Um por cento.

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 C.

  Antes de falar com Ari, tentei ao máximo planejar a semana. Nós nos revezamos no preparo das refeições. Fora do fimde semana, ela não teria de me servir. Era minha submissa, sim, mas éramos iguais em todo sentido da palavra. Eu não permitira que ela me servisse durante a semana. Ari não pareceu se incomodar com a situação. Fez algumas perguntas, mas no geral parecia tranquila. 

Eu, porém, fiquei tensa o domingo todo. Dizer que a nevasca distorceu meus planos seria um tremendo eufemismo. Mantiveminha inquietação enterrada na esperança de escondê-la de Ari.

Eu não tinha como saber quanto tempo ficaríamos presas — estimava em uma semana.

Eu conseguiria passar por uma semana, disse a mim mesma.

Era uma casa grande e eu podia trabalhar de casa.

Mas tanto tempo com uma submissa — e com Ari em particular — me assustava.

Eu temia não conseguir esconder meus sentimentos por uma semana inteira.

Algo ia rachar.

Talvez eu.

Depois de mandar Ari subir para se vestir na tarde de domingo, fui à cozinha.

Pãezinhos feitos em casa e um bom ensopado de carne seriam bons. A ação repetitiva de sovar a massa ajudou a ocuparminha mente. Como tocar piano.

Ari entrou na cozinha às seis e meia da tarde. Vestia uma roupa simples, um suéter de gola rulê e jeans. Passei o fim desemana todo vendo seu corpo despido pela casa, mas ela não inspirava menos assombra vestida.

Olhei para ela e, em minha memória, lembrei-me dos lugares ocultos pelas roupas.

- Pronta para comer? — perguntei, puxando uma cadeira para ela.

- Sim. Obrigada. — Ela se sentou. — O cheiro está maravilhoso.

Na realidade, a cozinha cheirava a pão recém-assado, misturado com toques de alho, cebola e carne. Um acompanhamento perfeito para a neve que caía lá fora.

Baixei as luzes da cozinha e acendi as do exterior. A neve ainda caía e a iluminação lançava nela um lindo brilho. Ficamos sentadas em silêncio por algum tempo, simplesmente vendo a neve cair.

Faça, eu disse a mim mesma.

Apertei mais a colher e senti que o coração martelava.

Faça.

Dei um pigarro.

- Você cresceu em Nova York?

- New Jersey. Lexie e eu nos mudamos para cá depois do ensino médio. — Ela engoliu uma porção do ensopado. — Gosto da cidade. É sempre o mesmo lugar, mas está sempre mudando.

Recostei-me na cadeira e cruzei as pernas.

Está vendo?, disse a mim mesma. Você pode ter uma conversa normal.

- Gosto do jeito como você pensa — comentei.

- Já pensou em morar em outro lugar?

Refleti por um segundo.

- Não; antigamente eu pensava em voltar pro México, mas minhas coisas estão aqui: minha casa, minha empresa, minha família. Não quero ir embora. — Perguntei-me se ela um dia pensou em morar em outro lugar.

A idéia me deixou triste.

- E você?

- Não. Nem imagino morar em outro lugar.

Fifty Shades Of CalzonaOnde histórias criam vida. Descubra agora