Carta 22

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Domingo, 22 de outubro.

   Querido Jimin,

Acho que fui bobo em achar que dormir seria uma boa escapatória. Bem, passou longe disso. Entretanto, no sonho em que tive, não havia despedidas, nem mentiras, nem traições. Estávamos em um lugar escuro; você estava parado, sorrindo à minha frente, estendendo a mão para mim. Mas quando pensei em pegá-la, nós despencamos no ar. Você gritou meu nome e eu gritei o seu. De repente, não estávamos mais caindo, mas de pé, no que parecia ser uma estrada vazia.

Apenas um metro.

Era tudo o que nos afastava um do outro.

Você sorriu, novamente estendendo a mão em minha direção. Entretanto, por algum motivo, eu não me movi. Um clarão forte se formou na lateral esquerda de seu corpo, se tornando mais intensa a cada segundo.

Seu sorriso se desmanchou, sua mão abaixou. Você virou o rosto na direção da luz e então... Fechei meus olhos com força, podendo escutar apenas o impacto da batida.

Como eu disse, não houve despedidas.

Sentei repentinamente na cama, ofegante, quase como se alguém tivesse me estrangulado enquanto sonhava. Ao tomar consciência de quem eu era, o sonho foi sendo resgatado aos poucos, como se minhas mãos estivesse remexendo o fundo de minha mente, as buscando e puxando para fora do esconderijo.

Meu corpo tremeu em repulsa ao pensamento. E sem perceber, eu ainda apertava o lençol com força. Encarei, confuso, as pernas de outra pessoa cobertas pelo tecido fino.

- Ei, está tudo bem com você? - Alguém ao meu lado Perguntei. Virei a cabeça, ainda atordoado, vendo Namjoon deitado, apoiando a cabeça sobre os braços acima do travesseiro. Seu peitoral a mostra, subindo e descendo conforme ele respirava.

Franzi o cenho, encarando meu corpo que estava do mesmo modo que o de Namjoon.

Meu corpo gelou por inteiro. Automaticamente me forcei a resgatar as memórias da noite passada. Sem sucesso. Eu havia apagado completamente, não é, Jimin?

- O quê? - Indagou. - Há algo de errado?

- O quê nós... - Ele arqueou as sobrancelhas, claramente esperando que eu específicasse a pergunta.

Engoli a seco.

- Nós... - Tentei começar novamente enquanto reformulava uma pergunta mais simples e de melhor entendimento. Mas fui interrompido pelo toque do meu celular acima do cômodo ao lado.

    Namjoon se levantou começando a juntar sua blusa e calça do chão. Eu ainda o encarava abismado, alternando meu olhar entre ele e a cama.

- Atenta. Pode ser importante. - Disse, passando por mim em direção ao banheiro em frente ao quarto.

Peguei o aparelho em mãos, checando o nome na tela. Havia algumas chamadas perdidas de Tae. Até mesmo parecia que eu vivia em mundo cheio de preocupações e a cada instante elas pareciam aumentar mais e mais.

Puxei o ícone verde para o lado, posicionando o celular entre a orelha e o ombro enquanto também pegava minhas calças jeans e a vestia.

- Jungkook? - A voz do outro da linha soava trêmula, mais que o normal. - Onde você está ? Deixei vários recados. Por que não retornou minhas ligações?

Ele parecia nervoso.

- Namjoon me trouxe para a casa dele. Fique calma, estou seguro. - Pelo menos enquanto eu não soubesse a resposta de Namjoon.

- O que houve? - Falei, escutando os murmúrios baixos do outro lado. 

O senhor surgiu, me deixando apenas o barulho de sua respiração pesada.

- Jungkook. - Ele iniciou. - O Jimin está no hospital.

Levantei abruptamente.

- O quê?! - Juntei a camisa, a vestindo rapidamente. - Por quê? Está tudo bem com ele?

- Não...

Houve outra pausa, da qual quase gritei para que Tae me desse uma resposta. E ele deu. Eu só não estava esperando que ele dissesse isso:

- Kook, o jimin sofreu um acidente. - Senti meu coração despencar em queda livre. - Ele entrou no hospital em estado de coma.

Me virei, encarando os olhos negros de Namjoon. O mundo parecia estar em câmera lenta, minie. Larguei o celular, o deixando cair e tilintar sobre o piso.

- O que aconteceu, Jungkook? - Eu não tinha forças para responder. E nem mesmo queria. - Pelo amor de Deus, você ficou mudo de uma hora pra outra?

Namjoon tentou se aproximar e encostar uma das mãos em meu ombro, mas eu recusei, me afastando logo em seguida. O processamento de meu cérebro fora interrompido. Eu não conseguia pensar em nada mais que reproduzir os momentos exatos do acidente.

A culpa foi minha, Jimin. Eu sei disso. Talvez se eu não tivesse sido levado pela raiva, ainda estaríamos aqui. Mas em vez disso, apenas eu fiquei aqui, perdido entre mil memórias das quais não consigo me livrar e nem ao menos quero.

Mas por quê só eu carrego isso sozinho?

- Por favor, Kook? - Namjoon tentou novamente se aproximar.

Respirei fundo, tentando dissipar a estranha raiva que sentia de Namjoon aquela hora, quase como se ele tivesse sido a pessoa que te atropelou.

As coisas estavam piorando, Minie, cada vez mais. E eu não sabia o quanto eu era capaz de aguentar. Meu peito doía, cada isso meu doía. Meus olhos começaram a lacrimejar.

- O Jimin está no hospital. - Sussurrei, quase inaudível, com medo de escutar o que estava dizendo. Encarei Namjoon com o semblante assustado. - Em coma.

Assinado: O cara que sempre irá te amar.

POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora