Capítulo 8

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Callie

Mesmo depois de todos os protestos de Arizona, fiz questão de levá-la para casa.

- Esse não é o caminho para a minha casa, Calliope. Você sabe disso. Para onde está me levando? - ela pergunta irritada.

- Calma, Arizona. Nós vamos passar no meu apartamento para pegar a Sofia. - Explico. Ela finalmente para de reclamar e sorri.

- Ah, que bom! Estou morrendo de saudade da minha baixinha. - ela quase dá pulinhos de alegria no banco do carona. É impossível não rir do seu jeito moleca.

- Ela também está morrendo de saudade de você. Não fala em outra coisa dia e noite. - digo enquanto estaciono em frente ao meu prédio.

* * *

Sofia adorou o jeito como Arizona arrumou o seu quarto. E fez questão de, naquela noite, já dormir na sua "casa nova" como ela dizia, mesmo todas nós sabendo que já havíamos morado ali com Arizona. Ela já havia tomado banho e vestido o seu pijama favorito e estava deitada no sofá da sala com a cabeça no colo de Arizona, que também já havia se preparado para dormir. Eu estava na cozinha preparando o jantar e, sempre que podia parava para olhar as duas matando a saudade. Meu coração se enchia de alegria e de melancolia diante daquela cena. E só então percebo o quanto senti falta dos nossos momentos em família.

- Precisa de ajuda? - me assusto ao ouvir sua voz tão perto.

- Ai, Arizona. Que susto! Você não estava na sala agora mesmo? - falo levando a mão ao peito. Ela ri da minha situação.

- Desculpa, eu não quis assustar você. - Ela fala indo sentar à mesa.

- Tudo bem. É que eu... eu estava distraída... - "pensando em você", quis dizer.

- Percebi. O que está fazendo aí?

- Macarrão ao molho branco. - digo, lembrando que ela adora.

- Sério? Faz tanto tempo que não como. - ela diz empolgada.

- Eu imagino. Aposto que você só come no hospital.

- Isso não é verdade! As vezes eu como em restaurantes. - ela diz rindo. Também senti falta da sua risada, mas não ouso dizer isso em voz alta. - Sério, Calliope. Você não precisava ter cancelado com seus amigos por minha causa. Eu estou bem.

- Eu sei que você está bem. Mas você ainda não tinha visto a Sofia. E, você ainda não descansou o suficiente, então, nem adianta tentar me convencer, não vou deixar você sozinha esta noite. - digo com firmeza para que ela veja que estou falando sério. - Se não for incomodar você, eu vou dormir no quarto da Sofia. - viro de frente para e sorrio. - Me deixa cuidar de você, só hoje?

Ela me lança um olhar que não sei exatamente o que significa. Por um momento eu acho que ela vai insistir para que eu vá embora, mas depois de um tempo em silêncio ela acaba cedendo.

- Certo. Você pode ficar. Mas a Sofia vai dormir comigo. Ainda não terminei de matar a saudade da minha baixinha. - sinto o meu coração aquecer com aquele sorriso meigo que ela deixa escapar quando fala de Sofia. Sorrio de volta para ela e anuncio:

- O jantar está pronto.

- Oba! Vou chamar a Sofia...

* * *

Foi um jantar tão leve e descontraído que, por um momento, quase esqueci que já não éramos mais uma família e que eu não tinha uma bomba relógio na minha cabeça.

Sofia estava feliz contando para Arizona sobre todas as coisas que tinha visto e aprendido em Nova York. Vez ou outra ela falava algo sobre Penny, mas Arizona parecia não se importar.

Elas estavam se divertindo muito juntas, e eu passava a maior parte do tempo só observando as duas e, mesmo com tudo o que estava acontecendo naquele momento eu me senti feliz por estar ali. E senti que valia a pena lutar pela minha vida e para ter a minha família unida outra vez. Mas teria que ir devagar. Um passo de cada vez.

Arizona foi levar Sofia para escovar os dentes antes de dormir e eu fiquei lavando os pratos do jantar. Estou cansada. Fecho os olhos por um momento e massageio a parte de trás do meu pescoço que está bastante tensa. De repente, sinto uma presença atrás de mim.

- Posso te ajudar com isso? - Abro os olhos devagar quando sinto suas mãos massageando os meus ombros e pescoço trazendo um pouco de alívio aos meus músculos.

- Ah, isso é bom! - solto um suspiro. Inacreditável como o meu corpo ainda reage quase que imediatamente ao toque delicado das mãos de Arizona. Tento não deixar que ela perceba as sensações que causa em mim.

- Você está mesmo muito tensa. - ela fala continuando a massagem.

- E Sofia? - Tento mudar o rumo dos meus pensamentos.

- Já dormiu, acredita? - ela ri. - Acho que ela estava mais cansada que eu. - Lembro do susto que ela nos deu hoje e fico séria.

- Arizona, você não pode mais fazer o que fez hoje. Você precisa dormir. O seu corpo desligou de tão cansada que você estava. Isso é sério! - falo sem pausa para respirar demonstrando toda a minha preocupação.

- Ei, calma! Eu já estou bem. - Ela para a massagem e me faz virar de frente para ela. - Você ficou mesmo tão preocupada assim? - a pergunta me pega desprevenida e não consigo segurar as lágrimas. Toda a tensão dos últimos dias têm me deixado muito emotiva. Ou seria a doença?

- Sim, Arizona! Eu realmente fiquei muito preocupada. - Omito que foi por causa de desmaios como o dela que eu resolvi fazer o check-up que mudou a minha vida.

Ela ergue a mão e toca o meu rosto enxugando as minhas lágrimas. Fecho os olhos por um segundo sentindo aquele carinho, mas logo me afasto.

- Calliope, eu sei que algo está acontecendo com você. - estremeço ao ouvir essas palavras e a encaro pedindo aos céus que Amélia ou Miranda não tenham contado nada a ela. - Eu sei... - ela continua e meu coração para por segundo - eu sinto que você está passando por problemas e não quer me contar. - solto a respiração quando percebo que ela não sabe de nada, só está supondo.

- Arizona...

- Não, Calliope. Não precisa dizer nada. Não precisa me contar se não quiser, apenas lembre-se que você não consegue mentir para mim. Então, seja lá o que você estiver passando, eu estou aqui por você, assim como você esteve aqui por mim hoje. - ela se aproxima e me beija no rosto. - Boa noite, Calliope.

Fico ali parada no meio cozinha vendo Arizona ir para o seu quarto e ainda sentindo a sensação dos seus lábios tocando a minha pele.

Não tem como negar... Eu ainda amo demais essa mulher.

Desperto do meu transe e lembro da pesquisa que Amélia me deu para ler. Vou até a sala onde está a minha bolsa e pego a pasta contendo a pesquisa e os resultados dos meus exames e uma caneta e vou para o quarto de Sofia.

Eu Fui Feita Para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora