Capítulo 8 - Srta. Rebecca

70 9 3
                                    


Quando Rebecca sentou-se diante de mim, notei que, embora ela fosse a mais serena e equilibrada daquela família, havia ligeira tensão em sua face.

Ela hesitou um pouco antes de dizer:

― Desculpe por ser tão direta. Mas eu gostaria de saber quem é o senhor.

Eu não esperava tanta objetividade por parte dela.


Fiquei sem reação como se tivesse levado um xeque. O xeque é um lance em uma partida de xadrez em que o rei


é atacado diretamente por uma ou mais peças do adversário. Não respondi imediatamente.

Vendo que eu estava confuso, Rebecca reformulou sua pergunta:

― O que eu quis dizer é que você não tem o perfil de um investigador. Então, não consigo entender o que o senhor fazia acompanhando o inspetor Carboni e a nossa família.

Senti como se fosse levar outro xeque. Eu não poderia abrir o jogo sobre o convite feito pelo inspetor Carboni. Eu não podia falar que eu estava participando indiretamente da investigação daquele crime. Assim como em uma partida de xadrez, eu tinha duas opções quando o rei recebe um xeque: atacar ou recuar.

Recuei.

― O inspetor Carboni é um velho conhecido meu de um tempo em que vivi em Roma. Depois passei a viver em Bolonha. Sou jornalista, mas já estou aposentado. Meu nome é Lorenzo Rodanelli.

Um recuo inteligente.

Mas Rebecca não parecia convencida.

― Eu acho que você está escondendo algo. Mas quem eu sou eu para julgar? - Ela fez uma breve pausa e acrescentou: ― Eu vi a cara que o senhor fez quando o inspetor Carboni retirou aquela torre do bolso de Bartolomeo. Foi isso, não é? A torre. Você devia ser mais


precavido.

Dessa vez eu decidi contra-atacar:

― Eu sou uma pessoa precavida. Para quem jogou xadrez durante anos... Por falar nisso, você parece que conhece o esporte, não é mesmo?

A resposta dela veio rápida e com os dentes arreganhados:

― Com quem você acha que Bartolomeo e Milena aprenderam a jogar xadrez?

Não fui capaz de esconder minha surpresa.

― Não sei por que parece surpreso ― ela disse, ácida. - Imagino que você deve ter ouvido a conversa que tive com Milena na antessala da delegacia. Aquelas coisas sobre Bartolomeo frequentar um clube de xadrez em Veneza. Todos naquela família falam tão alto que acabam esquecendo que as paredes têm ouvidos.

Sinceramente não entendi muito bem o que Rebecca quis dizer com aquilo. Eu ouvira claramente a conversa entre as duas na delegacia.

E eu só entenderia mais tarde.

Rebecca prosseguiu com seu discurso persuasivo:

― Pode não parecer, mas, embora se faça de durona, Milena é uma jovem bastante frágil. Sei que ela está sofrendo muito com tudo isso. E, sinceramente, até prefiro que a identidade deste assassino não seja descoberta. Não, não é frieza da minha parte, não. É que eu acredito que sempre que ocorre uma investigação de assassinato, os parentes da vítima sofrem toda vez que um fato novo é revelado. E, em muitas das vezes, esta descoberta não ajuda em nada a solução do caso.

Tentei a todo custo conter minha indignação quando perguntei:

― Então você prefere que o caso da morte de seu sobrinho fique sem solução? Será que os pais dele concordariam com a sua opinião?

― É claro que não. Mas sei que a solução deste caso não será assim tão simples. O inspetor teria que colocar todos os que visitaram o Coliseu hoje de manhã na lista de suspeitos.

― Mas ainda existe uma testemunha. Aquela estrangeira que encontrou o corpo...

― Que mal sabe falar italiano direito! ― Rebecca me interrompeu em um tom de voz polido. ― Talvez sequer seja encontrada novamente.

Aquela frase me causou frio na espinha. O que ela quis dizer com "sequer seja encontrada novamente"? Ela teria sugerido que a tal estrangeira poderia ser silenciada por saber demais Uma queima de arquivo? Não, eu não podia concordar com aquilo.

Movimentos perigosos (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora