Capítulo 13

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Arizona

Tive que ficar alguns dias no hospital. Só depois que passou o risco de infecções no local da incisão é que fui liberada para ir para casa.

Como ainda não conseguia me levantar sozinha por causa das costelas quebradas, Callie se ofereceu para ficar na minha casa cuidando de mim e de Sofia até que eu pudesse me virar sozinha.

Recusei de início, não queria incomodá-la, e ainda não entendia direito o que estava havendo entre nós. Mas, ela insistiu até me vencer pelo cansaço.

Ela pediu que Bailey a liberasse para não me deixar sozinha nos meus primeiros dias em casa. Só saía para ir ao hospital quando a chamavam para alguma emergência, ou para deixar e buscar Sofia na escola.

Por um lado, era bom tê-la ali cuidando de mim. Eu gostava de da sensação de estar sendo paparicada.

No entanto, a sua presença me deixava inquieta e confusa. Sentimentos contraditórios me assombravam a todo momento...

Estávamos divorciadas, havíamos nos envolvido com outras pessoas. E, eu não tinha a menor ideia do que se passava pela cabeça daquela mulher.

Não havíamos trocado mais nenhuma carícia depois que a beijei naquele quarto de hospital. Tampouco havíamos falado sobre o assunto. Era como se nunca tivesse acontecido. Ela me tratava com muito carinho e cuidado, mas nada fora de qualquer limite. Às vezes, eu tinha vontade de tocar no assunto, mas acabava desistindo logo em seguida.

Naquela manhã eu estava sozinha em casa. Sofia estava na escola, Callie havia ido atender a um chamado de emergência e estava demorando. Eu estava segurando a vontade de ir ao banheiro há muito tempo.

O local da cirurgia estava cicatrizando bem, o problema era a fratura nas minhas costelas. Todas as vezes que eu fazia um movimento mal calculado, sentia uma dor lancinante me cortar ao meio.

Devagar e com o máximo de cuidado que conseguia, fui levantando o tronco apoiando o peso do meu corpo nos braços ao mesmo tempo em que arrastava o meu quadril até a beirada da cama. Coloquei a perna direita para fora da cama, dei um impulso leve com os braços conseguindo, finalmente sentar. Parei por um instante levando uma mão às minhas costelas e tentando normalizar a respiração que estava entrecortada pela dor que eu estava sentindo.

Quando me senti melhor, estendi o braço para pegar a muleta que estava depositada ao lado da cama.

A minha prótese havia sido destruída no acidente, então eu tinha que usar muleta até que a prótese nova ficasse pronta.

Com a mão esquerda segurei a muleta e com a mão direita apoiada na cama, respirei fundo e dei mais um impulso no corpo conseguindo ficar de pé na primeira tentativa. Mas a dor que aquele movimento me causou me fez fez soltar um grito e lágrimas começaram a descer pelo meu rosto. Não só pela dor, mas pela horrível sensação de ser tão dependente a ponto de não conseguir nem mesmo ir ao banheiro sozinha sem todo aquele sofrimento.

Andando com muita dificuldade e me apoiando nos móveis, consegui chegar ao banheiro, mas quando finalmente estava diante do vaso tentando achar um jeito de me sentar ali, sinto o liquido quente escorrer pela minha perna. Olho para baixo e lágrimas volumosas embaçam a minha visão. As lembranças de todo o sofrimento depois da queda do avião voltam com toda a força e, eu estou ali, de novo, no meio de uma poça do meu próprio xixi.

Neste exato momento, ouço Callie entrando em casa e chamando por mim. Não consigo responder. Ouço a voz dela se aproximar, até que ela entra no banheiro e me vê.

- Arizona, o que está fazendo aí? - sua preocupação é nítida e aumenta quando ela entende a situação. - Oh, meu Deus...

- Eu precisava vir ao banheiro. - falo entre as lágrimas. Não consigo olhar para ela, me sinto humilhada por ela me encontrar naquela situação... de novo!

Eu Fui Feita Para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora