Carta 1

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Domingo, 10 de setembro.

Querido Jimin,

Sei que pode parecer perda de tempo sentar em uma mesa e escrever para você, quando se está tão longe e sem vontade de me ver. Mas eu preciso lhe assegurar de uma única coisa: Eu preciso fazer isso.

  Preciso colocar no papel tudo o que vi, senti e desejei em cada momento que passei ao seu lado. Talvez assim, quando eu também me for, pelo menos saiba os reais motivos.

Nós começamos tão bem, Jimin. Tão puros e inocentes, sem saber o que nos esperava no futuro. Você tomaria um caminho diferente se soubesse o que aconteceria naquela noite sombria? Provavelmente, nesse momento, a responda é sim.

Mas vamos começar do início, onde eu teria feito a maior burrada da minha vida se tivesse ficado em casa lamentando pelo recém fora que tinha levado de um cara. Mas pela insistência do Taeyung em não me deixar afundar na fossa, fui obrigatoriamente arrastado para um bar barato com a esperança de que meu emocional totalmente destruído tomasse um ponto de equilíbrio.

Lembro que sentamos em uma das mesas ao fundo, a poucos metros do palco onde tocavam um cover de "Say my name" de The Neighbourho. Deus, eu afundei muito mais em angústia e tristeza do que se tivesse ficado em casa vendo filmes românticos e choramingando por não ser eu a contracenar aquelas cenas.

Taehyung chegou a mesa com duas garrafas de cerveja bem geladas que marcavam círculos de água rapidamente sobre a madeira, dizendo:

- Ei, procure tirar a cabeça dele. Sempre soube que aquele idiota não valia a pena. - Eu o encarei, irritado. E então afundei completamente minha cabeça entre os braços. Tudo que conseguia pensar naquela hora era "Deus, se você me ama, me mata ou mande E.Ts para me abduzir porque eu cansei do planeta terra." Senti a mão de Tae apertar a minha e sacudi-la levemente.

- Tudo bem. – Respondi. – Vou dar um jeito de superar.

Mas o que eu não sabia àquela altura, é que seria tão rápido assim. De repente, enquanto eu e Tae conversamos distraidamente, o garçom se aproximou de nossa mesa, depositando mais uma cerveja sobre a madeira. Nós o encaramos, confusos. Ele apontou até a mesa em que você e mais um cara estavam sentados, olhando para nós e rindo.

- Disseram para levar isso como um convite. – O garçom nos informou.

- Convite de que? – Taehyung se pós à frente para perguntar. Dei uma última observada na sua mesa, Jimin, vendo que tanto você como o seu amigo ainda nos encaravam, esperançosos. O garçom se foi, nos deixando a mercê da dúvida "vamos ou não vamos?"

E mais uma vez a bendita boa lábia de Taehyung me convenceu a ir. Mas durante o caminho, o puxei antes que ele pudesse ficar todo alegrinho achando que eu iria me meter em outro caso amoroso, dizendo:

- Se perguntarem, eu sou 100% hetero. Entendeu? – Tae estava tão eufórico que nem ao menos me escutou. Cumprimentou primeiro você e depois o seu amigo, que tinha um nome peculiar: Seokjin. Kim Seokjin. Logo após sentando ao lado dele. Dei um sorriso forçado e desconfortável enquanto dava "boa noite" e sentava ao seu lado.

Eu preciso admitir: você era incrivelmente gato, mas um cara de pau também.

    Lembro bem da sensação de nervosismo daquela noite. Meu coração batia tão forte dentro do peito que eu tinha certeza que você estava ouvindo.

   Park Jimin, alguém deveria dizer a você o quão desconfortável é ficar olhando fixamente para uma pessoa durante horas, já que foi isso o que você fez comigo. Mas você também não se importava. Foi preciso muita luta interna para aguentar Tae e Seokjin flertando enquanto eu suava de nervosismo por ter você do meu lado.

- Certo. Qual o problema? – Te encarei, quase que completamente puto por estar nessa situação. Tae e Seokjin pararam de se comer com os olhos e se voltaram para mim. Você deu de ombros fazendo uma cara tipo "Eu sei lá". Isso me deu mais raiva ainda.

- Que problema? – Perguntou, de forma desinteressante dando um gole na garrafa. Incrível como nem assim você deixava de me olhar.

- Você está me encarando a noite toda. Gostaria de saber o porquê.

Novamente você estava dando de ombros despreocupadamente. Eu pensei "Bem, com certeza não é esse tipo de cara que eu quero para mim." E por alguns segundos, apenas segundos Jimin, você perdeu o encanto. Até que sua boca abriu, logo depois de um belo sorriso brincar entre seus lábios, dizendo:

- Mamãe sempre me ensinou a admirar belas obras de arte. – Eu perdi a voz, literalmente. Tae e seokjin se entreolharam rindo da minha cara e voltando a flertarem um com o outro.

Por que, Jimin? Por que você tinha que falar algo desse tipo para alguém como? Você não percebeu, não é? Eu não era o tipo certo para servir apenas como brinquedo, mas desconfio de que você sabia disso desde o início.

Depois disso, Seok insistiu em nos dar uma carona e a trocarmos os telefones. Eu te dei o meu, mas com receio.

  Já Tae deu muito mais do que isso antes de entrarmos em casa. Enquanto você permanecia encostado no carro, ainda me observando, Tae e Seok se beijavam e eu rezava para achar as chaves nos bolsos rapidamente. Dei uma olhada rápida para você, vendo do canto do olho sua sombra se aproximando mais e mais.

O nervosismo tomando conta novamente. A adrenalina quase atingindo o pico. Por que eu sentia tudo isso perto de você? Não era normal, já que eu não me impressionava ou cativava fácil. E então eu senti sua mão em meu ombro. O calor dela por sobre a blusa escura que eu usava.

- Você...

- Eu sou 100% hetero. – Falei, apressadamente, mais por conta do medo misturado ao nervosismo, logo em seguida me arrependendo.

Você me olhou confuso, embora eu podia ver uma pequena parcela de decepção neles. Como eu me arrependo de ter sido tão bobo e medroso. Mas eu recém havia saído de um caso que não tinha dado certo. Espero que agora entenda que aquilo não era o tipo de coisa que eu queria falar, Jimin.

Você então tirou a mão do meu ombro a enfiando no bolso esquerdo.

- Muito legal saber disso. Mas eu só ia perguntar se você precisava de ajuda pra achar as chaves, já que está a mais de meia hora procurando por elas. – E quando eu ia responder, você fez um gesto para eu esquecer de sua nobre ajuda, se afastando rapidamente. – Vamos logo, Seok. Não quero madrugar fora de casa.

Você pareceu ter ficado um pouco decepcionado com a resposta. Me senti um pouco mau depois dessa noite, mas foi o tipo de coisa que simplesmente aconteceu, Jimin. E ainda assim você não desistiu, mesmo eu falando aquilo.

O primeiro motivo de eu ter te amado tanto é que quando você queria algo, você dava um jeito de consegui, e sem passar por cima de ninguém. Era calado, misterioso, além de um tremendo gato. Mas no fundo, minha mente ainda contava a bela mentira de que você era mais um caminho errado a se seguir.

E eu juro, Minie. Em momento algum me arrependi de não ter seguido minha consciência.

Assinado: O cara que sempre ira te amar.

POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora