Eu Fui Feita Para Você

Capítulo 26

Callie

Como cirurgiã, eu sei muito bem que, quando surge uma emergência, é nosso dever largar tudo o que estamos fazendo e sair correndo, porque naquele momento, a vida de alguém depende do quão rápido podemos chegar ao hospital. E era exatamente isso que Arizona havia feito ao receber a mensagem de Maggie. Me senti um ser humano horrível e uma médica pior ainda por não querer que Arizona atendesse àquele chamado. Quis muito pedir que ela ficasse e aproveitasse mais daquele momento tão lindo comigo e com Sofia escolhendo o doador que nos possibilitaria ter o nosso bebê. Mas eu não podia. Não quando havia um outro bebê precisando dela para sobreviver. Então deixei que ela fosse e voltei a sentar no chão da sala, ao lado de Sofia, para escolhermos os três melhores candidatos, como Arizona havia sugerido.
Eu havia começado a fase mais agressiva do tratamento e, de acordo com o que Amélia havia explicado, as semanas seguintes seriam ainda mais difíceis. Os efeitos colaterais também seriam intensificados.

- Nesta etapa, você vai precisar ser ainda mais forte, Callie. Os sangramentos e as vertigens irão aumentar, em algumas das vezes podem ocorrer desmaios. É nessa fase também que o seu cabelo vai começar a cair, além dos enjôos e perda de apetite. Eu recomendo que você evite dirigir, andar sozinha e cirurgias muito complicadas. - Amélia havia me dito durante a última consulta.

Arizona utilizou toda a sua experiência com crianças para explicar para Sofia o que estava acontecendo comigo. Ela confeccionou, à mão, um mini-livro bem colorido, com desenhos, recortes de livros e revistas e imagens tiradas da internet e criou uma história ilustrada, contando de maneira simples e resumida, numa linguagem acessível à idade de Sofia, para que ela pudesse entender e ficar o menos assustada possível quando esses efeitos se tornassem mais frequentes e agressivos. Arizona era realmente uma mulher incrível.

Depois que fizemos um "top 3" com os doadores de esperma, levei Sofia para dormir comigo. Arizona, provavelmente, iria ficar direto no hospital.

Na manhã seguinte, assim que cheguei ao hospital, fui à sua procura, mas não a encontrei em lugar algum. Também não atendia ao telefone ou respondia às minhas mensagens. Achei estranho, mas já estava atrasada para visitar os meus pacientes. No meio da manhã encontrei com Karev durante a visita a uma paciente na ala pediátrica.

- Ei, Karev! Você viu a Arizona? Estou procurando por ela desde que cheguei no hospital e não a encontro em lugar algum... - pergunto quando saímos do quarto da paciente.

- Você não soube? - ele faz uma cara estranha.

- Soube de quê? O que aconteceu? - interrogo, já ficando nervosa.

- A paciente que ela e Pierce estavam tratando morreu ontem à noite. Elas tiveram que tirar o bebê e operá-lo às pressas, quase o perderam também. - ele explica.

- Oh, céus! Você está falando da esposa de Lauren Boswell? - ele acena, confirmando. Naquele momento senti o chão sumir debaixo dos meus pés. Eu havia feito tantas piadas com a situação e a agora aquela mulher estava morta. Mais uma vez, me senti um ser humano horrível. Uma tontura me atingiu de leve.

- Callie? Você está bem? - Karev põe a mão no meu ombro e vejo que ele está preocupado.

- Eu estou bem. Só preciso achar Arizona. Você sabe onde ela está? - pergunto tentando parecer normal.

- Já procurou na UTI neonatal? Ela passou a madrugada toda lá monitorando o bebê. Quer que eu te acompanhe? Você não me parece nada bem... - ele insiste.

- Eu estou bem, Karev. Obrigada! - lanço-lhe um sorriso e me afasto. Assim que tenho certeza de que Karev não pode me ver, me encosto na parede e fecho os olhos ficando ali por uns cinco minutos, até que a tontura passasse. Eu não podia passar mal agora. Arizona precisava de mim.