Carta 13

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Quarta-feira, 04 de outubro

Querido Jimin,

Na manhã seguinte, estava checando minha mala para ter certeza de que não havia esquecido nenhum pertence.
   Os dias em que passei fora – claro, por necessidade da saúde de minha mãe – acarretariam mais tarde nos resultados da escola. Tae me enviou uma mensagem dizendo que já estavam em semana de prova, e bem, eu já estava ferrado logo no início.
  Quando fechei o zíper da mala, vi pelo canto do olho, Yoshiba parada na porta.

- Pretende voltar o mais rápido possível, não é? – Indagou.

- Não se esqueça que eu tenho uma vida lá, certo? Não posso simplesmente abandonar tudo e vir morar perto da mamãe. – Embora eu finalmente tivesse um motivo para não abandonar a cidade e Tae.

Yoshiba bufou, irritada.

- Por que apenas eu tenho que cuidar da mamãe? – A olhei, analisando bem sua pergunta.

- Yoshiba... Você está reclamando de cuidar dela? – Ela recuou, logo em seguida respirando fundo. Yoshiba caminhou até minha cama e se sentou. Seus ombros se curvaram como se ela carregasse um grande peso nas costas.

- Às vezes cansa, sabia? E eu estou sozinha nessa.

Quando eu ia abrir a boca para protestar, um raio de consciência atingiu minha cabeça. Yoshiba teve que parar os estudos para das assistência a mamãe enquanto eu morava do outro lado do mundo e recebia parte do salário que mamãe tinha para poder estudar.

– Ah qual é? Você teve sorte. Não precisa deitar a cabeça de noite com um alarme que toca de duas em duas horas só para checar se a mamãe está respirando.

Eu não tinha o que falar. Ela abaixou a cabeça, encarando a própria mão.

- Você nem sequer passa o natal com a gente, Jeon. – Resmungou. – Não sabe o quanto a mamãe fica decepcionada quando você liga dizendo que não pode vir.

- Desculpe. – Sussurrei. Foi exatamente nesse momento, Jimin, em que percebi uma coisa. Fiquei tão reprimido pelo que o papai fez com a gente que tinha medo de ser como ele. E foi por me aliar a esse medo que nunca consegui ver que estava fazendo exatamente tudo igual. Minha agressão poderia não ser física, Jimin, mas a agressão emocional que eu estava causado a minha família era pior do que qualquer coisa.

Eu nunca estava realmente presente para elas.

Deixei a mala de lado e abracei Yoshiba. Prometi a ela que viria para todos os natais e férias que aparecessem pela frente; ligaria pelo menos duas vezes por semana. Dessa vez eu estaria presente para elas.
    Segui de encontro à mamãe. Ela estava no jardim dos fundos, molhando as rosas que tinha com um balde de água e um pequeno pote.

- Ah, Jeon, querido, pode me fazer um favor? – Ela me passou o pequeno pote com água até a boca. – Molhe essas duas plantas por mim. Minhas costas estão começando a doer de ficar agachada por muito tempo.

Eu molhei as rosas. Sorrimos um para o outro até ela parar, andar um pouco para trás e admirar sua bela obra.

- Venha até aqui, veja como elas estão lindas! – Fui para seu lado, passando meu braço por sua cintura e a abraçando.

   Seu corpo, suas roupas, tudo estava quente devido ao sol. O ar estava fresco com as plantas balançando de um lado para o outro. Me agarrei mais forte a ela com vontade de chorar, desejando guardar aquele momento para sempre. Meus olhos marejaram e eu lutei para que nenhuma lágrima caísse. Mas o instinto de mãe é mais do que um simples sentimento. É como uma fio amarrado em nossos pés por onde passam nossos sentimentos para elas. Sim, elas sempre sabem quando algo está errado.

POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora