Capítulo 3

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            De manhã, Priscilla acessou o seu tumblr pelo celular e postou o seguinte:

"Amanheceu. O dia está legal... Isso foi deprimente, né? Eu sei. Mas não achei outra palavra legal. Opa! Utilizei "legal" de novo. Então... O dia só não está mais legal porque não está chovendo. Amo chuva!" (P.P.)

Em seguida, ela continuou caminhando e ouvindo músicas até o novo colégio. Além de ser o meu primeiro dia neste lugar, também era o primeiro dia do pai dela no novo emprego. Ele estava muito ansioso. E um pouco dessa ansiedade a Priscilla tinha herdado.

Enquanto caminhava, ela estava pensando em como seria o seu primeiro dia de aula. Gostava de imaginar como as coisas seriam. E, sinceramente, não esperava nada muito glorioso como acontece nos filmes, até porque a vida é um soco no estômago de vez em quando. Às vezes, você está todo feliz, mas o seu sorriso acaba se desfazendo porque algo não aconteceu como você esperava. Poxa... Isso só faz lembrar que é bobagem ficar imaginando as coisas. Mas ela imaginava porque pensava que não iria acontecer nada de diferente. Já estava acostumada com o mesmo que acontecia. E sabe o que acontecia?

Muitos curiosos a viam passar pelo o corredor. Uns reparavam se ela estava com o sapato ou a roupa da moda. Outros observavam o seu corpo. E isso era nojento, pensava. Porque as pessoas não deveriam ser valorizadas pelo que elas são por fora, mas, sim, por dentro. É lá dentro que está o que você é de verdade. Por fora, você pode tentar ser qualquer coisa. Já por dentro, nada pode ser maquiado.

Quando se deparou com o novo colégio, tirou os fones do ouvido e os colocou no bolso da calça jeans assim também como o seu celular. E, como já foi dito, na medida em que ela ia andando, muitos a olhavam. Tomara que ninguém faça uma brincadeira idiota comigo por ser a nova aluna, pensava ela.

Entrou no corredor com a mochila apenas em um ombro e se dirigiu até a sala do terceiro ano. Quando entrou, tinha poucas pessoas, mesmo assim, ninguém se deu ao trabalho de cumprimentá-la. Nem ela o fez.

Falar o que também? É... Você deve estar pensando... Que antissocial! Pois é... Um dos meus defeitos, pensou Priscilla consigo mesma.

O alarme estava quase tocando. Nisso, apareceu um garoto de cabelos pretos encaracolados e sentou-se em sua frente. Depois de ter ajeitado o caderno na carteira, olhou para ela e a cumprimentou.

— Olá! Eu sou Ygor! Prazer!

— Prazer, Ygor. — pegou na mão dele — Eu sou Priscilla.

— Seja bem-vinda, Priscilla!

— Obrigado, Ygor.

Antes que ele pudesse falar mais alguma coisa, entrou duas meninas na sala. E eram duas patricinhas de primeira categoria. Nem olharam para a cara deles. Apesar de ter as achado bem frescas, Priscilla observou que uma delas era bem gata e cheia de curvas. Mas gata mesmo! Daquelas que você olha e diz: Nossa... Isso só pode ter saído de um comercial de TV.

— Quem são? — perguntou ela olhando para o Ygor.

— Ih... Se eu fosse você, nem iria querer saber. Elas são as maiores patricinhas do colégio. Não estão nem aí para ninguém. — disse ele com uma voz baixa. — A garota da cadeira da frente é a Natalie Smith e a outra é a Kelly.

— Natalie Smith... Por acaso, o pai dela é o Sérgio Smith?

— Sim. Por quê?

— O meu pai arranjou um emprego aqui no Rio. Ele vai trabalhar na loja do Sérgio Smith.

— Sério? A loja "Smith Moda" é maravilhosa! Só tem roupa de marca. E o Sérgio Smith é um amor com os clientes, sem falar que ele é muito gato!

— Hum... Desculpe perguntar, mas você é gay, Ygor?

— Sim. Mas... Isso é um problema para você?

— Não. De jeito nenhum. Aliás, contei que sou lésbica aos meus pais ontem.

— Jura? E aí? Como eles reagiram?

Antes de continuar com a conversa, a professora de Português entrou na sala com o seu salto alto. E que mulher maravilhosa, pensou Priscilla! Ela era alta, de cabelos castanhos bem curtos. Mesmo com ela ali, a garota ainda não conseguia tirar os seus olhos da patricinha Natalie Smith.

Na hora do intervalo, Priscilla e o Ygor foram para o pátio. Ele estava mesmo curioso em saber o que os pais dela tinham falado em relação ao seu segredo. Se bem que para eles não era mais um segredo. Até agora ela estava tentando entender porque as coisas estavam tão estranhas. Quem teria pais como os dela? Isso era surreal. Mas que bom que as coisas não estavam ruins em sua casa, pensou ela.

— E então, menina? Me conta tudo! Como os seus pais reagiram? Eles brigaram? Te xingaram? Te expulsaram de casa?

— Não. Não aconteceu nenhuma dessas coisas.

— Sério? Os seus pais reagiram bem?

— Sim. E te confesso que fiquei surpresa. Na verdade, eles já sabiam.

— Não! Como?

— Eles meio que pegaram os meus DVDs de filmes lésbicos para assistir.

Ygor deu uma risada.

— Ygor, não ria! Isso é constrangedor!

— Me desculpe! Mas é que foi muito engraçado. Como assim, cara?

— Eu também estou tentando acreditar nisso até agora! Mas me diga... Você também contou aos seus pais que é gay?

— Sim. Foi terrível. O meu pai me socou quando eu disse que era gay. Falou que eu iria me queimar no fogo do inferno se continuasse a dormir com homens. Então saí de casa... Já faz um ano que tudo aconteceu.

— Nossa... Que barra... E com quem você mora agora?

— Com o meu marido, o Vitor. E eu sou muito feliz com ele. É um cara que mudou minha vida de uma forma que nunca imaginei.

— Isso é maravilhoso, Ygor.

— Qualquer dia desses, eu quero que você vá lá em casa para almoçar conosco!

— Vou adorar! — disse ela, sorrindo.

Enquanto conversavam, Priscilla viu a Natalie Smith conversando com um rapaz de barba baixa e com a altura mais ou menos da dela.

— Quem é aquele cara com a patricinha, Ygor? — perguntou ela, curiosa.

— É o garoto mais lindo do colégio de acordo com a última lista, o Rodrigo Tardelli. Ele faz o segundo ano.

— Lista? Como assim?

— Todo começo do ano tem uma lista onde colocam quem é o mais lindo, quem é a mais popular, quem é o mais engraçado, quem é a mais beijoqueira...

— Hum... Que merda, hein? Essas listas não são legais.

— Sim. Mas creio que não farão mais listas porque essa última que teve foi parar na mão da diretora.

— Meu Deus! E aí?

— Todo mundo que estava participando se deu mal. Os pais vieram aqui e deu o maior bafafá, menina.

— Mas esse Rodrigo é namorado da Natalie?

— Muitos especulam que há algo entre eles, mas ainda não oficializaram nada.

— Hum...

— Posso saber por que a senhorita quer tanto saber sobre os dois?

— Nada demais.

— Sei... — sorriu. 

NATIESE - Uma patricinha em minha vida Onde histórias criam vida. Descubra agora