Mais que perfeito vol.2 - Perfeição Em Xeque

Capítulo 24 - Tiro de misericórdia

A melhor parte de uma festa organizada pelo promoter mega caro indicado pelos amigos famosos, era chegar em casa. Depois da festa, sempre era a pior parte dos aniversários. Todo mundo cansado, os meninos brigando por algum motivo ridículo, toneladas de presentes no porta-malas. Dessa vez, os meninos dormiram no banco de trás e os presentes seriam levados no dia seguinte pela equipe. No caminho, experimentamos uma privacidade que não tínhamos há um tempo. Coloquei a cabeça no ombro dele e fomos assim, abraçados enquanto ele dirigia até estacionarmos e mandei os pré-adolescentes sonolentos para a cama. Acompanhei os dois para me certificar que os dentes seriam escovados e os pijamas vestidos. Quando entrei no nosso quarto, ele estava sem camisa, cabelo molhado, com um balde de gelo e cervejas na mesinha. 

— Será que essa bruxinha ainda tem energia para mais alguma brincadeira?

— Promete usar seus poderes mágicos sabiamente?

— Sempre. - ele respondeu tirando a minha capa e mordendo meu queixo, tocando a minha pele com a ponta dos dedos e fazendo o meu peito doer e a minha pele arrepiar.

Deitados com os cabelos molhados, nos braços um do outro, só o som das nossas respirações ofegantes quebravam o silêncio absoluto na penumbra do quarto. Suspirei antes de começar a falar, pesarosa por romper a paz perfeita daquele momento.

— Bela falou comigo na festa. - Ele me soltou e ficou apoiado na cabeceira. O momento de relaxamento acabava ali.

— Algum problema?

— Eu nem sabia que ela tinha sido convidada, mas não  é isso. Acho que ela andou bebendo, apesar de não servirmos álcool na festa, e ela me disse umas coisas que foram bem perturbadoras. - Eu mantinha a voz baixa e me esforçava para manter alguma serenidade. - Precisamos conversar.

— O que foi que ela te disse? Você sabe o quanto a Bela é sem noção.

— Sei. Mas também sei que muita coisa era verdade. 

— Do que você está falando, amor?

— Não tenho sido boa o suficiente com você. Acho que nunca fui.

— Que história é essa, Aurélia?

— Você está sofrendo e a culpa é minha. Ela me disse que você tem usado o colo dela para chorar. - ele ficou calado e engoliu em seco.

— Ela exagera. Fiquei mal um dia desses e ela estava no estúdio, acabei falando. Passamos algum tempo conversando, mas está tudo bem agora. Não passou disso.

— Você não está bem, vejo isso nos seus olhos e a culpa é toda minha. Eu estou impondo um sofrimento que você não deveria estar passando e nem merece. Você tem o seu jeito de lidar com isso, eu entendo. Entendo até se tiver passado disso.

— Do que você está falando, Aurélia? Você acha que eu tenho ou tive algum envolvimento com a Bela ou qualquer outra mulher? Ou que você me leva a passar por coisas que não deveria, como se eu não fizesse as escolhas sobre a minha própria vida? Que droga! Nós passamos por algo maior do que se pode imaginar, mas tudo vai ficar bem, desde que a gente fique junto e eu não vou a lugar nenhum. Eu sou leal a você, Aurélia. Nossa família é a coisa mais importante da minha vida.

O ar não entrava e o nó na garganta se convertia num embrulho forte na boca do estômago. Nada daquilo era justo.

— Jay, você devia estar vendo o mundo, não lidando com a adolescência de filhos que nem...

— Nem continua! Se está pensando em dizer que eles não são meus, é melhor parar e irmos dormir. Será que é tão impossível assim amar alguém que não nasceu de mim?