Capítulo 5 - A família Cuatrimossi

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I

Por um momento pensei que estivesse em uma torre de babel. Era muita gente falando ao mesmo tempo. Eu já estava acostumado com a verborragia típica das refeições italianas caseiras, mas, ainda assim, aquilo me espantou.

O grupo era formado por quatro pessoas, provavelmente de outra região da Itália. O sotaque parecia o de habitantes da região do Vêneto.

Decididamente, eu não havia escolhido uma boa hora para comparecer à delegacia. Mesmo assim, permaneci esperando, pois gostaria de falar com o inspetor.

Uma senhora de meia-idade, gordinha, esbravejava em uma voz esganiçada:

― Eu quero falar com o delegado imediatamente.

― Calma, Adelaide. Bartolomeo deve estar em algum canto por aí. Deve ter se perdido ou algo parecido.

― É mesmo, tia Adelaide. O tio Timoteo está com a razão ― disse uma jovem ruiva. ― Bartolomeo já é bem crescidinho! Não sei para que todo este estardalhaço. Logo, logo ele aparece como se nada tivesse acontecido.

― Pode realmente ter acontecido algo sério ― sugeriu uma mulher baixa e loira, a mais equilibrada do grupo.

Um sargento teve que tomar as rédeas da situação.

― Calma! Calma! Vocês serão atendidos. Mas é preciso silêncio.

Pouco depois a porta da sala do inspetor Carboni se abriu e ele apareceu com cara de poucos amigos.

― O que está havendo? Que bagunça é essa aqui na minha delegacia?

Parece que a simples presença do inspetor intimidou o grupo e, por alguns instantes, o silêncio imperou.

― Meu filho desapareceu ― despejou a senhora gordinha. ― O senhor precisa encontrá-lo e...

― Calma, senhora...

― Adelaide. Meu nome é Adelaide Cuatrimossi.

― Sra. Cuatrimossi ― o inspetor disse com firmeza sem perder a polidez. ― Peço que entre no meu gabinete para que possa explicar melhor esta história.

Ela então se virou para o grupo que a
acompanhava e disse:

― Venham!

O inspetor Carboni deu uma tossidinha.

― Desculpe, Sra. Adelaide. Preferiria interrogá-los separadamente. São os meus métodos.

A senhora protestou:

― Que diferença isso faz? Imagino que o senhor deva ter muito trabalho a fazer e um caso banal de desaparecimento de um jovenzinho aventureiro pode roubar o seu preciosíssimo tempo. Não sei onde eu estava com a cabeça quando decidi aceitar a sugestão de voltar até o hotel para prestar queixa do desaparecimento de Bartolomeo. Devia ter ido a outra delegacia e...

― Desculpe, doutor ― interveio o marido. ― Ela está um pouco nervosa.

O inspetor Carboni percebeu que seria mais produtivo rever seus métodos e interrogar todos de uma vez. Quem sabe assim pudesse despachar o caso para o tenente Desinone.

― Tudo bem ― ele disse. ― Vou abrir uma exceção. Vou tentar interrogar todos de uma vez. Mas peço que se comportem. Infelizmente não temos cadeiras para acomodar a todos, mas o sargento Galfano pode se encarregar de dar um jeito nisso e...

― Não precisa se preocupar, inspetor ― a jovem ruiva interveio com uma firmeza que me impressionou. ― Não faço questão de entrar. Aposto que meu primo a esta hora está rindo disso tudo lá no saguão do Constantino Palazzo Hotel.

Movimentos perigosos (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora