Carta 23

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Terça-feira, 24 de outubro.

Querido Jimin,

Eu era semelhante a um prédio desmoronando rapidamente em direção ao chão, sem base e sem estrutura, quando processei as palavras de Tae. Não posso te dizer que era algo como levar um soco no estômago ou a uma faca perfurando o peito lentamente.

   Não, era algo muito maior que a própria realidade; impossível de caber em um coração humano, tanto, que esse algo maior começava a transbordar em lágrimas pelo meu rosto. Eu me sentia quente e emocionalmente descompensado.

Não haveria lugar para mim no mundo sem você nele, Jimin. Foi isso o que conclui quando as portas do elevador se abriram, revelando o andar em que você
estava internado.

  O corredor parecia nunca acabar, quase como se fosse infinito, mas ao fundo conseguia ver Taehyung sentado em uma das cadeiras de espera, inclinado para a frente, sustentando o corpo sobre os joelhos enquanto encarava as próprias mãos.

Eu escutava apenas o som de meus passos pesados e os de Namjoon atrás de mim, como se fôssemos os únicos ali presentes.

Me encontrava no limite, Jimin, ou pelo menos, quase próximo a ele.

- Tae... - Falei com dificuldade, ao me aproximar. Ele levantou a cabeça, o olhar caído e triste.
Instantaneamente virei o rosto para o lado, me deparando com o que eu mais temia.

Eu desejei, Jimin, que fosse tudo uma miragem.

Toquei o vidro que nos separava, observando seu corpo imóvel em cima da cama; seus olhos fechados, como se você já estivesse morto e seu rosto inteiramente machucado com alguns cortes e partes inchadas, fizeram meu coração se apertar a ponto de sentir o nó se formando na garganta e os olhos marejarem.

- Eu preciso entrar. - Me movi até a porta, meus dedos quase tocando a maçaneta, mas as mãos de taehyung em contato com meu peito, interromperam.

- Ainda não podemos entrar, Jungkook. - Ele disse.

As lágrimas desciam quentes por minhas bochechas. Segurei um de seus pulsos, tentando afastá-lo.

- Não me interessa. Eu preciso entrar!

Taehyung apenas envolveu seus braços ao redor de mim, me apertando contra si. E embora eu lutasse para me afastar, ele tinha mais força do que eu. Mas não se tratava disso, se travava de que eu estava alterado e ele sabia bem como lidar comigo nesses momentos.

- Shi... - Ele me apertou mais e eu me senti se desmanchando em seus braços, cansado demais de sentir dor. Cansado demais de lidar com as coisas sozinho.

- Tae, me deixe entrar... Me deixe... - O abracei de volta, inconscientemente.

- Agora você precisa ser forte, Kook. Por vocês dois. - Disse, Tae, fungando em meu cabelo.

- Como aconteceu? - Indaguei, assim que tive coragem de sair de seu abraço, limpando os cantos úmidos de meus olhos.

O silêncio nos envolveu segundos antes de Tae me responder. Ele olhou por cima de minha cabeça, cujo tive certeza que era direcionado para Namjoon.

- Ele foi atropelado, Jungkook. - Fechei meus olhos com força, sentindo o impulso das palavras. - Algumas pessoas confirmaram que ele estava bebendo em um bar. Jimin foi expulso do local depois de ter pego uma briga com um cara e depois saiu, irritado.

Olhei para Namjoon através do reflexo do vidro. Ele estava da mesma forma que eu ficará quando me deparei com sua imagem lamentável, encarando fixamente.

Todo o rubor que lhe dava vida, havia sumido, deixando apenas a pele clara e pálida.

- Os médicos confirmaram o nível de álcool no sangue dele. Estava realmente alta.

POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora