carta 4

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Sábado, 16 de setembro

Querido Jimin,

Naquela mesma noite quando eu insisti que poderia voltar para casa sozinho, você disse que havia mais uma surpresa para me mostrar. Não estávamos em um encontro ou algo do tipo, mas me condenei um pouco por estar me sentido em um. Talvez nem fosse mesmo aquilo que você queria, e sim uma simples amizade.

- Por favor, só mais uma surpresa e eu te deixo em casa. - Implorou para mim.

   Eu aceitei, afinal, não havia nada demais. Nós seguimos para um imenso campo dividido por um lago que brilhava sobre a luz do luar. Olhei ao redor, vendo o quão deserto era. Desejei por cobertores e um aquecedor assim que a brisa gélida nos atingiu.

Estremeci, apertando o casaco em volta do corpo.

Me sentei na grama mal aparada, observando as pequeninas ondulações do lago. Você se sentou ao meu lado, jogando por cima de mim um cobertor. Agradeci, imaginando se você poderia ter o poder de ler mentes.

Diferente de mim, você se aconchegou na grama, encarando o céu que começava a se preencher de pequenos pontos brilhantes. Estrelas. Notei que seu suspiro se tornou pesado e te fiz companhia também me deitando.

Passaram-se apenas alguns segundos antes de você falar:

- Por que achou que eu era igual ao Seokjin? - Indagou, com a voz baixa e mansa como se estivesse prestes a chorar.

   Me sustei nos cotovelos para comprovar se era coisa da minha cabeça ou não, mas mal dava para ver seu rosto que estava no escuro. Me deitei novamente tentando formular uma resposta que não fosse tão amarga quanto a comparação anterior.

- É só que... Bem, meu pai costumava dizer que semelhante atrai semelhante. Mas acho que levei esse ditado ao pé da letra. Desculpe.

- Eu também levo esse ditado ao pé da letra, Jungkook. Só não saio por ai dizendo isso na cara das pessoas sem antes realmente conhecê-las.

- Me desculpe. - Abaixei a cabeça, observando o levantar e o abaixo do meu peito por causa da respiração.

- Isso meio que me chateou de verdade, Jeon. Conheço bem o Seokjin. Sei o quão perverso ele pode ser no amor com alguém, mas pretendo nunca fazer o que ele faz.

Pela primeira vez, Park, desde o dia em que nos conhecemos, estava vendo seu lado sensível. Me perguntei como uma simples comparação pode machucar alguém. Foi nesse momento que sua imagem de "Fuck boy" se desintegrou para mim.
   
   Vi uma parte sua que era verdadeira e não um personagem inventado para afastar os perigos do mundo real. Achei a porta do seu coração e sem querer, também achei a chave. Eu só estava na dúvida se seria uma boa ideia abri-la. O que mais tinha ali dentro que você não me mostrava, Jimin?

- Eu fui um idiota ao te comparar com ele. Espero que realmente possa me desculpar, Park. - Falei.

Um sentimento intenso se abateu sobre mim tão avassalador que suspeitei que poderia me rasgar ao meio e tomar vida. Era o seu maldito efeito surgindo em mim; sendo bombeado pelo coração, passando entre as veias e subindo para meu cérebro. Foi quando olhei para baixo, no meio de nós, pude ver nossas mãos entrelaçadas, Jimin. O encaixe era perfeito como se nossas mãos tivessem sido feitas uma para a outra.

- Eu nunca poderia sentir raiva de você, Jungkook. Nem mesmo se quisesse. - Você disse, me olhando. Mesmo que estivéssemos no escuro e mau desse para ver nossos rostos, podia sentir seu olhar no meu tão fundo e magnético que não me importaria de passar a eternidade ali. Mas meu cérebro entrou em alerta, o efeito passou rápido demais quando as dúvidas me atingiram em cheio. Elas explodiram em mim como uma granada com força total.

Tirei sua mão da minha, levantando.

- precisamos ir para casa. Já está ficando tarde e Tae fica preocupado quando eu demoro.

- Deve algo a ele? - Você perguntou. Mas não era o tipo de pergunta com um tom de "Ele é seu pai por acaso?" e sim com um tom que queria saber se havia muito mais que amizade entre nós.

- Não. - Disse, por fim. Você não falou mais nada depois daquilo.

    Me deixou na porta de casa, desejou boa noite e depositou um beijo em minha bochecha, me fazendo sair às pressas do carro para que não visse meu rosto corar.

    Esperei você dar partida no carro e ir embora para enfim entrar em casa. Quando fechei a porta, encostei minhas costas sobre a mesma, deixando que meu corpo derretesse até o chão. Coloquei as mãos sobre a cabeça, tendo os joelhos como apoio. Você estava me torturando ao extremo, Jimin.

Para falar a verdade, eu estava me torturando ao travar cada batalha interna com as minhas dúvidas. E então, Minie, aqui vai mais uma confissão: E.U S.E.M.P.R.E T.I.V.E M.E.D.O D.E M.E A.P.A.I.X.O.N.A.R P.O.R V.O.C.Ê. Feliz? Nunca admiti isso na sua frente e agora me parece mais sensato revelar isso por uma carta. Você, Jimin, sempre me fez ter dúvidas sobre o que poderia acontecer comigo se eu te deixasse entrar. Eu só não queria me machucar mais uma vez, Jimin. Eu precisava disso. Eu precisava sobreviver.

- Nossa. Você parece acabado, amigo. - Escutei Tae falar. Levantei a cabeça, o encarando. - Seja lá quem for esse cara. Ele está te matando.

- Nao fode. - Retruquei. Taehyung riu, saindo do corredor.

Ainda havia a questão de falar quem era para o Tae. Eu não sabia se ele reagiria bem ao saber que era você, Jimin. Então escondi até quando pude. Travei essa batalha na minha mente, sozinho.

Há algo que você precisa saber, Jimin. Em todas as noites, antes de dormir, fazia questão de lembrar a sensação intensa que tive ao sentia sua mão na minha. Eu sei, eu não deveria. Mas através da memória era a única forma de não me sentir menor em relação ao que eu sentia. Sinto muito nunca ter te falado isso.

E o quarto motivo de eu ter te amado tanto é que você sempre mostrou seus lados para mim. Incluindo os mais sombrios. Também te amei muito pela calma que você me dava ao estar sempre próximo.

Do mesmo modo que você acalmava os meus demônios, Jimin, eu acalmava os seus.

Assinado: O cara que sempre ira te amar

POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora