Mal troquei de roupa e ele chegou. Ainda tentei mudar o acordo e encontrá-lo no restaurante, mas ele lançou a carta da poluição e insistiu que não haveria necessidade de dois carros sujando o ar. Além disso, o restaurante ficava a poucas quadras da minha casa. Cumprimentei-o com um aperto de mão e partimos.
A steak house tinha aquele cheiro incrível de assado recém preparado e barulho de talheres e muita gente falando. Era quase como estar no Brasil.
— Nem perguntei se você curte esse tipo de restaurante. Deve estar acostumada a esses contemporâneos frequentados pelos famosos.
— Até gosto dos contemporâneos, mas não dispenso um bom grelhado. Já tinha vindo aqui com Jay e as crianças.
— Que bom. Vocês parecem ter uma relação muito civilizada para um casal recém separado. - pigarreei.
— Não vejo motivos para ser diferente. E nem para falarmos disso. Estamos aqui para conversar sobre a ONG e a entrevista.
— Desculpa. Eu não quis ser indiscreto. É que te acho interessante, é difícil não querer saber mais.
— Certo. Conta sobre essa blogueira, como ela te contatou, o que pretende mostrar a ela...
— Ela nos encontrou pelo insta da ONG. É uma influencer que passa do milhão de seguidores. Muita gente famosa segue e reposta, pode ser uma grande oportunidade, a melhor até agora. Talvez maior que a cobertura da TV, marcada para o dia do evento.
— Ela convidou outros professores?
— Não. Você tem o que interessa a ela, além de ser o assunto mais interessante. Ninguém liga muito para quem ensina marcenaria. - franzi involuntariamente a testa.
— Acho que todos fazemos diferença do trabalho. Mas, não se preocupe, sei bem o que interessa em mim. Vou falar do trabalho como o público gosta, inclusive as perguntas pessoais, desde que eu as aprove antes. Tudo pelo bem das crianças, não é mesmo?
— Essa é a ideia da coisa toda. Acha que pode falar que temos grandes talentos em potencial na turma? - pensei em Ana, mas deixei morrer antes de chegar à boca.
— Acho que isso seria forçar um pouco a barra. Mas vou pensar em algo a dizer. Então é isso? A ideia é dizer que temos gente talentosa que seria perdida sem o trabalho?
— Não deixa de ser verdade, não é? Muitos garotos se perdem na falta de oportunidade. Vemos essa verdade todo dia, tanto no Brasil quanto aqui.
— Por falar em Brasil, conta como foi vir de lá, como veio parar na "terra da liberdade e lar dos bravos". - ele soltou um tipo de suspiro e tomou um longo gole na coca cola.
— Minha história não é muito diferente da maioria dos nossos alunos. Era muito jovem, vi a chance de melhorar de vida. Vim para cá com um amigo, que logo se envolveu com drogas e acabou morrendo. Fiquei sozinho e fui abrindo meu próprio caminho. Sobrevivi e não faria nada diferente.
— Como era no Brasil? Por que saiu de lá?
— Acho que nem lembro direito de como era lá. Lembro mais da sensação de desesperança. Aquela impressão de que nunca teria chance nenhuma de ser alguém. Aqui também não sou muita coisa, mas sou ninguém com conforto e ainda consigo ajudar quem acabou de chegar. Afinal, nem todo mundo chega aqui tendo contrato assinado com Hollywood e casando com estrela de cinema. - só eu percebi o recalque?
— Não conheço ninguém assim. Eu mesma, vim com a cara e a coragem, poucos dólares no bolso e dois meninos dependendo de mim para tudo. Levou um tempo para as coisas se acertarem. E mesmo que fosse, não existe uma história igual à outra. Não é justo comparar.
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Mais que perfeito vol.2 - Perfeição Em Xeque
RomanceDepois de descobrirem um amor mais forte que as intrigas de Hollywood e que a implicância de um ex-marido encaminhado dos infernos, Aurélia e Jay estão casados e muito felizes. A família continua cada vez mais forte e eles precisam descobrir juntos...