Capítulo 10 - Fiorela abre o jogo

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Eu ainda ruminava internamente a veemente contrariedade do Sr. Salvatore diante da minha
contraproposta editorial. Embora compreendesse o lado
dele da história, achei que ele poderia ter sido mais maleável. Não esperava que ele fosse reagir com tanta intransigência.

Eu me encontrava em frente ao edifício onde aluguei meu apartamento quando ouvi uma voz familiar vinda de dentro de uma joalheria que ficava ao lado do prédio.

― Bom dia, Sr. Rodanelli. O senhor disse que eu poderia procurá-lo se quisesse.

Era a Sra. Fiorela Castini. Embora seus modos transparecessem serenidade, eu pude detectar pequenos traços de ansiedade na voz da jovem viúva.

― Claro que sim. ― cumprimentei-a. ― Sente-se
melhor? Lembro que você disse que seus pais estavam vindo de Napoli ontem e...

― É por isso que eu vim procurá-lo ― ela me interrompeu bruscamente.

Percebi que o assunto era sério. Analisei rapidamente a situação e concluí que ela precisaria de
privacidade para contar o que lhe inquietava. Assim, ela concordou com a minha sugestão de subirmos até o meu
apartamento.

A decoração da sala de estar do meu apartamento era básica ao extremo e foi mantida praticamente intacta desde quando eu aluguei o espaço. Um porta-retratos da minha família sobre um aparador ao lado da poltrona talvez fosse a única indicação de que havia um inquilino naquele local.

― Seus filhos? ― perguntou Fiorela enquanto se sentava.

― Sim ― respondi orgulhoso. ― Este é Matheus, o caçula. Aquela de cabelos negros é a minha filha Isabelle.

― Um bonito casal ― disse Fiorela. ― E esta loira ao lado dela? É a sua mais velha?

Eu sorri.

― Não. Esta é Doralice. Embora não pareça, ela é minha esposa e mãe desses dois.

― Oh! Desculpe! ― a Sra. Castini ruborizou. ― Eu não quis dizer que...

― Que eu pareço pai dela? ― Eu intervim, gentilmente. ― Há uns dez anos eu não parecia mesmo. Mas, de uns tempos para cá, meus cabelos embranqueceram. E ela parece que parou no tempo.

Uma nuvem de preocupação se formou sobre a cabeça de Fiorela. Ela suspirou.

― Ah! O tempo. Como eu queria que ele pudesse parar em alguns momentos. Quem sabe eu teria agido de forma mais racional naquele dia? Talvez Stefano ainda estivesse vivo.

Imaginei que Fiorela Castini estivesse se referindo à noite em que ela discutiu com o marido no Pasta Della Nonna. Não disse nada e continuei ouvindo o desabafo da jovem.

― Sabe, Sr. Rodanelli? Quando eu e Stefano nos mudamos para Roma, a nossa decisão não foi muito bem digerida pelos meus pais. Eu sou filha única e eles não concordaram com o fato de uma menina tão nova abandonar os pais e encarar a vida em outra cidade. O impacto foi ainda maior porque eu não os preparei para isso. Afinal, eu e Stefano não planejamos morar em Roma. Foi tudo assim tão de repente, a morte dos pais dele no acidente... Meus pais souberam por telefone que eu não retornaria a Napoli. Portanto, posso dizer que também tenho uma parcela de culpa nessa história.

Enquanto ela falava, eu me peguei pensando em como eu me sentiria se minha filha agisse da mesma forma. Compreendi o desagrado dos pais dela, mas,
mesmo assim, procurei encorajá-la.

― Não se sinta tão culpada ― ponderei. ― Não se esqueça de que vocês dois conseguiram se estabelecer aqui em Roma durante estes três anos. Você conquistou um emprego em um escritório de advocacia. Embora a sua mudança para Roma tenha sido brusca e, consequentemente, dolorosa para os seus pais, imagino que eles tenham se sentido orgulhosos de saber que a filha venceu na vida.

Movimentos perigosos (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora