Cinco Sílabas.

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A.

Aquela foi a primeira noite em que ouvi a música: um piano em algum lugar, tocado com suavidade e doçura. Delicado epungente. Procurei pelo som em meus sonhos, tentei descobrir quem tocava, de onde vinha a melodia. Mas me perdia, e cada corredor interminável parecia igual. Eu sabia, de algum modo, que a música estava na casa, mas não conseguia chegar lá e, no sonho, me ajoelhava e chorava. 

Naquela noite, tive um sono inquieto, me contorcendo e me revirando, e a certa altura acordei assustada. Uma tristeza inesperada me tomou, mas não conseguia lembrar o que me deixava triste. Apenas algo sobre uma música e não encontrá-la, e em minha confusão eu rolei na cama e voltei a dormir.

Acordei às cinco e meia e entendi por que Callie queria que eu tivesse oito horas de sono durante a semana: dormir nos fins de semana era um luxo. Rolei da cama com um gemido.

Tomei um banho e estava vestida às seis e quinze, o que me deixava muito tempo para finalmente preparar minha rabanada especial. Uma luz brilhava por baixo da porta da academia. Callie já devia estar acordada e se exercitava. Perguntei-me se algumdia eu levantaria antes dela.

Bocejei enquanto cortava as bananas e batia os ovos. Eu adorava cozinhar. Adorava criar uma refeição que nutrisse e fosse saborosa. Se eu não gostasse tanto de livros, teria sido chef.

Eu estava salteando o pão quando Apollo apareceu.

- Oi, Apollo — cumprimentei. — O que está acontecendo?

Ele latiu baixo, bocejou e rolou de lado.

- Você também? — perguntei, soltando outro bocejo.

Pensei na noite anterior enquanto o molho de banana cozinhava. Ainda parecia surreal. Mas foi muito divertido. Todos tinham sido tão gentis. E Callie... Pensei especialmente em Callie, dançando com ela, subindo a seu quarto e me saboreando daquele jeito...

Quase deixei queimar o molho.

Às sete, servi seu café da manhã, colocando a torrada no prato e cobrindo tudo com o molho.

- Pegue um prato para você e sente-se — disse ela. Não havia nenhum vestígio da mulher gentil da noite anterior, mas eu sabia que estava ali, em algum lugar. Sentei-me com minha comida e tinha acabado de dar uma mordida quando ela voltou a falar.

- Tenho planos para você hoje, Arizona. Planos de prepará-la para meu prazer.

Planos de me preparar para seu prazer?

Mas o que seria?

Eu estava fazendo ioga. Estava correndo. Seguia o planoalimentar. O que mais ela esperava?

Mas nós não estávamos na minha mesa.

- Sim, mestra — eu disse, baixando os olhos para meu prato. Meu coração martelava.

Não estava mais com fome. Mexi um pouco do molho pelo prato com um pedaço do pão.

- Coma, Arizona. Não pode me servir de estômago vazio.

Eu não tinha tanta certeza se seria capaz de servir alguma coisa se meus nervos me fizessem vomitar em cima dela, mas guardei esta idéia para mim mesma. Comi um pedaço da rabanada. Podia muito bem estar mastigando papelão, pois não fazia amínima diferença.

Depois que terminei o suficiente de meu café da manhã para agradar a Callie, tirei a mesa e voltei à sala de jantar para me colocar ao lado dela.

- Você está com roupas demais — falou. — Vá para meu quarto e tire tudo.

Minha mente girava a caminho do quarto. O que mais fazer que já não havíamos tentado? Pensei, tentando me acalmar.

Fifty Shades Of CalzonaOnde histórias criam vida. Descubra agora