Um Estranho

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Quando estou com raiva, não olho ao redor e nem me preocupo se estou sendo observada. Bom, neste dia eu estava morrendo de raiva. O motivo? Bem, minha avó, é claro que ela descontava em mim toda sua frustração, afinal eu era a única pessoa que morava com ela. Ás vezes ficava impressionada, pelo fato de eu ainda estar com ela, acho que deve ser porque a amo, mesmo sendo assim tão amarga.
Não aguento ficar em casa com ela, disse que precisava ir ao supermercado, e ela apenas disse para não demorar. Eu andava tão distraída, que meus pensamentos foram diretos para minha mãe, deveria ter ido com ela para o Rio de Janeiro, mas não queria deixar minha avó sozinha. As vezes pensava ter tomado a decisão errada, as vezes me pegava arrependida da tal decisão.
Senti um aperto no ombro e parei de andar abruptamente. Vire-me preparada para lançar um olhar nada gentil, e dei de cara com um homem bonito pra caralho, seus cabelos faziam ondas mostrando toda a sua rebeldia, seu nariz fino, e aqueles olhos, mas que olhos, pareçam duas grandes e deslumbrantes jabuticaba, os mais lindos que já vi. Ele sorria para mim, o que me fez prestar atenção em seus lábios carnudos e bem desenhados.
- Desculpe-me, mas deixou cair isso. Ele estendeu a mão quando vi minha pusera de ouro, que ganhei da minha mãe.
- Muito obrigado. Disse com a voz vacilante pegando a pulseira de sua mão. O que estava acontecendo comigo? A pouco estava brava, e quando o encarei esse estranho sorriso, todo derretido nasceu em meu rosto. – Isso é muito importante pra mim, não e o que faria se tivesse perdido. Completei, tentando fazer minha voz sair mais firme.
- Não foi nada.. Você deve estar bem distraída para não ter notado quando caiu.
Meus olhos caíram para seu corpo, por de baixo de seu Jens solto e a camisa branca social, pude notar alguém que curtia cuidar do corpo. Ele estendeu novamente sua mão, desta vez para me cumprimentar. Rapidamente desviei o olhar de seu belo corpo. Corei quando o vi rindo, um som grave.
- Sou Rodrigo.
Apertei sua mão, senti uma eletricidade no contato, seu aperto de mão era firme e quente. – Vitoria. Foi só o que consegui dizer. De repente me senti muito envergonhada.
- Vitoria Bluesman. Ele disse. Olhei-o de forma interrogativa, como poderia saber meu nome. – É o nome que está escrito na pulseira. Explicou.
- Ah sim. Murmurei. Nunca estive tão perto de um homem tão bonito quanto ele.
- Você mora aqui por perto. Perguntou depois de um longo minuto de silencio.
- Sim.
- Eu também... Acabei de me mudar, ainda estou me acostumando com a nova casa. Comentava-o.
Notei que poderia estar interessado, já que puxava assunto com uma estranha.
- Então, seja bem vindo.. Você vai gostar daqui, é um lugar bem calmo e agradável. Enquanto eu falava, ele me examinava com uma expressão estranha.
Lembrei que estava a caminho do supermercado, se demorasse mais do que o tempo necessário minha avó me questionaria.
- Bom, eu já vou indo, mais uma vez, obrigado.
- No veremos logo Vitoria. Ele pegou minha mão e levou aos lábios dando lhe um beijo quente.
Eu observava boquiaberta, desejando desesperadamente fugir, não estava gostando do jeito que ele me olhava, e pior do jeito que eu estava reagindo a ele. De onde saiu esse homem.
Voltei para casa ainda mais distraída, a imagem de Rodrigo não sai da minha cabeça. Repeti a mim mesma que era melhor esquece-lo imediatamente, eu não o conhecia e provavelmente não o veria de novo. Minha avó não permitia que eu saísse de casa, exceto para a faculdade e trabalho. Sim eu tinha 18 anos e faria 19 em um mês, e ela ainda me mantinha em casa o quanto podia.       Não tinha liberdade para nada.
Nem liguei para os resmungos da minha avó quando cheguei, fui direto para meu quarto, tomei um banho rápido e me deitei na cama.
Rodrigo seria bom vê-lo novamente... Já era tarde, eu já estava quase caindo no sono.

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Acordei atrasada para o trabalho, o que não era normal, já que costumava acordar mais cedo, detesto me atrasar. Levantei-me rapidamente da cama e tomei um banho, blusa social e calcei o salto alto, fiz um coque em meus cabelos que não estavam colaborando. Por sorte, minha avó ainda não estava acordada, ou começaria a dizer que sou uma irresponsável; não seria legal escutar seus elogios pela manha.
Andei até o ponto de ônibus, que era a uma distancia considerável, ignorando o calo que se formava no meu pé esquerdo, era tarde demais para voltar em casa e buscar uma sandália.
No meio do caminho uma BMW Z4 branca passou por mim lentamente, parando bem em frente. Era um modelo de carro incomum nessa parte da cidade. Passei pelo carro, de repente o vidro escuro baixou assustando-me, e o rosto familiar de Rodrigo surgiu.
- Aceita uma carona Vick. Perguntou com um sorrisinho sexy.
- Vick? .. Meu nome é Vitoria nunca me chamam de Vick. Respondi irritada.
Nem me conhecia, já achava ter intimidade o suficiente pra abrevia meu nome.
- Eu sei. Seu sorriso se alargou ainda mais. – Porém eu gosto de Vick.. Vamos.
Olhei-o intrigada.
- Obrigado, mais não posso aceitar, a gente nem se conhece... Você é um estranho.
- Não sou não. Ele saiu do carro e eu dei um passo para trás. Estava de terno azul escuro, muito mais belo do que me lembrava. – Eu sei seu nome, e você sabe o meu.
- Seu nome pode nem ser Rodrigo. Argumentei arqueando uma das sobrancelhas.
- Boa, mas posso provar. Puxou do bolso do terno sua carteira de motorista e me entregou, olhei para ele e depois para a carteira.
- É, parece que sou paranóica, mas eu realmente tenho que ir Rodrigo, agora. Disse devolvendo sua carteira.
- É muito mais perigoso você ir assim, a pé até o ponto de ônibus. Eu posso te levar, prometo que não farei nada com você. Ele fez uma pausa e seus olhos escureceram. – A menos que você queira.
Sorri com ironia.
- Sinto desaponta-lo, mas isso não tem chance de acontecer.
Ele levantou a sobrancelha surpreso.
- Isso é um desafio.
- Eu tenho que ir, ou vou chegar atrasada. Disse começando a andar.
- Eu não aceito um não como resposta. Insistiu segurando meu braço. – Você não vai chegar atrasada se eu te levar.
Olhei para o relógio em meu pulso, e mesmo se eu pegasse um ônibus naquele exato minuto, não chegaria a tempo.
- Tudo bem então..
Um sorriso cheio de si, tomou conta do seu rosto. O que ele achava que ganharia com isso, era apenas uma carona.
Quando entrei no carro ele veio em minha direção, me deixando em estado de alerta, demorei um pouco perceber que ele apenas queria fechar meu cinto de segurança. Seu braço rosou de leve na minha cintura me causando um tremor involuntário, afastei-me com cuidado para que não percebesse.
- Sempre me esqueço disso. Falei envergonhada.
- Eu nunca. Murmurou me queimando com os olhos.
Observei-o dirigindo, totalmente no controle, segurava com firmeza o volante, porem de uma forma natural. Sentia-me encabulada perto dele, o que era incomum. Em geral os garotos me achavam bonita, pelos meus longos cabelos azuis, sim meus cabelos eram num tom azul turquesa claro totalmente liso, olhos mel e minha altura, que em minha opinião chamava muita atenção.
- Você trabalha aonde. Perguntou Rodrigo quebrando o silencio.
- No escritório de advocacia Bittencourt.
- O que você faz lá. Questionou, mostrando um genuíno interesse.
- Sou secretaria do Dr. Bittencourt.
- E você faz alguma outra coisa além do trabalho.
- Sim, faço faculdade de relações internacionais.
- Onde?.
- Na faculdade federal. Respondi já estranhando seu interesse.
- E quantos anos você tem Vick.
O encarei tentando compreender onde estava querendo chegar.
- Tenho 18.
- Sério? Você é bem mais nova do que eu pensava. Sua voz transpareceu desapontamento.
O que ele pensava? Que eu tinha trinta. Encontrei seu olhar de relance.
- Não que eu achasse que você era muito mais velha... É que você não parece uma garota de 18 anos.
- Vou fazer 19 daqui um mês então... Não sei por que senti a necessidade de esclarecer isso.
Não queria que ele me visse como uma garotinha. Sorri.
- Não ligo pra essas coisas de idade... As pessoas maduras, experientes são mais interessantes. Soltei sem pensar.
Sua expressão demonstrou divertimento. Queria tapar minha boca, estava dizendo coisas que não deveria, não queria que pensasse que eu estava interessada nele.
- Quero dizer, é bom conversar com pessoas assim. Murmurei.
- Então você gosta de pessoas experientes. Repetiu, seus olhos de jabuticaba cintilavam. – Interessante.
Era melhor ficar calada, só estava piorando as coisas.
- Ehh.. Você tem namorado. Perguntou com a voz neutra.
Ninguém pergunta isso com tanta naturalidade. Isso chamou minha atenção. Era como se quisesse demonstrar seu interesse.
- Não, e nem posso. Disse simplesmente.
- Por que não? Você já tem dezoito anos. Questionou intrigado.
- Bom, diga isso a minha avó, e diga também que mereço ter uma vida.
- Você mora com sua avó?.
- Sim.
- Prece que ela é bem protetora. Senti um descontentamento em sua voz.
- Sim ela é... E você tem namorada. Perguntei desviando o assunto de mim.
- Não, eu não gosto de relacionamento serio. Respondeu claramente com a expressão fechada.
Caramba, pelo menos ele estava sendo sincero, pensei.
- E você? O que você faz da vida.
Era minha vez de fazer as perguntas.
- Eu trabalho na talento. Fez uma pausa. – Sou CEO.
E simples assim, ele me disse que era um dos homens mais ricos do Brasil. Conhecia essa empresa e sabia o quanto era importante, considerada a maior empresa de publicidade. Na verdade, quem não conhecia a talento. Só não podia imaginar que Rodrigo era dono. Céus.
- Você fez a propaganda da havaiana, e o da vivo. Perguntei já sabendo a resposta.
- Sim. Confirmou.
- È uma das minhas propagandas favorita, é engraçado, prende a atenção, e principalmente.. Faz sentido. Disse empolgada.
- Que bom que gosta, é exatamente essa a intenção. Comentou divertido. – Chegamos.
- É mesmo. Observei. – Obrigado pela carona.. Parece que agora estou te devendo duas.
- Sim, e eu vou cobrar.
Seus olhos encararam os meus, não consegui desviar.. Era tão intenso. Abri a porta relutantemente.
- Tchau, Rodrigo.
- Até logo.
Rodrigo novamente ocupava meus pensamentos. Ficava inquieta quando lembrava do seu curioso modo de se despedir, “Nós veremos logo”, “Até logo”.. Soava como uma promessa de que nós veríamos novamente. Ansiava saber o motivo de tanto interesse.. Ele era rico, bonito, poderia escolher a mulher mais bonita para passar apena uma noite. Porque gastava eu precioso tempo comigo.
- Você esta pensativa hoje, Vitoria. Comentou o Dr. Fernando enquanto colocava cuidadosamente os papeis em sua mesa. – Compartilhe.
Olhei para o meu chefe. Um homem realmente bonito, e muito observador.. Nada passava despercebido por aqueles olhos verdes.
- Nada de mais Dr. Acordei em cima da hora esta manhã. Ele me fitou e eu encarei o chão, não conseguia encarar seus olhos por muito tempo quando me olhava daquele jeito. – Somente isso. Reforcei.
- Bom, então vamos ao trabalho, temos muito que fazer.
- Claro. Concordei, agradecendo por ele no insistir.
Depois de organizar todos os processos, o Dr. Fernando me chamou em sua sala. Quando entrei, o encontrei sentado na grande poltrona olhando pela janela.
- Dr. Fernando. Ele se virou, parecendo bastante tenso.
- Vitoria, preciso lhe fazer uma pergunta, sei que vai parecer inapropriado, mas simplesmente essa questão esta me incomodando desde a sua chegada.
Franzi o cenho começando a ficar nervosa. Não imaginava nada que pudesse ter deixando-o assim.
- Quem veio deixá-la aqui hoje?. Perguntou sem rodeios.
- O que. Não acreditava no que estava ouvindo.
Ele respirou.
- Vitoria não me faça perguntar novamente.
- Não entendo porque isso incomodaria o senhor. Disse hesitante.
- Eu me preocupo com você. Respondeu como se explicasse tudo.
O encarei desconfiada.
- Era só um amigo, que me ofereceu uma carona.
- È claro. Disse demonstrando alivio. – Você sabe se cuidar, não se decepcione... Desculpe-me o transtorno, não queria parecer intrometido.
- Tudo bem, eu acho.
- Você já pode ir. Dispensou-me com um sorriso.
Sai do escritório com pressa, tinha menos de uma hora para almoçar e ir para a faculdade, muitas vezes perdia o primeiro horário, mas Dyo, meu melhor amigo sempre me passava às aulas que perdia o que sempre me ajudava muito.
A professora que dava os últimos horários teve que se ausentar, felizmente pude ir embora mais cedo par descansar.
Quando estava saindo da faculdade, escutei uma voz familiar chamar meu nome, não olhei para trás, pois já sabia quem era, fingi não escutar e comecei a andar mais rápido.
- Oi gata mais linda da faculdade. Disse José me alcançando e segurando meu braço.
- Oi José. Respondi ríspida puxando meu braço de seu perto.
- Que tal uma carona para casa. Ofereceu gentilmente.
- Não obrigado, tenho que ir. Disse voltando a andar.
- Ei, hoje não vou deixar você escapar. Insistiu me puxando de encontro a ele.
- Me solta! O que deu em você? Já disse que não. Gritei.
José era um dos caras mais convencidos que já conheci. Tinha que admitir, ele era muito bonito, mais era terrivelmente insuportável. Todas as garotas da faculdade se jogavam em cima dele, menos eu... Talvez esse fosse o motivo da perseguição.
- Que tal um acordo? Eu deixo você em paz para sempre, se você me deixarem beijar essa sua boca deliciosa. Sussurrou.
Ri com sarcasmo.
- Nem nos seus sonhos. Retruquei pausadamente.
Seu rosto ruborizou de raiva, seu aperto em meu braço se tornou mais forte.
- Você se acha gostosa de mais pra mim? Pois eu sempre consigo o que eu quero Vitoria, você não é melhor do que ninguém.
- Só porque eu não quero ficar com você, não significa que eu me considere melhor do que ninguém. Retruquei.
- Eu estava tentando ser paciente, mas você não colabora... Eu amo esse seu jeitinho marrento.
Um sorriso cínico tomou conta de seus lábios.
-Me solta, não adianta me obrigar, nunca vou ficar com você.
- Vai sim. Disse se abaixando para alcançar minha boca.
Contorci-me desesperadamente para me desvencilhar de seus braços, mas ele era bem mais forte que eu. Então fui forçada a tomar uma decisão drástica. Chutei suas bolas. Na mesma hora ele me soltou, e se encolheu gemendo.
- Você esta maluca?! Sua vadia.
- Esse cara esta te incomodando Vitoria?.
Demorei apenas um segundo para reconhecer a voz.
- Agora você tem um guarda-costas. Perguntou José.
- Pelo que eu estou vendo, a Vitoria não precisa de um guarda-costas. Disse Rodrigo com um sorriso sexy.
Não consegui dizer uma palavra. José olhou entre mim e Rodrigo, e saiu amaldiçoando.
- Você esta bem. Perguntou ele me examinando.
Balancei a cabeça dizendo que sim.
- Como você veio parar aqui. Perguntei curiosa.
- Eu estava passando, e vi você sendo agarrada por aquele imbecil, tinha que te ajudar. Deu de ombros.
- Então não passa de uma mera coincidência? Você aparecer aqui na faculdade. Perguntei incrédula.
- É. Respondeu simplesmente. – Você esta achando que eu estou te perseguindo.
Era exatamente o que eu achava, envergonhada desconsiderei a idéia. Ele não tinha nenhum motivo para me perseguir.
- Não isso seria loucura. Ele sorriu divertidamente.
- Que tal um passeio. Perguntou repentinamente.
Olhei desconfiada.
- Você esta me convidando para sair.
- Sim. Confirmou com um sorriso todo convencido. – E não aceito um ‘não’ como resposta.
- Eu sei você já me disse isso antes, mas não vai dar, tenho que ir para casa. Disse automaticamente.
Percebi com tristeza, que já estava acostumada a recusar qualquer convite para sair sem nem ao menos pensar duas vezes.
- Não aceito não como resposta. Repetiu. – Prometo que não deixarei que chegue tarde a sua casa. Temos tempo de sobra, ainda são 15h, e eu sei que você chega em casa às 19h.
- Como você sabe disso. Questionei.
- Eu apenas supus. Respondeu dando de ombros. – Vamos.
Foi uma suposição muito exata.
- Não posso.
- Vamos Vick, nada de mal pode acontecer, acho que já provei que não sou nenhum sequestrador.
- Não sei.. Fale relutante.
Se minha avó descobrisse me mataria.
- Sei que você quer sair, seus olhos brilharam com meu convite.
Caramba.. Ele era mesmo insistente.
- Você é muito convencido, não tem nada haver com você, eu apenas não saio muito. Confessei.
- Então aceite.
- Aonde vamos. Perguntei cruzei os braços.
Ele abriu um sorriso largo que me derreteu toda. -É surpresa.
Rodrigo manteve em segredo para onde estávamos indo o quanto pode, mas no final vi que ele estava me levando para a praia, não estava lotada, o que era uma raridade, pois o sol estava perfeito para um banho.
- Você gosta de praia. Perguntou quando saímos do carro.
- Amo, você não podia ter me trazido a um lugar melhor. Afirmei apreciando o vento em meus cabelos.
Tirei minha sapatinha e pisei na areia, Rodrigo me olhou de canto levantando uma das sobrancelhas.
- Você vai andar descalça nessa areia.
- Claro, não vai me dizer que você nunca fez isso. Comentei revirando os olhos.
- Não. Murmurou contorcendo o rosto.
- Não creio. Comecei a rir. – Você não teve infância.
- Claro que sim, só nuca fiz isso.
- Ótimo, pra tudo tem uma primeira vez.
Ele arregalou os olhos.
- Você não vai me fazer pisar nessa areia.
- Vou sim, você não tem escolha Rodrigo. Disse com firmeza.
- Me convença-. Disse cruzando os braços.
Cheguei bem perto dele sentindo seu cheiro masculino, fiquei na ponta dos pés e sussurrei em seu ouvido. – Vamos, não é ruim como parece, tenho certeza que você não vai se arrepender. Deu um passo para trás, vi que seu rosto com uma expressão seria e tensa.
- Tudo bem.
Ele tirou os sapatos e pisou com o pé direito na areia, fez uma careta, em seguida pisou com o outro pé.
- Pare de fazer drama, vai com tudo. O encorajei.
Um sorriso diferente nasceu em seu rosto, como um menino que acabou de ganhar um brinquedinho novo.
- Realmente achei que fosse pior. Dizia ele.
Andamos pela praia, sentamos na areia, depois de muita relutância da parte dele.
- Me fala sobre você. Pediu.
- O que quer saber.
Ele deu de ombros.
- Não sei o que você quiser me contar.
- Não sei por onde começar.
- Do começo, quero saber de tudo sobre você.. Você disse que morava com a sua avó não é?
- Sim. Respondi.
- Sua mãe... Ele não precisou completar a frase.
Arregale os olhos.
- Não, ela não morreu, é apenas um assunto delicado.
- Desculpe, não queria ser indelicado.
De repente me senti confortável em me abrir com ele.
- Não tudo bem, é que minha mãe engravidou nova, tinha apenas dezesseis anos. Não era responsável o suficiente para cuidar de mim, então minha avó me criou. Ela se mudou para o Rio de Janeiro e fiquei com a minha avó.
- Você sente falta da sua mãe.
- Sim, e muito... Ela é a única pessoa capaz de me entender, é a pessoa que mais amo nesse mundo.
- E seu pai.
- Simplesmente nunca se importou comigo, me fez muita falta, mas aprendi a viver com a ideia de que não tenho pai. Eu só tenho o sobrenome dele. Respondi dando de ombros, tentando disfarçar a minha tristeza.
Ele segurou meu queixo fazendo encará-lo.
- Ele não sabe a filha maravilhosa que está perdendo.
Com relutância desviei o olhar, isso estava ficando intenso de mais.
- Agora sua vez.
Suas sobrancelhas se ergueram.
- Como assim minha vez.
- Você ainda não entendeu. Ele negou com a cabeça. – Estamos fazendo uma troca de informações, eu falo sobre mim e você fala obre você.
- Você é bem espertinha. Murmurou com um sorriso de leve e divertido.
- Sou mesmo. Ri. – Agora comece.
- Bom, minha mãe morreu quando eu era criança, meu pai cuidou de mim, e sou o que sou hoje, graças a ele. Ele me ensinou tudo o que sei, foi bastante forte, conseguiu superar a morte da minha mãe e seguiu em frente, acho que não há pessoa que eu admire mais do que ele.
- Lamento muito pela sua mãe.
Toquei sua mão dando um aperto tranquilizador. Quando seus olhos desceram para nossas mãos unidas, a retirei constrangida.
- Não há muito dano feito, afinal, eu não cheguei a conhecer ela. Comentou com um sorriso triste. – Claro que faz falta, lembro-me de quando eu era criança, que não gostava de r para a escola no dia das mãe... Sempre inventava uma desculpa para não ir. Mas meu pai fez bem seu papel, ocupando esse lugar vazio.
- Você esta falando dele no passado. Observei.
Ele me fitou por um momento e depois voltou à atenção para o mar.
- Bem observado, ele morreu a dois meses... De câncer.
Cobri a boca com a mão.
- Droga. Eu lamento muito pelo seu pai, deve esta sendo difícil para você.
- Sim esta, aprendi muitas coisas nesses últimos tempos, eu era muito irresponsável, mal colocava os meus pés na Talento... Pouco antes de ele morrer, ele pediu para assumir a diretoria da empresa e preservá-la para que não caísse em mãos erradas.
- Nossa, parece que nossas vidas não são fáceis. Pensei distraidamente.
- È verdade, e eu acho melhor pararmos de falar sobre coisas tristes, você quer tomar um sorvete?
- Sim, é uma ótima ideia. Respondi sorrindo. – O que é melhor do que um sorvete para alegrar?.




- Qual sabor você vai pedir?. Perguntou logo que chegamos na sorveteria.
- De chocolate é claro.
- Entre tantos sabores, você escolhe logo o de chocolate. Questionou intrigado.
Dei de ombros, ele tinha razão.
- Sou chocólatra, tudo que tiver sabor de chocolate vai ter minha preferência. Expliquei.
- Então já que você me fez pisar descalço na areia, que tal eu escolher o sabor do seu sorvete. Propôs.
- Tudo bem. Concordei sem relutância, gostei da ideai. – Fique à-vontade.
Ele abriu um sorriso largo, cheio de dentes.
- Então pode se sentar.
Olhei-o por alguns segundo, pensando em volta atrás, e por fim fui me sentar. Não demorou muito para que ele chegasse com dois sorvetes na casquinha.
- Bom agora você vai fechar os olhos, quero que você sinta o sabor.
Comecei a rir.
- Que exagero. Questionei. Abri a boca e senti o gosto delicioso do sorvete.
- Não abra os olhos, ainda tem outro.
O segundo foi ainda melhor, senti um leve gosto de chocolate.
- hunn.. Que delicia, adorei.
- Pode abrir os olhos.
- Qual o sabor desse sorvete. Perguntei curiosa.
- O primeiro foi de torna alemã, e o segundo de Nutella com chantili. Respondeu entregando meu sorvete.
- Você tem bom gosto. Elogiei.
Seus olhos jabuticaba cintilavam.
- Você não tem ideia de como tenho um bom gosto. Retrucou.
Corei com seu comentário, desviei os olhos dele, e comecei a lamber o sorvete. Depois de um tempo, em um silencio constrangedor Rodrigo falou:
- Acho melhor você para de lamber o sorvete desse jeito.
- Por quê. Perguntei e continuei lambendo o sorvete.
- Apenas pare com isso. Disse ignorando minha pergunta.
Desculpe-me, ma não sei tomar sorvete de outra forma. Respondi insolentemente.
- Você é exasperante. Retrucou com mal humor. – Estou pedindo, pare.
Comecei a rir.
- Você tem razão, sou exasperada quando quero, como agora... Mas só vou parar quando me disser o porquê.
Ele suspirou.
- Não acho uma boa ideia.
Dessa vez eu lambi o sorvete bem lentamente para provocá-lo, sabia por que ele queria que eu parasse, mas queria que confessasse.
- É provocador, me faz pensar em coisas que não deveria pensar. Admitiu passando a mão pelos cabelos.
Meu sorriso morreu, não deveria provocar um homem desse jeito, não era da minha natureza provocar de qualquer modo. O que estava acontecendo comigo? Essa não era eu.
- Eu preciso ir embora. Disse me levantando.
- Mas você nem terminou seu sorvete.
- É serio, preciso mesmo ir embora... Obrigado pelo sorvete, foi muito agradável. Ele levantou.
- O que a de errado, permita-me pelo menos te deixar em casa.
- Não Rodrigo, obrigado, você já fez muito por mim.
Seu olhar mudou de desentendido par irritação.
- Porque você sempre recua de mim? Não seja tola Vitoria, deixe que eu te leve para casa.
Sabia que estava sendo mais arredia do que de costume, mas a cada momento que passava com ele, ficava mais solta. Isso não era bom.
- Tudo bem. Concordei, querendo acabar logo com isso.
Passamos a viajem inteira em silencio. Rodrigo segurava o volante com tanta força que podia sentir a pressão que estava fazendo lá, sua mandíbula de vez em quando se contraia. Fiquei imediatamente arrependida, eu o deixei bravo. Só queria entender o motivo de seu interesse, e se ele estava realmente interessado em mim, não podia ser bom. Já estava me arriscando muito aceitando seu convite para sair. Se minha avó descobrisse que eu estava saindo com alguém, mesmo sendo apenas um amigo, eu estaria seriamente encrencada. Ela com certeza passaria a me vigiar mais do que vigiava. A única coisa que eu tinha certeza é que se Rodrigo quisesse algo comigo, não poderíamos ficar juntos, então era melhor me afastar logo.
- Você esta entregue, sã e salva. Anunciou quando chegarmos uma quadra antes da minha casa, não deixei que me deixasse na frente, pois se minha avó me visse saindo desse carro, nem deixaria eu entrar em casa.
- Obrigado -. Disse percebendo a amargura em sua voz.
Realmente não deveria ter o deixado bravo, é bem provável que não queria me ver novamente, ao perceber isso fiquei desapontada. Mas era o certo fazer.
- Bom... Adeus Rodrigo. Disse baixinho.
Ele não respondeu, apenas ficou me olhando, pelo que me pareceu vários minutos. Já escurecia la fora. Meus olhos estavam presos nos seus, não conseguia sair dali.
Minha mão procurou a maçaneta do carro, quando abri o barulho ecoou pelo mesmo quebrando o silencio. Em um movimento rápido Rodrigo passou seu braço por mim e fechou a porta rudemente. Meu coração bateu acelerado, não sabia o que esperar e principalmente não tinha ideia do que estava acontecendo.
Agora ele estava perto de mim, muito perto. Podia sentir sua respiração, seu hálito quente fazia cócegas em meus lábios umedecidos. Nossas boca alinhadas, perfeita para um beijo. Seus olhos não estavam mais nos meus, e sim nos meus lábios, pedindo permissão silenciosamente. Minha consciência gritava me alertando do perigo, mas se ele fosse desaparecer da minha vida, eu me permitiria fazer isso, pelo menos uma vez. Aproximei-me e ele não esperou outro sinal, sua boca atacou a minha desesperadamente enquanto ficava encima de mim.
Estava sem fôlego quando as nossas bocas se separaram me sentia totalmente fora de orbita. Era como se eu estivesse recuperando minha sanidade, levei um soco da minha consciência. O encarei em choque quando notei o que tinha acontecido. Tinha noção de que era culpada, eu o deixei se aproximar, me beijar, e pior, eu tinha gostado e queria mais, porém, não consegui deixar de sentir raiva dele, por ter me beijado, por ter estragado tudo. Ainda tinha esperança de nos sermos amigos, mas ate essa possibilidade não existia mais. Sai do carro, Rodrigo dessa vez não me impediu, o que fez meus olhos arderem, eu era mesmo uma boba, claro que isso não daria certo, era apenas isso que ele queria... Usar-me. Enxuguei as lagrimas que ousaram cair, me forçando a manter o controle, se eu chegasse em casa com os olhos vermelhos, passaria por um interrogatório.
Entrei em casa e por sorte não fui notada, passei pelo quarto da minha avó passei apressadamente e me tranquei em meu quarto. Joguei-me na cama e não demorei a cair no sono.



A Garota Do Cabelo Azul - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora