Mais que perfeito vol.2 - Perfeição Em Xeque

Capítulo 28 - Barganha

— Que história é essa?

— Eu não dormi com o DD.

— Como é que é?

— Eu não dormi com o DD, nem com ninguém. – ele passou a mão no cabelo e parou na nuca. Olhava para mim como se eu fosse um bicho exótico — Aliás, é quase ofensivo o quanto todo mundo acreditou muito rápido que eu poderia ter feito aquilo.

— Você enlouqueceu.

— Pode até ser. Mas agora preciso me abrir com você ou vou explodir. – ele puxou a cadeira e sentou-se ao lado da cabeceira. — Há algumas semanas eu decidi fazer o que eu fiz, a coisa do acidente. Mas eu precisava ter certeza que os meninos iriam ficar bem. Meu maior medo era eles voltarem para o Rodrigo, então dei logo um jeito de tirá-lo da jogada. Ele precisava de dinheiro para recomeçar a vida e decidi atraí-lo com isso. Nas nossas conversas por e-mail, eu o levei a dizer de novo que abriria mão dos meninos por esse financiamento. Emprestei o dinheiro e alterei meu testamento, declarando que no caso da minha morte, eles deveriam ficar com o padrasto. Anexei os e-mails, que, mesmo sem valor legal, poderiam afetar a decisão do juiz, além disso, os meninos só têm acesso à herança depois dos 18 anos, ele não estaria interessado.Dificilmente eles voltariam ao Brasil. Mas tinha uma coisa: eu precisava ter certeza que Jay iria continuar sendo o mesmo com eles na minha ausência. Eu precisava ver que, mesmo me odiando, ele continuaria se comportando como pai deles. Só depois disso pude levar o plano adiante. A história com o DD foi um improviso quando Bela me disse aquelas coisas na festa. Eu não tinha o direito de mantê-lo comigo nem por mais um dia. Sabia que ele não iria embora logo se não estivesse com muita raiva de mim.

— E agora, senhoras e senhores, temos a fase da barganha mais bizarra de que a psicologia tem notícia. Você realmente acha que eles ficariam bem sem a mãe?

— É claro que eles sentiriam saudade. Mas, pensa bem, Josué. Eles já presenciaram tanta coisa... Melhor uma mãe morta que uma que só vai dar preocupação. Eu sabia que ia colapsar logo, não podia fazer todo mundo passar por aquilo de novo. Dessa vez não há algo para lutar a respeito, não dá para recuperar o que eu perdi, não vai passar. Eles se sentem responsáveis por mim e isso me destrói. Escolhi o acidente pra eles não saberem. Nunca.

— E pra isso você precisava fazer o amor da sua vida te odiar.

— Eu precisava ver a relação dele com as crianças sem qualquer sentimento em por mim. De quebra, ele não sofreria com a minha ausência.

— Primeiro que por mais bravo que ele esteja, sentimentos não se apagam assim, de uma hora para a outra. Além disso, Você pensou em mim? Nos seus pais?

— Claro que pensei. Deixei uma carta pra você, sei que seria para eles um filho melhor que eu. – ele deu um soco na parede que me assustou.

— Ah, sim. Jay é melhor pros seus filhos, eu sou melhor pros seus pais, morrer é melhor que viver. Quando vai entender que não pode controlar isso tudo? Eu quase sinto saudade de quando você evitava tomar decisões. Pensei que tivesse superado essa bobagem. Você é importante, Aurélia. É amada e tem muita gente que precisa de você. Não vou te chamar de egoísta, porque isso está bem claro que você não é. Mas eu não sei mais o que fazer para você entender que é importante. Não pelo seu papel, mas porque a gente ama você. Não a mãe dedicada, a escritora famosa, mulher de negócios, mas a Aurélia, só a Aurélia insubstituível, generosa, divertida, dramática e que, aparentemente, foi colocada na minha vida para me ensinar a arte da paciência. Se não consegue viver por si, faz isso por nós. - isso me arrancou lágrimas grossas

— É capaz de me perdoar? Por favor, eu preciso demais de você.

— Você é? Vou estar ao seu lado como sempre estive, mas eu daria uma surra em qualquer um que insinuasse que você não presta. Você não é exceção. Vamos passar por mais essa, juntos. Promete que vai tentar?