Reconciliação

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POV KAT

Tudo isso parecia um pesadelo. Evie tinha razão o tempo todo.

-Evie. -Digo só então caindo na real enquanto encarava meu reflexo no espelho do banheiro.

Ouço a porta do quarto se abrir e tento secar as minhas lágrimas que levavam consigo todo o meu rímel.

-Clarisse? -Chamo.

Silêncio.

Saio do banheiro lentamente a fim de ver quem estava ali. Vi sobre a pouca luz do quarto, uma silhueta parada. Era Evie.

Ela acende a luz.

-Eu só vim pegar... -Começa e para me encarando. -Você tá bem?

-Tô sim. Pode pegar. O que quer que... Enfim. -Concluo e volto para o banheiro, chorando em silêncio.

Não acredito que estraguei nossa amizade por conta dele.

-Não vai me contar? -Evie insiste aparecendo na porta do banheiro.

-Acho que você já sabe.

-Kat. -Diz e sua voz se transforma num lamento.

-Vai lá, pode dizer o teu "Eu avisei".

-Não. -Diz e se aproxima de mim para um abraço.

Abraço-a apertado e caminhamos para minha cama.

-Eu senti tanto sua falta. -Falo chorando ainda mais. -Sinto muito por deixar ele interferir na nossa amizade, não queria que nada disso tivesse acontecido. Será que um dia você pode me perdoar?

-Também senti sua falta. Você é tão pequenininha, não queria que esse desgraçado tivesse partido seu coração. Ele vai pagar por isso, não se preocupe.

-Deixa as coisas como estão, okay? A culpa foi minha por acreditar nele. Promete que não vai fazer nada com ele?

-Prometo. -Diz e eu sorrio deitando em seu colo, enquanto a mesma fazia carinho em meus cabelos.

-AAAA NÃO ACREDITO NO QUE ESTOU VENDO. -Clarisse grita assim que entra no quarto e se joga sobre nós na cama. -VOCÊS FINALMENTE ESTÃO DE BOA. AAAAA.

Rimos.

-Espera. Você ta chorando. Por que você ta chorando? -Clarisse pergunta sentando ao lado de Evie.

POV EVIE

-Jay. -Digo e Clarisse entende tudo.

-Eu vou matar aquele desgraçado. -Clarisse diz levantando da cama.

-Meninas, obrigada. Mas deixem ele. Não quero que aquele imbecil pense que eu vou ficar armando vngancinha pra ele.

-Ah, Kat... Qual é... -Clarisse reclama e eu dou um beliscão na mesma.

-Não vamos fazer nada com ele, prometemos.

Ficamos mais algum tempo com Kat até que ela pega no sono.

-O que essa mente diabólica tá planejando, posso saber? -Clarisse pergunta assim que fecho a porta do quarto.

-Claro. -Sorrio maliciosamente e conto todo o meu plano pra ela.

POV MARJORIE

Aconteceu tudo muito rápido. Num segundo eu estava vendo aquela novela chata mexicana e no outro saía grandes quantidades de sangue que enxarcava todo o pano branco da cama daquele hospital. Eu provavelmente estava gritando, mas nem sequer conseguia ouvir devido a intensidade da dor. Quando me dou por conta, uns enfermeiros ja me colocaram em uma espécie de maca e me levam pelo corredor do hospital. Minha visão fica turva mas ainda consigo ver meu pai correndo desesperado.

-Marjorie, preciso que você conte até dez. -Dizia uma voz ao longe. -Vamos lá, sei que consegue.

-Um. -Digo após um longo suspiro. -Dois... Três...

E então a dor se torna forte demais para permitir que eu fizesse algo que não fosse fechar os olhos.

...

Eu estava num jardim repleto de flores dos mais variados tipos. A vista era de tirar o fôlego, combinava perfeitamente com o azul  do céu. Um pouco mais adiante uma mulher vestida de branco sorria e acenava pra mim.

Mamãe.

-Princesa. -Diz com a voz melódica que tantas vezes embalou meu sono. -Eu sinto tanto.

E me envolve num abraço apertado, enquanto algumas lágrimas molhavam seu rosto.

-Mamãe? O que aconteceu? -Pergunto colocando minhas mãos sobre seu rosto.

-Vai ficar tudo bem, minha princesa. Eu vou estar com você. Prometo.

Abro os olhos com dificuldade, eu estava numa sala com pouca luz, toda minha região abdominal doía. Não havia ninguém na sala além de mim. Fiquei angustiada por uns 5 minutos, até que a porta do quarto se abre, e meu pai entra.

-Marjie... Você acordou.

-Eu sonhei com a mamãe. -Digo tentando trocar de posição.

-É mesmo? -Ele senta ao meu lado, acariciando minha mão direita.

-Aconteceu, não é? -Ele engole em seco. -Eu perdi meu filho.

Eu perdi meu filho.

Pude sentir a imagem que tinha de um garotinho sair da minha cabeça, deixando um rastro de dor pra trás.

Meu filho.
Meu bebezinho.

-Eu sinto muito, filha. -Diz me abraçando sem jeito.

-Pai? -Ele se afasta um pouco para me encarar. -Pode me deixar um pouco sozinha?

Hesitante, ele assente.

E então deixo as lágrimas brotarem dos meus olhos, resultado da pior dor que se pode sentir.

-Me desculpa, meu bebê. Eu não fui a mãe que deveria ter sido, me desculpa. -Choro colocando a mão sobre minha barriga.

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