Entrei em casa, lá estava ela sentada na poltrona da sala com uma expressão indecifrável.
- Quem é esse homem que veio deixar você?. Perguntou com a voz calma.
- É uma amiga... Falei inutilmente.
- Você sabe que odeio mentira, a coisa que eu mais odeio nesse mundo é mentira. Me irrita... Me deixa irada. Tem certeza que quer continuar mentindo?. Sua voz foi se alterando ao longo da frase.
Respirei fundo. Era melhor contar a verdade não era desse jeito que eu queria que as coisas acontecessem, mas agora não havia escapatória, e pior que isso não poder ficar.
- É meu namorado.
- O que?. Ela disse com um sorriso muito estranho. - Repita, acho que não ouvi direito.
Engoli em seco.
- É meu namorado.
- Então você estava na casa dele? De um homem?.
- Sim.
- E você tem coragem de dizer isso na minha casa? Desse jeito. Ela se levantou da poltrona
- A senhora quer a verdade... Comecei a dizer.
- Cala essa maldita boca, sua filha da puta!. Minha vó gritou.
Fechei os olhos, não gostava quando ela me mandavpercebesseboca. Eu me sentia tão importante, sentia-me um nada.
- Eu tentei criar você para ser uma mulher decente de fibra que não se envolve com qualquer um por ai, como uma vadia. Mas fracassei mais uma vez. Você é igual a sua mãe, uma vadia que vive correndo atrás de homem. Achava que eu não havia percebido? não sou cega e nem burra.
Sabia que andava fazendo coisa errada, mentindo descaradamente.
- Você acha que tudo isso vale a pena Vitória? Nenhum homem presta, todos eles são iguais. Largam você quando se cansam, quando conseguem o que querem, não existem finais felizes com homens no meio. Eles só te usam enquanto você é jovem e bonita. Mas tudo isso passa, seu rostinho não vai ser assim para sempre, e quando você não for mais uma novidade ele vai te abandonar para ficar com outra, mais bonita. Essa é a natureza, e uma mulher inteligente evita fazer parte disso.
Ela me encara com um olhar que já conheço muito bem para saber que vai dizer.
- O seu pai é o primeiro exemplo que você tem na sua vida de que homens não prestam. Ele abandonou você e sua mãe.
Suas palavras parecem facas em meu peito, ela sabia que eu não gostava que tocasse nesse assunto, era algo que me machucava muito.
- E agora sabe onde ele está? Com uma família linda e feliz. E você minha filha, não está e nunca estara no meio dessa família. Na verdade até sua mãe te abandonou, não te quis se quisesse estaria aqui com você, ou teria te levado junto com ela mas o que ela fez? foi embora e agora também tem uma família perfeita que não inclui você como membro. A única pessoa que teve a pena de você fui eu, sabe onde você estaria se não fosse pela minha pena? em um orfanato.
- Pare, por favor.. Pare. Implorei.
Isso já era demais para suportar, minha mãe me amava e eu sabia que sim, ela não tinha condições de cuidar de mim na época, era muito nova eu a entendia. Meu pai nunca se importou comigo e isso ela estava certa. Mas minha mãe, não minha mãe não.
- Você é igual a mim, olhe ao seu redor, você esta sozinha, só tem a mim... Ninguém gosta de você.
- Não! Isso não é verdade. Soltei um soluço forte, que fez meu peito arder.
Ela fechou a cara e se aproximou de mim.
- Por que você esta chorando?.
- Eu não posso mais ouvir isso, pare.
- Eu não acredito nessas suas lagrimas de crocodilo, nada disso me comove Vitoria. Pare de se fazer de coitadinha.
Raiva começou a se formar em meu peito, escutava calada tudo que ela dizia nunca falava nem chorava.
Encontrava-me em meu limite.
Era anos e anos de sentimentos guardados, não consegui engolir mas nenhum choro mesmo sabendo que sua irritação só irei aumentar com as minhas lágrimas.
- Para de chorar, agora. Ela mandou.
Reunir todas as minhas forças para me recompor. Em vão.
Era isso, não podia mais suportar. Acabou.
Minha boca estava cheia de coisas para dizer, coisas que reprimi, que nunca ousaria dizer.
Todas as minhas emoções estavam sendo expostas de uma só vez.Raiva.
Frustração.
Mágoa.
Tristeza.
Dor.
Tudo isso estava prestes a explodir
- Chega eu vou chorar o quanto eu quiser. Estou cansada de tudo isso, de ter que ouvir calada tudo que você diz de cabeça baixa. De tentar ser perfeita para para tentar te agradar e você nunca ser reconhecida pelos meus esforços. Nada nunca esta bom. Não é a toa que nenhum dos seis filhos se dão da trabalhos de lhe fazer apenas uma visita ao ano. Ninguém lhe suporta porque você é uma rancorosa. Eu tentei ser tudo o que a senhora queria, tudo para fazer a senhora feliz. Mas nunca é o suficiente.
Não tenho uma vida, não me divirto, e nem sei o que é sair com os meus amigos, mesmo que a senhora não acredite, nunca a desobedeci. A única vez que fiz isso, foi quando conheci o Rodrigo, que trouxe cor a minha vida tão sem graça. E sabe de uma coisa? Não importo as consequências. Não me arrependo nem um pouco, e faria tudo novamente. Rodrigo foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida.
Foi libertador falar tudo o que estava preso em mim.
- E a senhora não precisa mais ter pena de mim, obrigada por todos esses anos ter cuidado de mim, mesmo você sendo assim, ainda me sinto grata, consigo amá-la.
Minha avó permaneceu em silêncio. Era assustador vê-la assim, tão calma depois do que eu disse.
Não esperei ela falar. Andei até meu quarto e comecei a arrumar minhas malas, não havia notado, mas meu coração estava acelerado e não estava respirando muito bem. Estava tremendo muito.
Fiz uma mala com apenas as roupas e coisas necessárias, não queria demorar muito e também não queria mais voltar. Acabei e respirei fundo, tinha que ser forte naquele momento. Estava indo embora para não voltar. Estava livre.
Sai do quarto, minha vó estava na porta da sala parecia estar prestes a fazer algo. Um arrepio passou por todo meu corpo.
Não entendia porque me sentia tão nervosa, e com medo. O pior já tinha passado.
- Você acha que pode sair desse jeito?. Ela perguntou com a voz calma.
Aquele seu tom estava me incomodando. Preferia quando ela gritava.
- Eu vou embora, não tenho porque ficar aqui. Consegui fazer minha voz sair firme e confiante.
- Você não tem vergonha, não? Sua mal agradecida. Mentirosa.
Começou tudo de novo.
- Por favor... Eu só quero ir embora. Pedi.
- Larga essa mala.
- Não. Disse balançando a cabeça negativamente.
- Você esta me desafiando?.
- Não, como eu disse antes, só quero ir. Disse apontando para a porta.
- Sabe o que você esta merecendo?. Ela perguntou com um sorriso ameaçador.
Não respondi. Não estava entendendo onde queria chegar, ela começou andar em minha direção meu instinto foi recuar.
- O que? Está com medo?.
Minha voz havia sumindo, estava entrando em pânico, em um impulso comecei a correr para porta, a mesma estava trancada.
Quando virei minha avó... Fui atingida por um tapa no rosto.
Ardeu muito, fiquei ate tonta.
- Você achava que ia sair assim? Depois de me falar todas aquelas coisas?.
E outro tava. Cobri meu rosto com as mãos para me proteger.
Não parou por ai. Ela começou a distribuir socos por todo meu estomago. Tudo isso estava acontecendo tão rapidamente, que não sabia o que fazer. Senti uma dor insuportável em meu corpo e meus joelhos cederam. Cai no chão e me encolhi na esperança de que ela percevesse que havia me machucado de verdade e parasse.
Ela ainda não estava satisfeita, continuou distribuindo chutes pelo meu corpo.
Não conseguia me mexer, senti gosto de sangue em minha boca.
Tentei gritar. mas nada saia da minha boca. Sentia algo me impedido, cuspi e encarei o chão, eu estava sangrando.
Tudo ao meu redor estava ficando escuro, não sentia os golpes que estava levando.
A imagem de Rodrigo veio em minha mente. Seus sorriso. Seus olhos cor de chocolate. Depois vi minha mãe chorando na sala de embarque egarrada ao meu padrasto.
Tudo ficou escuro... Queria poder ve-lós novamente, antes de partir.PS. Essa semana sera cheia de novidades, logo postarei mais dois caps. bem recheados!! Espero que estejam gostando.. BjjsBella😘
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A Garota Do Cabelo Azul - Concluído
RomanceA vida é uma caixinha de surpresas, e de repente sem pretexto nenhum ela muda, mais muda mesmo. Muda de um jeito avassalador e conturbado.Vitoria é uma garota que sempre temia essa coisa de relacionamento... Isso ate conhecer Rodrigo, que roubou seu...