Carta 32 - Parte 1

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Sábado, 11 de novembro

Querido Jimin,

Foi torturante ter que voltar para casa. Sendo sincero, para o que sobrou dela. A centímetros da entrada, meu coração disparou e minhas mãos ficaram escorregadias. Precisei abri-las e fechá-las para ter certeza do sangue circulando. Aquela não era minha casa, Jimin. Nem sequer parecia ter alguma coisa a ver comigo. O ar estava pesado, as paredes escuras em consequência das janelas fechadas, mas eu não gostaria de abri-las de qualquer forma.

Meu lar de verdade, Minie, carrega o teu nome.

Mas, por enquanto, eu tinha que ficar ali. Deixei os sapatos esparramados no tapete de boas-vindas para sentir o chão frio embaixo dos pés e entrei.

Não estávamos completamente bêbados

Estreitei os olhos na escuridão e a respiração se tornou pesada. As palavras iam e vinham como a bile brincava de descer e subir em minha garganta. Eu sentia a necessidade de tirar cada vestígio de Namjoon do meu corpo, da minha alma.

O beijo de Judas

Lancei os braços pela bancada da cozinha. O estridente som de copos de vidro espatifados no chão em pedacinhos miúdos, talheres tamborilando entre si transformou o piso numa armadilha para o próprio dono. Admito que pensei em acolher a sensação de alívio em pisar em cada caco de vidro e aceitar a dor de bom grado. Não me rendi, se é isso que está se perguntando agora.

Eu estava tão cansado de ser pisoteado, Jimin. Tão cansado de ter que lidar, não só com as minhas feridas, mas com as suas também. Entendi que, por mais que amemos outra pessoa, não é justo carregar a dor delas como nosso próprio fardo. Não é justo nos rasgar ao meio para costurar quem amamos. E o principal, é doentio de nossa parte e um maltrato com nossas próprias almas achar que o bom é estar morto para reviver outra vida.

Evitei olhar para o banheiro ao passar no corredor em direção ao quarto. Mas foi impossível ignorar a água ao redor de mim, de senti-la. Joguei o corpo cansado na cama e fechei os olhos. Eu sabia que nem mil anos de sono profundo seriam capazes de recuperar alguma vitalidade perdida nisso tudo. Depois de um tempo, meu celular tremeu no bolso. Estiquei a mão para pegá-lo sem abrir os olhos. Era Tae. Reconheci a voz no instante em que perguntou: Você está bem? E, antes de eu responder a primeira pergunta, me encheu de outras mil:

- Porque me ligou tantas vezes? Aconteceu alguma coisa?

Eu podia vê-lo caminhar para lá e para cá. A mão segurando firme o celular contra o ouvido.

- Vocês estão bem? O Jimin está bem?

- Jungkook? Está me ouvindo?

E eu disse, meio absorto das coisas ao redor:

- Eu estou te ouvindo.

E o escuro do quarto nunca me pareceu tão acolhedor.

Os segundos correm e chegam perto de virarem minutos.

- Cacete, Jungkook, onde você está?

- Eu estou aqui.

E estou com medo.

Ele suspirou.

- Sei que não irá me contar o que está acontecendo de verdade, então pegarei o primeiro voo para casa agora mesmo. - Disse e desligou.

O egoísmo rastejou envolta dos meus pés e eu o chutei de volta para o lugar porque precisava de Tae ao meu lado. Precisava de alguém que não fosse me enganar como Namjoon fez; precisava de alguém que me ouvisse como você não fez, querido.

POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora