Capítulo 5

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Callie

Eu estava feliz por estar de volta a Seattle, por estar de volta ao hospital que eu amo e por rever meus amigos, mas, principalmente, por reencontrar Arizona. O dia havia bastante corrido mas, todo o cansaço pareceu desaparecer do meu corpo quando, finalmente, tive a oportunidade de conversar com ela.

Porém, alguma coisa mudou quando ela recebeu um chamado...

Hanna havia sido a primeira paciente que eu atendi no primeiro dia do meu retorno ao Grey Sloan Memorial Hospital. Olhando para ela ali naquela mesa no centro cirúrgico, não consegui parar de pensar no medo que ela deve ter sentido. Será que ela se sentiu sozinha? E como vai ser quando chegar a minha hora? Pela primeira vez, senti um medo incontrolável tomar conta do meu corpo.

Quando senti a mão de Arizona no meu ombro, percebi que estava chorando e que todos na sala me encaravam, me afastei e saí imediatamente dali dando de cara com Bailey que saía da sala ao lado naquele exato momento.

Ela não precisou de muito para entender que eu precisava me esconder e me guiou até sua sala, fechando a porta atrás de si. Pediu que eu me acomodasse no sofá, sentou na mesinha de centro de frente para mim e deixou que eu chorasse. Era a primeira vez, desde que descobri que tinha um tumor inoperável no cérebro, que me permito desabar.

Até então, havia apenas derramado algumas lágrimas. Estava sempre me segurando, tentando me manter forte, eu não podia me dar ao luxo fraquejar agora. Afinal, eu tinha muita coisa para fazer antes que tudo terminasse.

Precisava deixar tudo encaminhado para que Sofia tivesse um futuro garantido, apesar de saber que Arizona cuidaria muito bem dela. Mas, eu queria garantir que ela sofresse o mínimo possível, afinal ela já havia perdido o pai.

Mark.

Ah, como eu queria que ele estivesse aqui. Ele era o meu melhor amigo e sempre sabia exatamente o que dizer para me fazer sentir melhor.

Quando eu já estava mais calma, Bailey segurou minhas duas mãos apertou tentando me passar confiança.

– Então... Quer me contar o que aconteceu? – ela pergunta com ternura. Tento respirar fundo antes de começar a falar.

– Perdemos uma paciente... Uma garotinha de onze anos de idade – mais algumas lágrimas caem dos meus olhos. – Ela teve morte cerebral, era uma criança, mal tinha começado a vida, tinha tanta coisa para fazer, tanto para aprender... – Faço força para continuar. – Normalmente não me deixo abalar assim, mas hoje... Acho que hoje, finalmente, a minha fixa caiu, e eu... eu só consigo pensar na infinidade de coisas que não vou poder ver a Sofia fazer... – volto a chorar e Bailey me puxa para um abraço.

– Callie, eu sei que você está com medo – ela fala me soltando do abraço e segurando meus ombros para eu que olhe para ela. – Sei que está preocupada em deixar tudo preparado para as pessoas que você ama tenham o máximo de conforto possível depois que você... – a voz dela vacila – quando tudo terminar. Mas, entenda que nada do você fizer será suficiente. Então, por favor, se você quer dar algum conforto à Sofia, à sua família, deixe que eles saibam que você lutou, que você fez tudo que estava ao seu alcance para estar ao lado deles. Não desista ainda. Deixe-me chamar a Dra. Shepherd, ouça o que ela tem a dizer. Dê a si mesma mais uma chance. – ela volta a segurar as minhas mãos. – Lembre-se que você não está sozinha. Esse hospital está cheio de gente que te adora. – ela me lança um sorriso doce.

Penso um pouco nas suas palavras e, por fim, concordo em ouvir uma terceira opinião.

– Certo! Pode chamar a Shepherd – ela sorri, aperta a minha mão mais uma vez e corre para o telefone.

* * *

Arizona

A reação de Callie me deixa preocupada. Nunca havia visto ela desse jeito. Queria ir atrás dela mas precisava ajudar Amélia e terminar de fechar a menina.

Depois de dar a notícia aos pais de Hanna, que ficaram extremamente abalados, Amélia e eu estamos caminhando lado a lado pelo corredor indo em direção à sala dos atendentes.

– O que vai fazer agora? – Amélia quebra o silêncio.

– Vou para casa. Meu plantão acabou há algumas horas. Preciso dormir. – passo a mão na cabeça sentindo-a latejar. – E você?

– Vou procurar o Owen e depois vou para casa... – antes que ela termine de falar seu celular toca e ela lê a mensagem. – Ou... eu vou para uma reunião de última hora com a Chefe – ela faz uma cara irônica, o que me faz rir.

– Boa sorte! – digo, vendo-a correr para o elevador.

– Bom descanso. – Ela responde sem olhar para trás.

* * *

Chego em casa pouco depois das onze da noite, largo minha bolsa e o casaco sobre o sofá e vou direto tomar um banho numa tentativa falha de relaxar. Após sair do banho, visto uma roupa bem confortável e vou para a cozinha preparar um lanche.

Vendo que estou totalmente sem sono, decido ir ao antigo quarto de Sofia. Eu quase não havia mexido em nada depois que ela foi embora, mas precisava de uma limpeza. Eu poderia pagar alguém para limpar, mas, sabendo que eu não conseguiria dormir aquela noite pensando no que poderia estar acontecendo com Callie, resolvi aproveitar para fazer isso eu mesma.

Esse pensamento também me fez lembrar que eu precisava contar para Eliza que Callie estava de volta e que Sofia voltaria a morar comigo.

"Nossa", pensei, "quando eu acordei de manhã não pensei que o dia poderia ser tão agitado..."

Quando o despertador tocou eu nem ao menos havia me deitado ainda. Estava agitada demais para dormir, então acabei limpando não só o quarto de Sofia, mas a casa toda. Eu estava exausta e nem um pouco animada para ir trabalhar. Pensei, por um momento em não ir, mas lembrei de todas aquelas crianças que precisavam de meus cuidados.

Então, tomei um banho gelado, fiz um café bem forte, enchi o meu copo térmico com a bebida quente, peguei minha bolsa e o casaco e saí de casa ainda com a reação de Callie martelando na minha cabeça.

No estacionamento do hospital, antes de sair do carro, pego o celular e ligo para Eliza.

Alô! – ela atende com voz de sono.

– Bom dia! Ainda na cama? Você não trabalha mais não? – Tento parecer descontraída.

Bom dia! Eu trabalho sim, senhora. Mas, por acaso, hoje estou de folga. – ela fala com voz manhosa.

– Que maravilha! – digo sem empolgação, esperando que não perceba. – Quer vir almoçar comigo? Precisamos conversar...

Claro! Mas, aconteceu alguma coisa? – a voz dela sai mais alto agora.

– Sim. Mas não é nada grave. Só... precisamos conversar... – repito.

Ahn... Tá bom, então. Te espero às 13h no restaurante do hospital, pode ser. – percebo que ela ficou tensa.

– Perfeito! Até mais tarde. – desligo sem esperar pela resposta e percebo uma confusão de sentimentos dentro de mim. Não sei determinar exatamente o que estou sentindo. Saio do carro e decido não pensar em nada no momento.

Eu Fui Feita Para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora