Epílogo - Uma Obra de Arte

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Anos depois...

Primeiro surgem as mãos de Tae no batente da porta, seguindo-se da cabeça. Ele lança um olhar especulativo para a camisa de seda azul amassada entre os dedos de minha mão direita e me ocorre que talvez ele a reconheça; sendo assim, a coloco fora do alcance de seu olhar, abaixo de algumas outras peças de roupas espalhadas na cama para evitar um amontoado de perguntas. Antes que eu abra a boca, Taehyung suspira e diz estar cansado demais das paredes da própria casa.

— Preciso de ar puro. — Explica, ainda que seu ar puro o esteja esperando em meio a uma noite cruelmente fria.

— Tem certeza? — Indago. — Prefiro passar meu aniversário cansado das paredes de sua casa.

Taehyung entorta a boca e caminha até sentar na beirada da cama. O dedo indicador da mão esquerda timidamente puxa uma de minhas blusas para si e brinca de amassá-la e endireita-la ao mesmo tempo.

— Este é o primeiro ano que passa comigo desde que foi embora. — Sussurra. — Não é justo comemorar os vinte e quatro anos dentro de casa.

E para mim aquilo foi o bastante. Peço um pouco mais de tempo para terminar de arrumar minhas roupas no meu antigo armário em meu antigo quarto que, por sinal, parece intocado desde o dia em que viajei à Daegu. Para falar a verdade, sei que Taehyung nunca mais teve coragem de dividir o apartamento com outra pessoa; disse que tirar minhas coisas dali e ceder o espaço para alguém novo seria como dizer um adeus definitivo. E era justamente isso que ele não queria.

— No começo eu gostava de fingir que você chegava tarde todas as noites e saia muito cedo nas manhãs. Funcionou até certo ponto. Depois me acostumei com o silêncio. — Disse na primeira noite em que cheguei.

Com minha presença ali Taehyung se mostrou mais radiante. Lembro do entusiasmo exagerado dele no telefone quando liguei no segundo dia após minha formatura da faculdade para dizer que havia comprado uma passagem de volta para casa. E como se eu tivesse lido seus pensamentos, consegui impedi-lo de gastar suas economias para vir me visitar em Daegu. Agora, graças a bendita lábia de Taehyung — que ainda possui o mesmo efeito em mim como na época do colegial — decidimos passar a noite de meu aniversário no Bar Meals. O bar no qual os melhores acontecimentos de minha vida tiveram sua origem. A primeira amizade; o primeiro amor.

— Ponha sua melhor roupa, Jeon Jungkook. — Tae diz, pegando uma camisa qualquer do amontoado em cima da cama por entre os dedos somente para, em seguida jogá-la no exato lugar de antes. Um sorriso brincalhão beirando os lábios. — Aniversários costumam ser mágicos.

Franzo o cenho com a atuação quase patética à frente. No entanto, ao invés de responder minha pergunta oculta, seu sorriso aumenta e ele se arrasta para fora da cama deixando um rastro amassado pelo lençol como se fosse o caminho percorrido por uma cobra. Ele está prestes a sumir no corredor quando pergunto:

— O que você anda tramando?

Ele não responde.

X

É ingênuo de minha parte acreditar que eu não seria atingido pelas lembranças daquele lugar. Estou de braços cruzados com Taehyung e, ainda assim, sinto minhas pernas vacilarem porque, quanto mais perto da entrada, mais tenho a sensação de estar revirando uma estante histórica do passado. Na parte de cima está uma caixa com as lembranças de Park Jimin. Eu retiro a tampa e me deparo com um de seus melhores sorrisos e cantadas nada discretas, além de momentos nos quais eu me escondia como uma criança boba que não aceitava estar apaixonado por alguém. Mas há tanta poeira nela que fica difícil de respirar e meus pulmões trabalham pesadamente para funcionarem. A conclusão é, depois de todo esse tempo, Park Jimin ainda me deixa sem ar.

POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora