Melodia de prazer.

3.3K 212 106
                                    

  A.

Naquela madrugada, saí furtivamente do meu quarto e caminhei pelo corredor até a escada. A luz dourada da meia-lua iluminava meu caminho, conferindo um brilho surreal a tudo. A porta do quarto de Callie estava fechada quando passei por ali. Ela nunca havia me dito que eu estava proibida de explorar a casa no meio da noite, mas não queria ser apanhada.

Desci a escada, silenciosa como um camundongo.

Entrei na biblioteca.

A minha biblioteca.

Andei até as prateleiras que guardavam a coleção de poesia de Callie. Meus dedos dançaram por uma lombada depois de outra.

Tem de estar aqui. Tem de estar. Por favor, que esteja aqui.

Meus dedos pararam. Obra reunida de John Boyle O'Reilly.

Com as mãos nervosas, tirei o livro da estante e me coloquei mais perto da janela. Abriu-se naturalmente a três quartos do final, bem na página que continha "Uma rosa branca".

Alguma coisa flutuou para o chão. Curvei-me para pegar: uma pétala de rosa de cor creme, com um leve rosado na ponta. Coloquei a pétala de rosa no livro e o devolvi à estante bem na hora em que passos ecoaram no corredor. Parecia que alguém vinha diretamente à biblioteca.

Flagrada.

Callie entrou na sala. Estava com seu robe habitual. Se ficou surpresa por me ver, não demonstrou.

Acendeu uma pequena luminária.

- Arizona — cumprimentou, como se fosse a coisa mais natural do mundo que eu estivesse na biblioteca às duas da manhã.

- Não conseguia dormir. — Lancei uma mecha para trás da orelha.

- E decidiu que a poesia lhe daria sono? — perguntou ela, notando onde eu estava parada. — Então, vamos fazer um jogo?

E recitou:

"Ela anda na beleza, como a noite.

De firmamentos sem nuvens e céus estrelados:

E o que há de melhor nas trevas e na luz.

Encontra-se em seu aspecto e nos olhos..."

Callie sorriu para mim.

- Dê o nome do poeta.

- Lord Byron. — cruzei os braços.

- Sua vez.

Então eu disse:

"Durmo contigo e acordo contigo,

Entretanto tu não estás ali;

Encho os braços com pensamentos de ti,

E aperto o ar comum."

A diversão se acendeu em seus olhos castanhos penetrantes.

- Eu devia saber que não podia sugerir um concurso com uma bibliotecária formada em inglês. Este não sei de quem é.

- John Clare. Ponto para mim.

Um sorriso malicioso iluminou seu rosto.

- Tente este — disse.

E prosseguiu:

"Que teu coração profético.

Não me anteveja nenhum mal;

O destino pode fazer a tua parte,

E teus temores se realizarão."

Bom, este era enigmático.

Fifty Shades Of CalzonaOnde histórias criam vida. Descubra agora