Eu Fui Feita Para Você

Capítulo 33

Arizona

A primeira coisa que me passou pela cabeça quando a assistente social entregou Vitória  foi que Callie estava usando aquela garotinha para tentar se reaproximar. Mas, como se adivinhasse os meus pensamentos, ela foi logo tratando de se justificar.  Apesar de estar magoada, eu conhecia Callie e sabia que ela estava sendo sincera em suas palavras. Sua atitude me comoveu, mas não o suficiente para perdoá-la e ela havia deixado claro que entendia isso, o que facilitaria muito a nossa convivência.

Eu estava tão feliz por ter Vitória de novo em meus braços que não queria largá-la um só minuto. Sofia também estava radiante com tantas novidades: Sua mãe Callie de volta, casa nova, uma irmãzinha e sua mãe Arizona esperando outro irmãozinho ou irmãzinha. Sua felicidade é contagiante. Ela mal tomou o seu café da manhã e agora estava sentada na minha cama me observando trocar a fralda da Vitória.

- Mamãe, quando você vai me ensinar a trocar a fralda dela? - Ela pergunta enquanto segura umas mãozinhas agitadas da menina.

- Quando você não estiver atrasada para a escola. Já arrumou sua mochila? - rio da cara emburrada que ela faz.

- Não é justo! Você e Vitória vão ficar em casa no nosso primeiro dia na casa nova, porque eu não posso ficar também? - era incrível a semelhança de Sofia com Callie, até o jeito manhoso era igual.

- Porque eu tenho muitas coisas para organizar e você precisa ir para a escola. Anda mocinha! Vá terminar de se arrumar. - digo com voz firme e ela desce da cama com um pulo e sai pisando duro. Instantes depois, Callie aparece na porta do meu quarto.

- Estou saindo com Sofia. Ela disse que você não vai para o hospital hoje. Está tudo bem? - como sempre, desde que voltou, Callie está tensa ao me dirigir a palavra.

- Sim. São só aquelas dores de novo. Mas, acredito que seja pela agitação dos últimos dias, a mudança e tantas coisas para organizar. Deve ser o cansaço, então vou ficar aqui e repousar um pouco. Aproveito para paparicar um pouco mais a Vitória. - respondo educadamente, porém sem olhar para ela.

- Tem certeza que não quer voltar na obstetra? - Percebo a preocupação em sua voz.

- Estou bem, Callie. Não se preocupe. - digo com um pouco de impaciência.

- Então, tá. - ela percebe e dá uma risadinha nervosa. - Se precisar de qualquer coisa é só me ligar. - balanço a cabeça em sinal positivo sem tirar a minha atenção de Vitória. Callie fica parada ali por mais um tempo, como se quisesse falar algo, mas logo desiste e sai do quarto.

Às vezes eu me sentia mal por tratá-la tão friamente, mas eu não conseguia evitar. Callie havia dito coisas que eu não conseguia esquecer, por mais que eu quisesse. Tentei muitas vezes me convencer de que, naquele momento, ela havia acabado de acordar de uma cirurgia no cérebro e ainda estava muito confusa quando falou tudo aquilo, mas não conseguia me livrar do pensamento de que, no fundo, talvez Callie realmente pensasse aquilo sobre mim.

* * *

Mais dias se passaram e Callie estava cumprindo a promessa de se manter distante. No entanto, ela nunca deixava de cuidar de mim, de Sofia e, surpreendentemente, de Vitória. Eu havia sido obrigada a admitir que estava enganada ao pensar que Callie não aceitaria Vitória por ser filha de biológica de Lauren. Ao contrário disso, Callie cuidava dela como se fosse verdadeiramente sua e, talvez por causa dos hormônios em excesso, eu sempre me emocionava quando a observava colocar Vitória para dormir, ou alimentá-la, ou ainda quando a fazia sorrir e aquela gargalhada contagiante de bebê invadia a casa misturada com a sua. Tudo isso me fazia lembrar de quando Sofia ainda era bebê e nós éramos uma família feliz e a dor da saudade apertava o meu coração.