Carta 17

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Quinta-feira, 12 de outubro.

Querido Jimin,

Depois da escola, fui ao encontro de Namjoon na cafeteria a alguns quarteirões da escola. Deixei uma mensagem no seu celular, dizendo que precisava sair e que só voltaria a tarde. Mas é claro que não entrei em detalhes de como quem estava saindo, embora eu soubesse que você deduziria em cheio.

Quando entrei, escutei acima de mim, o sino soar, avisando que mais um cliente havia entrado. Recebi o olhar caloroso de algumas garçonetes, mas apenas me dirigi para a última mesa do recinto, onde Namjoon já se encontrava. Ele acenou para mim, sorrindo, como se eu não o tivesse visto.

Me sentei, indo direto ao ponto.

- E então, o que quer me falar? - Ele fingiu estar ofendido.

- Vamos com calma, Jeon. Que tal pedirmos um café primeiro? - Namjoon acenou para uma das garçonetes e a mesma veio, perguntando nossos pedidos.

- Eu não quero nada, obrigado. - Respondi quando ela se dirigiu a mim. Havia um pouco de decepção estampada no rosto de Namjoon e, esperando a garçonete se afastar o suficiente, começou a falar.

- Tudo bem. Como posso começar a fala sobre isso com você? - Namjoon colocou a mão sobre a boca, olhando para um ponto qualquer na mesa rústica de madeira.

- Que tal pelo princípio? Do tipo, como você e o Jimin se conheceram? - Sugeri. Namjoon me encarou, meio apreensivo.

Ele sacudiu os dedos antes de começar.

- Bem, praticamente crescemos juntos. Minha mãe era amiga da mãe dele e, obviamente, meu pai se aproximou também. Nossas mães fizeram de mim e do Jimin um protótipo perfeito da amizade que elas tiveram, mas acho que houve um erro na conta matemática.

Por meros segundos, imaginei você, Jimin, uma criança pequena e indefesa que corria pela rua ao lado de Namjoon. A imagem teria sido reconfortante, se naquela hora eu não estivesse começando a sentir ciúmes do que vocês tiveram juntos.

- Que tipo de erro? - Indaguei. Namjoon sabia o que viria a seguir e parecia fora de sua zona de conforto. As lembranças pareciam mais amargas do que nunca. Eu conseguia ver em seus olhos dele que se ele tivesse a escolha de apagá-las, ele o fará.

- Nossa amizade era verdadeira, Jeon, mas conforme fomos crescendo e entendendo a nós mesmos e aos nossos sentimentos, isso se tornou uma coisa maior. - Ele riu ao lembrar e eu podia sentir o meu interior queimando. - O sentimento se tornou incontrolável. Tenho certeza que isso torturou tanto a ele como a mim.

- Por que? - Falei entre os dentes.

- Por que? - Repetiu. - Bem, é diferente quando você cresce em meio a uma família que não tem preconceitos em relação a sua preferência sexual. Mas quando você não tem esse apoio, Jeon, a coisa é mais complicada.

"Quando Jimin descobriu o que realmente sentia por mim e sabia que era recíproco, ele ficou mal. Tão mal que havia noites de eu não dormir para ter certeza de que ele não faria nada de errado.

" A coisa piorava quando o pai dele nos falava coisas como "nunca aceitarei um filho gay na família" ou "não crio meu filho para ser uma bicha idiota".

" Veja bem, eu não tinha problemas com isso na minha família. Inclusive, eles sabiam de mim e do Jimin, mas a cada vez que eles diziam que podiam conversar com os pais dele, o garoto ficava branco.

" O erro do Jimin é nunca enfrentar o pai dele e levar como desculpa para se esconder e dizer que só não quer denegrir a imagem pública do pai."

Namjoon parou, bebericando a xícara de café. A fumaça saia do copo, se dissipando no ar.

Meu coração estava apertado como se mãos estivessem ao redor dele, o espremendo. Eu não gostava nem um pouco de te imaginar reprimido ou com medo, do mesmo modo que Namjoon dissera. Aquela conversa estava me deixando com náuseas e um mal estar tremendo no peito.

Fechei meus olhos por um momento, torcendo para me acalmar.

- Está tudo bem? - Indagou, Namjoon. Ao reabrir os olhos, balancei a cabeça.

- Como terminaram? - Perguntei. Por baixo da mesa, em meu colo, eu mexia os dedos compulsivamente.

Namjoon repousou a xícara sobre a mesa, logo em seguida se recostando no banco de couro marrom escuro.

Ele olhou para mim, e então olhou para o teto. Percebi que em seus olhos, havia sim, uma tristeza guardada. Independentemente do que ocorreu naquela época, Jimin, ele estava arrependido e tinha suas feridas.

Mas então Namjoon me encarou, agora com olhos sombrios e escuros, dizendo.

- Um dia eu simplesmente precisei ir embora. - Franzi o cenho. Namjoon riu da minha cara, continuando. - Ah qual é, Jeon? É a lei natural do universo, é como as engrenagens das nossas máquinas funcionam: Um dia você simplesmente olha para a pessoa ao lado e admite a si mesmo que ela não é o suficiente, e então você procura outro amante para cometer os mesmo erros. E está tudo bem porque é normal.

- Não é isso que acontece entre eu e o Jimin. - Protestei. Namjoon me encarou com ironia, praticamente debochando da minha cara.

- Jeon Jungkook, achei que você fosse mais esperto do que aparenta ser. - Comentou. - Isso é o que você não quer que aconteça. Há uma diferença muito grande entre as duas.

- Você está errado. Eu nunca vou me cansar do Jimin e tenho certeza que ele também não vai. - Procurei pelas palavras, as deixando vir. - Eu... Eu amo o Jimin, e nada, nunca, vai me tirar dele. Sei que ele pensa o mesmo que eu.

Permanecemos nos encarando por alguns segundos até Namjoon dar de ombros e se levantar da mesa se curvando sobre mim, em direção ao meu ouvido. Eu sentia sua respiração batendo em minha bochecha.

- Pense no amor como um jogo de cabo de guerra, Jeon. Uma hora, um dos lados soltará a corda e se esse lado não for o seu, sugiro que esteja preparado para a queda. - Concluiu, indo embora. O vi passando pela janela de vidro, indo em direção a moto e logo em seguida sumindo no limite de minha visão.

Passei as mãos pelo cabelo, exasperado. Durante todo o caminho, Jimin, as palavras de Namjoon bombardeavam minha mente. Pensei sobre você, sobre nós, sobre o que estávamos fazendo.

Eu mentiria se dissesse que naquele momento não duvidei do meu amor por você, eu mentiria se não dissesse que naquele momento eu tive medo de ser o primeiro a cair e até mesmo cogitei em minha mente o momento exato que eu te diria para partir. Mas a imagem em minha cabeça foi tão real, Jimin, que meu coração se apertou e meus olhos marejaram.

Eu não iria sobreviver se te deixasse ir, Jimin, então decidi que se fosse você a soltar a corda primeiro, eu aceitaria a queda.

Assinado: O cara que sempre ira te amar.

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Gente, carta 17, eu to babando heuehueheu história com cap mais longo que já escrevi. DEUS É TOP. Mas então, ando meio sumida sem interagir com vcs, né? Sinto a falta de vcs. Muita! Mas é por motivos de estudo. Só que eu tb tava pensando em fazer um grupo no whats. O que acham? Digam pra mim, e eu organizo numa boa

POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora