Capítulo 1

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  Rio de Janeiro, essa seria a nova cidade em que uma garota chamada Priscilla Pugliese e os seus pais iriam morar. Eles moravam em São Paulo. Mas o pai dela conseguiu um emprego melhor na cidade maravilhosa. Ele iria trabalhar como vendedor em uma das lojas de roupas mais visitadas da cidade, a "Smith Moda" do empresário Sérgio Smith.

Priscilla não estava muito feliz em morar em uma nova cidade. No entanto, tinha apenas dezessete anos e não podia morar sozinha. Então teria que aceitar. Embora por outro lado poderia ser até bom para ela. Em São Paulo, Priscilla não tinha muitos amigos. Talvez ela conseguisse pessoas que quisessem a sua amizade no novo colégio.

Na verdade, em São Paulo, ela tinha apenas uma amiga. Mas ela não quis mais falar com a Priscilla depois de saber do segredo dela. E como? Você deve estar se perguntando, não é? Ela viu o tumblr onde Priscilla postava coisas que nunca postaria em redes sociais que a família participava. Lá ela não se escondia.

Se Priscilla sentia falta da "amiga"? Perguntar isso para ela era a mesma coisa de perguntá-la se gostava de arroz. Não. Ela não sentia falta de uma pessoa que não aceitava do jeito que ela era. E pensava que se a pessoa é sua amiga de verdade, ela vai te entender e te apoiar no que for preciso.

Mas sabe de uma coisa? Priscilla estava cansada. Não queria mais se esconder. Já tinha decidido que iria contar o seu segredo aos seus pais. E podia se foder tudo! Ela já estava mais que fodida, porque pensava o seguinte: Ela se mudou para uma cidade que não conhecia e no meio do ano teria que entrar em um colégio com um bando de pessoas desconhecidas. Tá certo que lá em São Paulo o pessoal não gostava muito dela, mas ela conhecia cada um. Para o seu alívio era o seu último ano no Ensino Médio.

— Priscilla, o jantar está na mesa! — gritou Cássia de sua cozinha.

Já vou, mãe.

Priscilla tirou o fone do ouvido e foi direto para o seu lugar na mesa. Os seus pais já estavam sentados. Era domingo à noite. Eles haviam chegado na sexta-feira de manhã com a mudança. E foi bem complicado ajeitar as coisas. A casa em que moravam era maior. Mas com jeitinho deu para caber todas as coisas nessa nova moradia.

A sua mãe tinha preparado o macarrão favorito de Priscilla. Aliás, Cássia era uma cozinheira de primeira! Se participasse de algum programa de culinária, com certeza, se daria muito bem na competição.

Quando começaram a comer, o Augusto Pugliese olhou para a filha e perguntou:

— Filha, você está ansiosa para entrar novo colégio?

— Sim. Eu acho que vai ser legal. — disse Priscilla com uma cara desanimada. Ela não era boa em mentir.

— Filha, você sabe que não queríamos passar por isso. Você tinha amigos lá e... — disse a mãe.

— Mãe, eu não tinha muitos amigos. Era só a Bia que andava comigo. Os outros só me procuravam quando precisavam de favores.

Os seus pais ficaram calados. Ela não queria falar essas coisas. O problema é que só era a verdade. Ninguém a achava suficiente boa para se ter amizade. O jeito tímido dela não agradava nenhum deles.

Cássia colocou mais macarrão no prato dela e fez uma pergunta.

— Priscilla, eu notei que antes de virmos para cá já fazia uma semana que a Bia não ia mais lá em casa... O que aconteceu? Vocês duas brigaram?

— Sim. E é sobre isso que preciso falar com vocês... Não posso mais esconder.

— Pode nos dizer, filha. Nós vamos te ouvir. — disse o pai com uma voz amável.

Priscilla pensou: Será que ele vai continuar dizendo isso depois de eu revelar o meu segredo? Mas droga! Ela precisava contar! Não dava mais para ficar desse jeito.

— Pai, mãe... A verdade é que eu sou lésbica! — afirmou Priscilla com o coração a mil.

Os pais dela ficaram imóveis a olhando. Nessa hora ela pensou: Fodeu tudo! Eles vão me xingar e me expulsar de casa. Tô frita! Literalmente frita!

— O quê? Não pode ser, Priscilla. — disse a mãe com os olhos arregalados.

— Meu Deus! O que fiz para merecer isso? — perguntou o pai. — Aonde foi que eu errei?

Priscilla suspirou mais uma vez. Droga! Por que as coisas têm que ser assim tão difíceis?

— Pai, mãe... Eu sei que é difícil aceitar, mas não consigo ser de outra maneira. É mais forte que eu. Me perdoem, por favor!

Os pais ficaram a olhando outra vez. E a garota só queria sair dali e ir chorar no quarto.

Mas o que eles fizeram foi completamente diferente do que ela imaginava. Eles deram gargalhadas. E Priscilla ficou tipo "Oi? Que porra é essa que está acontecendo?"

— Pai, mãe... Isto é sério! Por que vocês dois estão rindo?

— Desculpe, minha filha. Mas eu e o seu pai já sabíamos que você é lésbica.

— Sim. Inclusive, nós achamos o seu box da série "The L Word". E que magnífico! Adorei! — completou o pai.

— Sem falar daquele DVD "Azul é a cor mais quente". Nossa... Que cenas eram aquelas...

— Oh, my god! — comentou ela, achando aquilo super estranho. Como assim? — Eu odeio vocês!

Os pais sorriram ao ver a reação dela. Mas Priscilla continuava perplexa com aquilo.

— Nós te amamos, Priscilla. — disse o pai — E queremos a sua felicidade independentemente se ela for com um carinha ou com uma mina. — Olhou para a esposa — Não é, querida?

— Com certeza! Nós queremos o seu bem, minha filha. O importante para nós é sua felicidade.

— Eu não acredito... Eu estou chocada. Esperei todos esses anos para poder contar e, agora que conto, vocês aceitam?

— Fique tranquila, meu anjo. Não precisa nos esconder nada. Nós estamos aqui para te apoiar. — disse o pai.

Ela nem estava tendo palavras para expressar o que eu estava sentindo. Só tinha que agradecer, apesar de achar tudo ainda estranho.

— É... Eu só tenho que agradecer. Obrigado por tudo! Vocês não existem!

Os pais ficaram bem felizes e a abraçaram. Sinceramente, alguém aí me belisca, porque tudo isso só pode ser um sonho, pensou Priscilla. 

  

NATIESE - Uma patricinha em minha vida Onde histórias criam vida. Descubra agora