carta 28

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Sexta-feira, 03 de novembro

Querido Jimin,

Sabe como é tentar amar alguém que não quer ser amado? Ou que, simplesmente te joga para o lado porque não quer receber um de seus carinhos? Quando entrei no táxi, não precisei dizer palavra alguma para o taxista, ele apenas puxou a marcha e fez a volta para pegar o caminho de casa. O banco estava ligeiramente desconfortável, não importa quantas posições eu tentasse, até perceber que, não era o couro bem polido do automóvel, e sim a atmosfera entre nós.

Te observei durante boa parte do caminho, onde você permaneceu com o rosto virado para a janela, ainda que não pudesse ver nada; ela estava aberta, lançando vento sobre nós, seus cabelos esvoaçavam no rosto, mas seus dedos não se mexiam para afastá-los. E, sem mais nem menos, isso partiu meu coração em mil pedaços que tive dificuldade de juntar. Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu respirei fundo, tentando fazer o bolo na garganta sumir, mas como fazer todo o estrago desaparecer, Minie?

Sua mão esquerda repousava em cima da linha dividindo seu banco do meu, tão sozinha que parecia chamar a minha para si, e eu a cobri como se aquele gesto pudesse aliviar nossas dores. Dois segundos, Jimin. É o que você conseguia aguentar perto de mim? Fora seu limite, amor? Depois de dois segundos, tudo que eu tinha era um vácuo. Você fingiu coçar a orelha, para então repousá-la entre as coxas, junto da outra. O caminho silencioso, tenso e tão triste que me deixava com vontade de correr para outro lugar. Ou apenas te abraçar, dizer que tudo iria terminar bem porque eu acreditava nisso. Ainda acredito...

Tudo bem, ele só precisa de um tempo para assimilar tudo. Veja só onde estamos, Jungkook, ele precisa desse tempo para si.

O carro parou bem em frente de casa, e, por alguns segundos, continuamos parados nos mesmo lugares. Encontrei o olhar acinzentado do motorista e só então me movi. Fui até o seu lado do carro enquanto o cara, do qual nunca soube o nome, retirava nossa bagagem da mala, colocando-as perto das escadas. Segurei seu braço e você desviou, dizendo que ainda conseguia sair de um carro sozinho. Você estava tão azedo, querido, cuspindo um ódio que eu sei que merecia, mas que me doía tanto. Meu ombro direito servia de apoio para você, te guiando além das três escadas iniciais de casa, após eu remexer o bolso e pegar as chaves.

- Aqui - Eu disse, te posicionando atrás de mim, para que eu pudesse abrir a porta sem esbarrar no corpo que eu amava. O tilintar constante dos metais batendo entre si fez com que você inclinasse a cabeça, atento ao som. Antes mesmo de eu achar a chave certa, você esticou a mão, esbarrando numa parte qualquer das minhas costas.

- Me deixe tentar. - Pediu. Te encarei, um pouco confuso e meu coração fora imediatamente esmagado. Tentei protestar, mas quem podia ir contra uma ideia totalmente enfiada em sua cabeça? Você lembra, não lembra, Jimin? Quando você queria, você conseguia. Ressaltei isto em cartas passadas, e mais uma vez, minha concepção se provava ser real.

Achando a chave certa, a repassei. Primeiro você tateou a porta em seguida achando a fechadura; com o dedão, sentiu o minúsculo buraco para enfim destrancar a porta. Meus lábios quase se curvaram em um sorriso miúdo, mas suas feições permaneceram sérias. Ainda apoiando-se em meu ombro, sugeri que sentasse no sofá, mas você recusou, ficando de pé no centro da sala. Peguei as malas e coloquei para dentro, só então me dando conta do quão desconfortável estávamos na presença um do outro, como se você não estivesse de fato ali, comigo.

− Preciso tomar banho. - Sussurrou, quase inaudível. - Odeio ficar com cheiro de hospital.

− Ah, sim, claro. Eu... Eu vou preparar tudo.

Você bufou, impaciente, a voz saindo ríspida.

− Apenas me dê uma tolha, Jungkook. Eu posso me virar.

POR TRÁS DAS MEMÓRIAS jjk + pjm (Finalizada 09/03/19)Onde histórias criam vida. Descubra agora