz menção de falar – Você é primordial para o sucesso do meu experimento. A Flávia também é. Mas a sua irmã não é! Na verdade, ela não vai fazer parte do experimento.

- Não? – indagou a Flávia. – Mas eu pensei que...

- Eu também pensei que sim. Mas eu achei uma função muito mais vantajosa para ela – sorriu, com escárnio. – Que felicidade a minha descobrir o quanto os dois irmãozinhos se amam. E eu vou usar isso a meu favor.

- Do que você está falando? – perguntei.

- Eu descobri sua maior fraqueza, Bruno: A sua irmã. Eu te criei para que você não tivesse qualquer afeto. E você não tinha mesmo, até conhece-la. Quantas vezes você arriscaria sua vida para protege-la? Eu ainda não sei, mas vou descobrir.

Senti meu mundo desabar bem na minha frente, enquanto esse desgraçado triunfava. Ele tinha razão. Eu concordaria com tudo o que ele dissesse, porque eu não deixaria nada de mal acontecer a ela. Eu estava perdido. Ela estava perdida. Era o fim.

- Agora voltem para os seus quartos – ordenou. – Amanhã teremos muito trabalho.

Os guardas me levantaram da cadeira e me arrastaram para o meu quarto. Não vi o que aconteceu com a Malu, nem com a Flávia, nem com o médico. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, minha porta fora trancada.

Deitei na cama e só então notei que eu estava tremendo. Meu corpo inteiro doía – e não era só pela força que os guardas usaram para me segurar no lugar. Eu estava fadado a concordar com essa ideia ridícula para proteger a Malu e esse era o pior castigo que eu podia receber.

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Deu ruim de vez! :(

Agora é esperar pelo capítulo final.



A Terceira Criança - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora