Prólogo

274 20 7
                                    

"Dizem que a melhor defesa é o ataque."

Este foi um comentário feito por um amigo meu quando discutíamos a respeito de um episódio de grande repercussão na imprensa italiana há alguns dias. Na ocasião, os principais jornais noticiaram a descoberta de um cadáver de um homem que havia sido encontrado boiando no rio Tibre. O resumo dos fatos é que um turista havia sido assaltado enquanto passeava pela região e, ao reagir enfurecidamente, arremessara o larápio por sobre uma ponte. O fato havia sido testemunhado por diversas pessoas.

Este amigo encarou-me em seguida com um sorriso sarcástico quando eu discordei dele com uma frase lacônica e enigmática: "Nem sempre".

Acredito que o leitor mereça uma explicação a respeito desta ironia. Aliás, creio que lhe devo um pedido de desculpas. Afinal de contas, sequer tive a elegância de me apresentar.

Eu me chamo Lorenzo Rodanelli, tenho 57 anos, sou italiano, e há mais de vinte faço parte da Federação Italiana de Xadrez. Para quem não sabe, o xadrez é um jogo de tradição secular praticado por milhões de pessoas em toda a parte do mundo. Alta concentração, grande capacidade de memorização e visão espacial são virtudes essenciais aos praticantes deste jogo que também passou a ser considerado um esporte.

Mas não pretendo me alongar na explicação do jogo em si. Aliás, para alívio do caro leitor, essa nem era a minha intenção. A abordagem do xadrez teve como propósito enfatizar uma das características que mais aprecio neste jogo: a constante alternância entre ataque e defesa. Por esta razão, muitos enxadristas (como os jogadores de xadrez são chamados) defendem a ideia de que nem sempre a melhor defesa é o ataque. Muitos deles (e eu me incluo neste grupo) afirmam que o melhor ataque é a defesa: o que nos traz de volta à explicação do sarcasmo do meu amigo.

Parece complexo, não? Isso é compreensível. Confesso que pensaria da mesma forma se eu não tivesse conhecimento dos detalhes da história que me veio à mente em função do comentário inicial do meu amigo. Posso falar com propriedade disso, uma vez que me envolvi casualmente com o fato gerador desta trama completamente incomum.

Tudo começou com a descoberta de outro corpo às margens do rio Tibre, de modo semelhante ao que ocorrera com o tal homem que fora encontrado após a reação intempestiva do turista. Entretanto, esta morte cercava-se de circunstâncias misteriosas, sobretudo por causa de uma pista aparentemente irrelevante encontrada junto com o cadáver: uma peça de um jogo de xadrez.

Para dizer a verdade, eu mesmo considerei o fato irrelevante inicialmente. Porém, os desdobramentos dos acontecimentos vieram para reforçar algo essencial a qualquer jogador de xadrez: cada movimento deve ser friamente calculado.

Eu jamais devia ter me esquecido disso... Jamais.

*************************

Gostou? Sinta-se à vontade caso queira registrar seu voto neste capítulo. A mesma recomendação é válida caso queira compartilhá-lo.

Obrigado,
Vincento Hughes.

Movimentos perigosos (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora