Quinta-feira, 26 de outubro.
Querido Jimin,
Embora estivesse claro nos olhos negros de seu pai, de que eu era um intruso, não poderia me sentir como um. Mas de algum modo, ter consciência disto, como eu tive da primeira vez em que o vi, não me incomodava mais. Eu não estava lá para ele, Jimin, estava lá para você. E isso bastava.
Quanto mais eles se aproximavam, mais eu conseguia ver, nitidamente, a feição preocupada, quase desesperada, de sua mãe. Ela não pareceu perceber nossa presença ou simplesmente não importava quem ou o que estava ali. Logo os traços de antes se dissolveram, dando lugar ao impacto de se deparar com sua imagem quase morta através do vidro.
Eu quis chorar e abraça-la, Jimin, porque eu sabia exatamente o que ela estava sentindo no momento em que colocou as mãos sobre o vidro e ficou lá, te observando enquanto uma lagrima furtiva deslizava sobre sua bochecha. Mas eu não o fiz. Não podia. Cheguei até mesmo ficar surpreso com o fato de seu pai também ter recebido o impacto e quando nossos olhos se chocaram um contra o outro, eu podia jurar de que ele depositava a culpa em mim.
Se era isso mesmo, Jimin... Ele não estava errado.
Como se algo a tivesse despertado para a realidade, ela olhou para nós, alternando o olhar entre mim e Taehyung.
- O que aconteceu com ele? O que os médicos disseram? – Ela esperou por uma resposta que não veio. Meus lábios se afastaram um do outro, mas as palavras não vinham, não queriam sair de mim a não ser que fosse em lágrimas.
Sua mãe se moveu na direção da porta de seu quarto, estendendo a mão para que alcançasse a maçaneta, mas a mão de Namjoon pesando no ombro dela, a fez parar.
- Sinto muito, Kyung -Soon. – A voz de Namjoon era alta, mas suave, como se ele soubesse que qualquer erro pudesse magoa-la. - Ainda não foi autorizado que entrássemos.
Os dois se encararam, deixando perguntas jogadas na atmosfera, das quais o próprio Namjoon já havia me dado as respostas.
- Namjoon? – indagou, surpresa. Eu não soube decifrar se ela estava bem por vê-lo ou era o tipo de surpresa desagradável.
Ele fez uma reverência com a cabeça.
- É um prazer revê-la.
- Igualmente. – Ela sussurrou.
Seu pai limpou a garganta, puxando toda a atenção para si. Seus olhos semelhantes a um fuzil, passando por cada um de nós de modo nada sutil, estranhamente demorando sobre Namjoon.
- Há pessoas demais aqui. Os reais responsáveis já chegaram. Vocês não precisam mais ficar. – Ele disse a última parte olhando bem para mim.
Acho que nunca cheguei a perguntar para mim mesmo o porquê dele ser sempre rude comigo. No começo, até mesmo cheguei a pensar seu pai era rude com qualquer pessoas por absolutamente nada.
Mas isso não era verdade. Não é, Jimin? Sempre existia um motivo.
Era incrível a rapidez com que uma máscara caia. Ou talvez fosse proposital, já que por mais que eu me esforçasse para encontrar o pai preocupado de um filho que encontrava-se entre a vida e a morte, não conseguia achar.
- Irei ficar. – Me forcei a dizer.
Taehyung me encarou, em seguida, sentando-se ao meu lado.
– Eu também. – Ele disse.
- Me preocupo com o Jimin, Senhor Park. Eu não estou aqui só para não deixá-lo sozinho. Seu filho é importante para mim.
- Sabemos bem o quanto ele é importante para você.
- Então sabe que não vou sair daqui até que ele se recupere.
Na época eu não sabia bem que tipo de impacto minhas palavras causariam. Mas a atmosfera havia sido transformada em algo mais sombrio, mais difícil de respirar. As feições da senhora Park eram tensas e eu conseguia ver o quanto seu pai se controlava. Ele não podia me pôr para fora, mas eu sei que se pudesse, teria feito.
Kyung -Soonalternou o olhar entre mim e o senhor Park, depois o voltando para mim como se finalmente houvesse descoberto um segredo. Havia duas pequenas chamas de esperança em seus olhos tristonhos. Talvez todos ali, tivessem descoberto o segredo.
Tae segurou minha mão, chamando pelo meu nome, dizendo que de qualquer modo, o Senhor Park estava certo: Eu precisava descansar. E Namjoon veio com mais um de seus discursos bem elaborados, dos quais rejeitei antes que começasse. Eu não estava ligando para descanso ou meu bem estar, Jimin. Eu só queria ser a primeira coisa que você veria ao acordar. Eu queria pedir desculpas e te sentir em mim novamente.
Chegou uma hora em que eu simplesmente não aguentava te ver daquela forma. Mais uma vez o sentimento de querer mudar as coisas havia me invadido e, como eu não tinha esse poder, continuei com aquele sentimento inquietante de mãos abanando. Encarei o relógio de pulso segundos após uma enfermeira entrar em seu quarto e te medicar.
Eram vinte e três em ponto. Meu corpo não estava bem. Eu reconhecia. Mas não queria ir embora.
Tae e Namjoon se encarregaram de cuidar de mim, já que eu mesmo não estava ligando para isso. Para falar a verdade, era o tipo de situação em que eles tentavam me fazer engordar, comprando comida com teor calórico muito maior do que eu estava acostumado a comer.
Como um hospital não tinha todos os recursos necessários para se vários dias seguidos lá, eu era obrigado a ir para casa tomar banho e dormir um pouco. E todos os dias, Jimin, eu ia e voltava, esperando que a cada chegada minha, te encontraria acordado. Sua mãe sempre estava lá, de prontidão, ao seu lado.
Ela mexia no fino cordão que usava no pescoço, movendo o pingente de cruz para lá e para cá. Quase nunca conversávamos. Ela respeitava meu espaço e eu respeitava o dela. Mas naquela noite em especial, Jimin, foi diferente.
- Não vi mais o senhor Park vir ao hospital. – Comentei, incrivelmente do nada. pareceu ter despertado de algum devaneio próprio. Sua mente parecia estar enevoada, distante dali.
O único som entre nós vinha da máquina de monitoramento cardíaco.
Os cantos de sua boca perfeitamente contornada por um batom nude se curvaram em um sorriso fraco. Ela mexeu no pingente de cruz antes de me responder.
- Ele vem. – começou. – Todas as tardes, quando tem uma folga do trabalho. A visita dura cerca de quinze ou vinte minutos.
O turno da tarde que se estendia de quinze a vinte minutos, na verdade, era o tempo em que eu saia do hospital para ir em casa. Eu não me surpreenderia se Kyung -Soon o avisasse para vir a cada vez que eu saia. Talvez fosse melhor assim.
Levantei as sobrancelhas, pressionando os lábios. E mesmo que eu não tenha perguntado mais nada, ela continuou.
- Kwan age do modo que age, Jungkook, porque ele quer proteger o filho de seja lá o perigoso que ele veja. Você não precisa entender isso. Nem mesmo o Jimin.
Ela acariciou sua cabeça, deslizando a mão até o limite.
- Entendo. – Sussurrei.
- Jungkook...
- Kyung-Soon...
Agora eu tinha sua atenção total apenas para mim.
- O quanto você se importa com meu filho? – Franzi o cenho por meio segundo, confuso com a pergunta.
- Bastante, senhora Park. Embora o "bastante" não seja uma palavra de sentido suficiente para descrever. – Eu disse. Ela segurou o cordão novamente, só que com mais força.
- Então me prometa uma coisa. – Ela parecia determinada. Seus olhos que antes eram enevoados, ficaram duros e mais negros, quase iguais aos de seu pai.
Balancei a cabeça.
- Que Independente do tipo de relacionamento que você tenha com meu filho, vai se afasta dele.
Engoli em seco, sem entender ou melhor, sem acreditar.
- Para sempre. – completou.
Assinado: O cara que sempre irá te amar.
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POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)
FanficJungkook precisa lutar pelo amor de Jimin. Mas há algo que os impedem de voltar um para o outro: A tragédia ocorrida com ambos. *Não aceito adaptação desta obra* *Plagio é crime.* 1° Lugar em Escritores Estrelas de Prata