POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)

Muito depois do fim

P.O.V Jungkook

Dias depois...

A cama range com meu peso. A madeira está velha e o colchão, antes fofo e macio, está duro e decadente. Gosto de vê-la como um reflexo de mim; gosto de pensar que, quando eu passar pela porta do meu quarto e deixar as paredes deste lugar para trás, estarei deixando o antigo Jungkook deitado nesta cama. O verei afundar dentro dela e sumir porque, depois de tudo, o que ele merece é um descanso. Tenho outra alma agora, outra visão das coisas. Quando se tenta por muito tempo, e ainda assim nada caminha para a frente, significa que, de fato, é hora de parar. Hora de ir embora e dizer adeus porque não há outro modo de quebrar uma parede sem que a espere cair por si própria.

Nós lutamos até onde podíamos, sei disso. E também respeito a decisão de Jimin quando me disse que o certo, pelo menos por enquanto, seria seguir sozinho. E se fazer isso é o mesmo que acolher uma vontade dele, então eu faço porque o amo. O amo o suficiente para lhe dar o seu espaço. O amo o suficiente para saber que, talvez um dia, nos reencontraremos tão amadurecidos que as lembranças boas e ruins viram à superfície e elas não irão nos atingir como fazem agora.

É estranho olhar para a mala aberta em cima da cama e saber que estou indo embora. Está tão calmo e silencioso dentro de mim que reconheço o pequeno grão de pânico surgindo no fundo e então me concentro no som de água caindo no banheiro a poucos metros de mim. Solto o ar preso nos pulmões e direciono meus pensamentos para Taehyung. Deixá-lo para trás também é difícil e doloroso e sei que ele sente o mesmo, embora disfarce com um sorriso discreto e diga: Apenas faça o melhor por você. Penso que sem Taehyung eu teria desmoronado muito antes do previsto e me sinto agradecido por tê-lo conhecido em uma das famosas noites de bebedeira no primeiro grau do ensino médio. Agradeço por ter um amigo para a vida inteira como sempre desejei, um amigo como Taehyung. Um amigo exatamente como Taehyung.

A brisa invade o recinto e esvoaça uma das folhas do calendário, onde o dia 13 de abril está marcado por um X com piloto azul. O dia em que estou partindo fora cuidadosamente escolhido com a certeza de que haveria tempo o bastante para me despedir de tudo e agora, diante dos meus olhos, aquele tempo que antes pareceu muito se tornou pouco. E as despedidas foram insuficientes para me acalmar.

— Jungkook? — Ouço Tae atrás de mim enquanto ele escancara a porta por completo e para no batente, incerto se deve entrar ou não. Viro-me, vendo pés descalços, uma toalha ao redor dos ombros por cima da camiseta branca e o cabelo de um ruivo desbotado umedecido.

Nossos olhos se encontram e seus lábios também hesitam. Ele suspira ao encarar a mala. Por que é tão difícil deixar as pessoas boas para trás? Por que deve ser difícil carregá-las no peito? Por um instante tento reconsiderar em ficar aqui e deixar o destino ditar o resto. Mas meu coração gritou de volta: Por favor, vá e se torne alguém novo. Alguém mais seguro de si. Você merece isso.

— Eu ia perguntar se já está tudo pronto, mas, pelo visto, sou o único atrasado da história, não é?

— Sem pressa. — Eu digo, e desejo que ele passe mil anos preparando nossa saída porque pelo menos assim meu coração vai estar em continua expectativa de ir embora enquanto eu permaneço aqui, me despedindo por toda a eternidade.

XXX

Olho para trás uma, duas, três vezes. Vejo Taehyung acenar para mim em todas as ocasiões em que meu espírito inquieto se nega a somente ir em frente e entrar no avião. Há exatas dez pessoas na minha frente e penso que talvez eu tenha esquecido de pegar alguma coisa essencial para minha viagem, então aproveito para vasculhar a mochila, mas é apenas uma desculpa para ganhar tempo porque, no fundo, ainda cultivo a esperança de vê-lo. Tudo está em ordem, fiz a questão de não esquecer nada. Encaro a entrada do aeroporto e fico na ponta do pé para conseguir ver além das cabeças, mas ninguém como ele entra. Ninguém que, de fato, seja ele, entra por ali.