Capítulo 4 - Encaixe

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Depois de um almoço quase em paz, fomos juntos para a maquiagem, onde acompanhei a preparação dos atores para as cenas da tarde. Josué me contou, meio rindo, que Bela se recusava a sair do trailer mesmo depois do banho. Ficou abaladíssima após nossa interação de mais cedo.

_ Droga, queria dar a noticia de uma maneira fofa... -reclamei

_ Não foi fofa, mas foi inesquecível. A cara dela vai me fazer rir para sempre.

_ Não posso fazer nada. Dessa vez, ela estava usando figurino, nem devo roupa nova a ela. - respondi, dando de ombros.

_ Sabe que vou ter que concordar? Aliás, ela não tinha nada que fazer lá. Todo mundo sabe que aquele é o espaço de vocês dois. E que além do casal mais fofo da produção, só eu tenho acesso àquele espaço.

_ Claro. Pra dizer a verdade, estou meio de saco cheio dela. Sempre cheia de drama, pedindo conselhos e a ajuda do Jay toda hora. Acho que agora ela desiste. Se precisar, vomito nela de novo.

_ Eu não duvido disso. Agora me conta, como ele reagiu?

_ Ficou feliz, deu bronca por causa do cheetos, tudo dentro do script. O Bofinho vai vir para somar.

_ Pobre criança. Nem veio ao mundo e já tem um apelido ridículo.

_ E já é muito amado, ele supera.

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Depois de uma infinidade de tomadas em que Jay e Angie combatiam monstros imaginários no prédio da LBV, dezenas de figurantes se explodindo no estacionamento e centenas de curiosos assediando os atores, fomos para casa já no fim da noite. Cansados e ansiosos pelos próximos dois dias, que seriam os últimos de gravação. Assim que entramos, a luz azulada na sala de TV me fez lembrar de outra questão com que precisaríamos lidar.

_ Oi, meninos. - cumprimentei já recolhendo uma tigela vazia de pipoca - Como foi o dia de vocês?

_ Tedioso. - Victor respondeu sem tirar os olhos do celular.

_ Normal. - Pedro continuava encarando a TV, onde zumbis atacavam um grupo de pessoas e eram recebidos com muitos tiros e golpes de Katana, o que resultava numa quantidade improvável de sangue na tela. Pensei se devia deixá-los continuar assistindo àquilo. - Tudo bem, mãe?

_ Tudo bem, filho. Pode pausar aí para a gente conversar? Você também, Victor. - obedeceram e olharam para mim. - Sei que sentem a falta do pai de vocês, especialmente você, Pedro. Mas não é culpa minha e nem de ninguém, além dele mesmo, o fato dele estar longe. Não vai adiantar nada descontar a frustração em mim, no Jay ou no irmãozinho que vem aí. Nossa família é o que é. Posso contar com vocês?

_ Pode, mãe. - Victor respondeu me abraçando e voltando ao video.

_ Mãe, posso te fazer uma pergunta?

_ Claro.

_ E quando o bebê nascer? Ele vai ser filho seu e do Jay, o Victor e eu somos só seus, todo mundo vai querer ele e nem vai mais ligar para a gente. Meu pai ainda nos quer.

Parei por longos segundos tentando processar o que ele disse. De onde aquilo tinha vindo? Em algum momento eu havia feito meu filho não se sentir parte fundamental na nossa família? Quis abraçá-lo e garantir que nada mudaria, que eles continuariam sendo tão amados quanto sempre foram e que seriam promovidos a irmãos mais velhos. No lugar disso, respondi:

_ Pouco me importa o que o seu pai quer. Nossa família fica junta como sempre esteve. E ele só está colhendo o que plantou. Jay cuida de vocês muito mais do que ele jamais fez.

Mais que perfeito vol.2 - Perfeição Em XequeOnde histórias criam vida. Descubra agora