Capítulo LXXIX - ZECA

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Eu não entendia porque a Helô tinha tanta esperança. A chance de sairmos desse lugar ficava menor a cada vez que entrávamos aqui e, se o Tonho realmente viesse nos salvar – o que eu não conseguia botar muita fé – ele acabaria me matando mesmo. De qualquer maneira eu estava muito ferrado.

Tudo deu errado. Num momento eu pensei que minha vida seguiria um caminho e o destino me deu chacoalhão com tanta força, que eu já nem sabia mais quem eu era.

E tinha a Malu.

Eu sabia que o Bruno cuidaria dela da melhor maneira possível. O problema é que essa 'melhor maneira' não era o suficiente. Ela estava em perigo. Os dois estavam. E não havia nada que eu pudesse fazer para tirá-los daqui.

A Helô ficava andando de um lado para o outro, o que estava começando a me irritar profundamente.

- Você pode parar só por um instante? - indaguei, irritadiço.

- Não consigo – respondeu. - Estou ansiosa demais.

- Ansiosa? - tornei, zangado. - Nós estamos ferrados, Helô! Eu mais ainda, já que seu irmão vai comer o meu fígado com polenta quando descobrir que eu te trouxe comigo.

- Pra começo de conversa eu vim porque eu quis – argumentou, cruzando os braços.

- E isso vai fazer uma diferença enorme na hora que ele for me matar – tornei, sarcástico.

- Você prefere viver aqui ou morrer lá fora?

- Duas opções muito reconfortantes... - zombei.

- Então quando o Tonho vier me tirar daqui, eu vou dizer pra ele que você prefere ficar nesse inferno!

Levamos um susto quando a janelinha da porta da cela se abriu com um grunhido. Uma enfermeira nos olhava pelo buraco.

- Quem prefere ficar nesse inferno? - indagou ela, erguendo uma sobrancelha.

Enquanto a Helô se encolheu, medrosa, sorri aliviado. Eu sabia que era o Tonho. Puxa vida! Eu reconheceria o Tonho mesmo que ele estivesse transmutado num arbusto.

- Eu pensei que nunca fosse dizer isso, mas eu estou amando te ver! - exclamei, sorrindo.

- E olha que eu nem arrumei meu cabelo hoje – zombou.

Enquanto a Helô nos encarava incrédula, caímos na gargalhada.

- É você, Tonho? - indagou ela, receosa.

- E quem mais voltaria pra esse inferno para te tirar daqui?

- Eu tinha certeza que você viria! - exclamou, lançando-me um olhar acusador.

Ouvimos um barulho vindo da porta, como se o Tonho tivesse a forçando, mas ela não parecia ceder.

- Agora que eu achei vocês, preciso pensar numa maneira de tirá-los daí – anunciou.

A segurança máxima tinha esse nome porque aqui o nível de segurança sempre estava em alerta máximo – mas isso só depois que alguns de nós fugiram. Ou seja, dentro das celas nenhum poder funcionava. Se o Tonho desse um jeito de reduzir a segurança aqui dentro, nós sairíamos daqui em um piscar de olhos.

- Você precisa achar a sala de comando e desativar a segurança aqui – sugeri.

- Por que você não me pede também para servir um café pro Doutor Pinel? - tornou, sarcástico.

- É sério, Tonho – concordou a Helô. - O Zeca tem razão. Você tem que dar um jeito de achar a sala de comando.

- Achar a sala de comando vai ser fácil. O problema é o que eu vou fazer quando entrar lá.

- Eu sei o que fazer – respondeu ela, confiante.

- Como você sabe? - tornou. A perplexidade evidente em sua voz.

- Não interessa como eu sei. O importante é que eu sei – disse, séria. - Agora eu preciso que você dê um jeito de entrar na sala de comando. Lá, muito provavelmente, vai ter um botão principal no meio de todos os botões. Ele acessa a central de controle de todo o sistema de segurança. Quando você acessar a central, vai aparecer um menu. Daí é só seguir o menu.

O Tonho levou uns instantes para processar tudo o que a Helô disse e, na moral, agradeci por não precisar ser eu a seguir todo esse passo a passo. Mas ele finalmente assentiu e saiu correndo.

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Vamos ver as coisas pelo lado bom. O Tonho não quis matar o Zeca... ainda.

Não esqueçam de comentar o que estão achando e daquele votinho maroto.

Beijão


A Terceira Criança - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora