Capítulo LXXI - ZECA

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A queda realmente foi alta como pensei, mas isso não foi motivo para que desanimássemos. Levantamos e saímos correndo, mesmo que a sala em que caímos estivesse lotada de enfermeiras.

Sem precisar abrir portas, obtivemos uma pequena vantagem em cima deles e seguimos pelos corredores. Quando algum guarda tentava nos pegar, eles apenas nos atravessavam e assim seguimos por um bom tempo até chegarmos em um corredor vazio, quando a Flávia começou a dar sinais de estar despertando.

- Cala a boca dela, Bruno – pediu a Malu. - Se eu ouvir a voz dessa garota de novo eu acho que faço ela desmaiar para sempre.

- Como você fez isso? - perguntou a Helô, querendo saber o que todos nós também queríamos.

- Eu não sei bem. Só entrei na mente dela e 'bum' ela já estava desmaiada – sorriu, envergonhada.

Como não podíamos perder tempo com explicações, continuamos pelos corredores, seguindo as indicações do Bruno até chegarmos a um beco sem saída. Tendo a vantagem de poder atravessar qualquer superfície sólida, um parede na minha frente não deveria ser um grande problema, mas eu tinha que ser muito cauteloso com o que tinha do outro lado. Eu não tinha qualquer garantia de que a construção continuaria do outro lado dessa parede e, estando no quarto andar, a queda seria pelo menos dolorosa.

- O que tem aqui do outro lado? - perguntei ao Bruno.

- Não sei – respondeu, parecendo confuso. - Esse corredor não existia quando eu estava aqui.

- Como assim? - tornou a Malu, erguendo uma sobrancelha. - Estamos falando de um corredor no meio de um hospital gigante! Ele não pode simplesmente ter aparecido aqui.

- Eu vivi aqui por dezesseis anos. Não duvide da minha capacidade de orientação nesse lugar.

- Eu não estou duvidando, Bruno – defendeu-se. - Só estou dizendo que isso é bem estranho.

E era mesmo. Ou o Bruno realmente estava perdido e não queria admitir – o que eu achava muito pouco provável – ou alguma coisa muito esquisita estava acontecendo. E conhecendo esse lugar como eu conhecia, eu podia apostar meu braço bom que alguma coisa estava acontecendo.

Notei que haviam algumas portas naquele imenso corredor e no ímpeto de entender o que estava acontecendo, corri até uma delas e tentei abri-la. E então a mágica – ou a falta dela – aconteceu. Minha mão atravessou a maçaneta, mesmo eu não querendo que isso acontecesse.

Ao ver a cena incomum, a Helô veio atrás de mim e tentou fazer a mesma coisa e, mais uma vez, ela não conseguiu segurar a maçaneta.

- É uma ilusão – constatei, frustrado. - Esse corredor não existe.

- Essa desgraçada! - exclamou o Bruno, jogando a Flávia no chão.

Ela caiu no chão com um baque surdo e gritou, enquanto levantava-se com um sorriso triunfante.

- Que falta de cavalheirismo – reclamou, fazendo beicinho. - Mas admito que foi bem engraçado fazer vocês de otários.

- Onde exatamente nós estamos? - perguntou a Helô, ignorando a ceninha ridícula da Flávia.

- Fala logo, Flávia! - exclamou a Nice, desesperada.

Antes que a Flávia tivesse sequer a chance de mandar a irmã para o inferno, o corredor foi tomado por uma fumaça esquisita e, sem nem precisar seu sentir o cheiro eu já sabia do que se tratava.

- É um gás sonífero! - exclamei, cobrindo o nariz com a gola da camisa.

Todos fizeram a mesma coisa, mas sabíamos que isso não impediria o efeito do gás. Com muita sorte apenas o retardaria por alguns minutos. Senti um puxão na minha camiseta e vi a Malu me encarando séria.

- Você sabe o que tem que fazer agora.

- Por favor, Malu... - tornei.

- Pega a Helô e vai embora daqui, Zeca. - Sua voz estava esganiçada e sua mão estava tremendo. - Vai logo antes que seja tarde demais.

Eu não podia simplesmente ir embora dali e deixá-la a mercê daquela gente maluca. Por mais que o que ela afirmasse fizesse muito sentido, eu simplesmente não conseguia.

O Bruno se aproximou de mim e me segurou pela camiseta.

- Eu cuido da Malu, Zeca. Enquanto eu estiver aqui nada de mau vai acontecer com ela – assegurou-me. - Mas eu preciso que você vá embora e leve a Helô daqui.

- Por favor, Zecainsistiu a Malu.

Olhei para o lado e vi que a Helô não aguentaria mais ficar naquele lugar por muito tempo – não acordada, pelo menos. Eu tinha que tomar uma atitude rápida e, por isso, abaixei a gola da minha camiseta e fiz o mesmo com a Malu. Dei-lhe um beijo apressado e disse, com os lábios ainda encostados nos seus:

- Eu volto pra te buscar.

Sem pensar muito, agarrei o braço da Helô e descemos para o piso inferior.

- Obrigada. Eu não queria ter que te persuadir – agradeceu, sonolenta. - Agora vá logo.

Sem responder – até porque eu não sei se conseguiria fazê-lo sem me arrepender – seguimos em frente.

Uma pena que, com o nível máximo de segurança acionado e sem poder atravessar nenhuma parede e nenhum guarda, não levou nem cinco minutos para que fôssemos apanhados.

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Deu ruim! E agora?

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Beijinhos

A Terceira Criança - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora