Capítulo 36 - Mãos à obra

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A equipe de divulgação viajou no dia seguinte à nossa conversa. Por algum milagre, nada saiu na imprensa sobre a agressão a DD, mesmo assim, fiz questão de conversar com ele. Josué me acompanhou à mansão, onde fui recebida com cara de pouquíssimos amigos. O vocalista não tinha nada do jeito divertido e irônico dos nossos últimos encontros. parecia formal e uns 10 anos mais velho.

— Temos a primeira versão da capa. Ela normalmente não fica pronta antes do livro, mas ficou tão boa que quisemos mostrar. - por que eu insisto em começar com um assunto nada a ver? Não sei e nem funciona.

— Não podiam me mandar um e-mail com isso? Só aceitei o encontro porque Josué disse que era importante.

— É importante. - meu amigo respondeu com alguma impaciência.

— Eu vim me desculpar pelo que aconteceu. -respondi antes que o clima ficasse pesado.

— Você diz o garoto ter me atacado? Ele teve sorte que não me deixaram reagir.

— Quero me desculpar por ter te envolvido nisso tudo. Não imaginei que aconteceria algo assim.

— Explique melhor.

— Certo... - indiquei o sofá e ele se sentou sem tirar os olhos de mim. - Para começarmos, tenho que te contar que Jay e eu estamos passando por uma fase complicada desde o final do ano passado.

— Imagino. Eu sei o que aconteceu.

— Pois é, todo mundo sabe. O que as pessoas não sabem é que... digamos que Jay e eu encaramos tudo o que aconteceu de maneiras bem diferentes e isso complicou o nosso relacionamento.

— Com todo o respeito, Aurélia, eu não ligo para a sua vida amorosa. Quero saber o que eu tenho com isso.

— Por tudo o que aconteceu, era melhor para todo mundo que ele fosse embora. Por uns motivos difíceis de explicar, inventei que tinha tido um caso, ele insistiu em saber um nome e eu disse o seu. Foi o primeiro que apareceu na minha cabeça. Não me pergunte o porquê.

— Olha, eu sempre tive fama de porra louca, mas você é doida de pedra! Melhor ir embora antes que você resolva inventar que estamos casados. Aliás, sabe o que é a maior ironia? É que se você não fosse tão obviamente apaixonada pelo seu marido eu teria tentado alguma coisa. Você é gostosa e sempre tive uma queda por garotas malucas.

— Vou ignorar esse comentário e te pedir uma coisa. Eu ficaria eternamente grata se não o processasse por isso. - ele riu debochado. — Prefiro que cobre de mim o que achar justo, mas não exponha o Jay.

— O que eu ganharia por isso? - ele passou a língua pelos lábios e me lançou uma piscadinha. Pela cara de Josué, ele estava prestes a levar outro soco. Limpei a garganta antes de responder

— Existe algo que eu possa fazer por você? - perguntei, me inclinando suavemente para trás.

— Pode ficar tranquila que assédio e chantagem sexual nunca fizeram parte do meu repertório. Não consigo pensar em nada que eu possa querer, mas fica me devendo um favor e a gente segue a parceria como se nada tivesse acontecido. Quero meu livro pronto no prazo e muito bem escrito. Por outro lado, é sempre bom ter um trunfo nesse jogo que é o show business.

Troquei um olhar com Josué, que assentiu relutante.

— Combinado. Esclarecendo que não farei nada ilegal, imoral ou que coloque alguém em risco.

— Está exigindo demais, garota.

— Não sou uma garota.

— Agiu como uma. Enfim, não pretendia fazer nada, mesmo. Esse soco foi o momento mais rock'n roll dos últimos anos. Uma porrada surpresa é algo cada vez mais raro nessa geração tão politicamente correta. Foi como estar nos anos 90 de novo. Mas que vai ter troco, isso vai.

Mais que perfeito vol.2 - Perfeição Em XequeOnde histórias criam vida. Descubra agora