Epílogo

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4 anos depois

Antes que as primeiras luzes começassem a entrar pela janela, eu terminava de preparar a caneca de café e me sentava, digitando as primeiras palavras do livro novo. Desde que a minha capacidade de criar voltou, emendei uma história na outra e nem conseguia me sentir cansada, mesmo dormindo cada vez menos e trabalhando cada vez mais.

A caixa foi entregue em casa pouco depois das 8 da manhã. Apresar de produzir muito, não lançava nada inédito desde a biografia de DD. Por algum motivo, demorei um bocado para tornar públicas as minhas histórias depois daquele ano. Senti-me como uma iniciante quando abri a porta da cozinha e o funcionário uniformizado me entregou o volume pesado. Eram alguns dos exemplares especiais de Diana, a pequena guerreira. Quando Joseph arriscava os primeiros passos, a necessidade de contar aquela história foi mais forte que o medo de expor toda a loucura que foi aquele momento. Foi a minha primeira produção depois daquilo tudo. Ao final do trecho autobiográfico, o conto escrito em homenagem à minha pequena guerreira na noite em que desisti de viver. Revisitar tudo aquilo foi terapêutico e devastador. Meu retorno à arte seria lançado com a promessa de ser uma história inspiradora e visceral. Voltei à cozinha quando ouvi dois dos meus homens favoritos entrando em meio a gritinhos. Joseph vinha sendo carregado pelo pai, que segurava seus joelhos, de cabeça para baixo, já todo vermelho do esforço de tentar levantar, cachos balançando em direção ao chão. Como boa estraga-prazeres que sou, intervim.

— Vai machucar o bebê da mamãe, Jay.

— Eu não sou bebê! - ele me respondeu pulando do colo para a mesa e depois de volta ao chão.

—Claro que não, garotão. Não tem mais bebê nessa casa. Até Snow virou um gato gordo, velho e preguiçoso. - Jay concordou, piscando para mim. Era testosterona demais na nossa casa. —Chegou? - ele pegou um exemplar da caixa. Na capa, uma menina com asas de anjo e cabelos pretos, apontava uma flecha para o ar.

Ele tocou a imagem com a ponta dos dedos e me puxou para junto de si. É claro que eu estava emotiva e tentando disfarçar, ele me beijou, primeiro na testa, depois nos lábios, me encostando da pia num chamego e um beijo cada vez mais empolgado.

— Eca! Sério, você dois vão traumatizar o Joe. Coitado do meu irmãozinho. - Pedro entrava na cozinha reclamando com a voz grossa e o tamanho de adulto a que eu nunca me acostumaria.

  — Eca! - o caçula imitou se jogando nas costas do irmão. 

— Bom dia, filho. - disse, sem deixar o abraço de Jay.

—Bom dia. Vou buscar a Liz para a escola. Quer que eu deixe o Joe na dele?

— Quer ir com ele, Joe?

— Sim! - o caçula gritou, empolgado pela carona com o ídolo.

  — Vocês não comeram nada! - lembrei, irritantemente parecida com a minha própria mãe.

—  Café da manhã no McDonald's, dieta dos campeões! 

Victor só apareceu na porta acenando antes de ir e ficamos a sós.

— Temos os melhores garotos, não temos? - Jay comentou ao ouvir os carros saindo pela rua.

Ele sabia o quanto eu havia ficado tensa quando os dois tiraram as carteiras de motoristas logo depois de completarem 16 anos, mais ainda quando Pedro começou a namorar sério e Victor recebeu bolsas de estudos em 3 universidades antes mesmo de completar o High School. Cada vez que saíam pela porta eu me lembrava que logo eles estariam longe para sempre e meu peito apertava. Ele também sabia disso.

— Acha que vamos ficar bem sem eles?

—Vamos ficar como sempre fomos, nosso caos não muda. Sabe o que mais não muda? Nascemos para formar essa família. Com as nossas crises, a implicância do Pedro, a bagunça do Joe, as manias do Victor, os seus pitis e a minha lerdeza. A Diana não está aqui,mas sempre vai ser amada por nós. E a gente sempre vai se amar, Aurélia, não apesar de sermos imperfeitos, mas justamente por isso. Até o fim do mundo.

Abracei-o de novo, agora afagando a barba e me afundando no peito dele. Tudo estava no lugar e nada poderia mudar isso.

Mais que perfeito vol.2 - Perfeição Em XequeOnde histórias criam vida. Descubra agora