Terminava de abrir meu sanduíche à mesa do escritório quando o telefone tocou e ouvi Josué afobado do outro lado da linha.
— Preciso de você aqui, agora!
— Onde é aqui? O que você aprontou?
—Nada ainda. Estou em Koreatown e pensei num jeito de descobrirmos o que está acontecendo com a sua nova bestie.
— Você seguiu a Bela?
— Sim. Dá pra vir logo?
— Já saí da sala.
Nunca vi o trânsito de Los Angeles tão lento quanto naquele dia. Parece que todos os motoristas ruins saíram de casa no mesmo horário e todos os semáforos resolveram ficar vermelhos assim que meu carro se aproximava. Quando alcancei a localização, ele estava parado em frente a um estúdio de Yoga com uma sacola de tecido na mão.
—Corre, vai se trocar lá dentro. Te inscrevi para a aula dela. - ele me entregou a sacola com a roupa e a esteira.
— Mas ela vai me ver. Que perseguição é essa em que a perseguida sabe que a gente está na cola?
— Sim, ela vai te ver. Vai por mim, que eu sei o que estou fazendo.
Entrar na sala me fez lembrar do porquê de só me exercitar em casa. Ainda odeio o cheiro de incenso misturado a suor impregnado no piso de madeira. Sim, eu sou chata com cheiros. Bela estava umas três fileiras na minha frente, concentrada nas posturas. Não pude deixar de notar que eu, definitivamente, estava em melhor forma que ela. A aula estava quase na metade quando ela notou minha presença. Não dei qualquer demonstração de tê-la visto, mas logo em seguida ela saiu da sala em direção ao banheiro. Assim que ela entrou, um mulher loira muito alta passou pela porta. Os últimos 40 minutos de aula se arrastaram e ela não voltou nem para buscar a esteira enquanto eu estive lá.
Depois de alguns minutos fazendo cera, esperando qualquer sinal de Josué, desisti de esperar e entrei no carro, procurando um restaurante no mapa do celular. Quase atirei o aparelho longe quando a porta se abriu e uma loira de óculos escuros sentou-se no banco do passageiro. Josué tirou a peruca e me mandou sair.
— Você vai me explicar, né.
— Aham. - ele respondeu tirando uma echarpe de gosto duvidoso que não combinava nada com o tênis branco. — Pensei nisso de madrugada. Ela comentou um tempo atrás que fazia aula aqui. Liguei fingindo que era o assistente dela e que estaria perdido se tivesse marcado a aula errada, dei um horário qualquer e elas me avisaram que era o outro. É impressionante a quantidade de informações que as atendentes passam quando percebem um estagiário apavorado com a possibilidade de perder o emprego. Quando você chegou, já tinha comprado esses trecos. Me troquei e, assim que ela fugiu para o banheiro, fui atrás e me enfiei na cabine.
— Certo, Scooby Doo, prossiga porque acho que ainda não alcancei o propósito dessa operação toda.
— Eu sabia que quando ela te visse, iria desconfiar e ficar com medo. Ela foi ao banheiro avisar a alguém que você estava atrás dela. Eu precisava ter certeza que os dois realmente querem alguma coisa com você. Não sei o que ele disse a ela, mas ela desligou logo e ficou lá até a aula acabar. Só saiu quando te viu fora do prédio. Deve ter pensado que você estava esperando por ela quando ficou parada ali na porta.
— E o que você ouviu?
— Não só ouvi, querida. Gravei.
Na mesa da lanchonete, eu ouvia a voz rouca mais uma vez.
"Ela está aqui. Como assim, aqui onde? Na minha aula de yoga. Não, eu não sei por que ela está aqui. Acho que está me seguindo. - uma longa pausa - Não, eu não dei motivos para suspeitas. Não a vejo desde o aniversário dos pestinhas.- mais uma pausa - Eu sei, vou apressar isso, mas você tem que me ajudar. A gente se fala melhor mais tarde. Eu vou ficar fora de vista até ela ir embora. Dane-se se ela vai desconfiar, eu não sou obrigada a passar uma hora olhando pra cara dela. Um beijo."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mais que perfeito vol.2 - Perfeição Em Xeque
RomanceDepois de descobrirem um amor mais forte que as intrigas de Hollywood e que a implicância de um ex-marido encaminhado dos infernos, Aurélia e Jay estão casados e muito felizes. A família continua cada vez mais forte e eles precisam descobrir juntos...