Capítulo 4 - Um encontro

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Na manhã seguinte, decidi caminhar sem destino pela cidade. Já estava exausto de ficar sentado na escrivaninha olhando para o teto. A carência de ideias me angustiava. Talvez um passeio descompromissado tivesse o poder de desbloquear a minha mente e devolver a minha criatividade literária.

Por um momento, eu me senti inclinado a considerar a sugestão feita pela minha esposa em retornar ao meu velho estilo literário e escrever um romance policial. Mas eu me propusera a escrever sobre xadrez. Era um compromisso que eu tinha firmado com o editor. E, além do mais, como eu iria relacionar xadrez a crimes?

Em dado momento, passei em uma banca de jornal e comprei um exemplar do Oggi. O caso do Sr. Castini havia sido relegado a uma matéria de rodapé de página.

Quando eu caminhava perto do Tibre, a imagem da Sra. Castini me veio à mente. Foi da margem daquele rio que o seu marido Stefano Castini fora arremessado após ter a garganta degolada. E era provável que Fiorela Castini não acreditasse que a morte do marido houvesse sido um suicídio. Ainda mais agora que o inspetor Carboni havia colhido o seu depoimento. Peguei-me curioso ao imaginar se ela havia revelado mais informações ao inspetor.

Um pouco mais tarde parei para comer algo em uma trattoria em uma rua perto do meu apartamento. Optei por ocupar uma mesa da calçada, pois o calor ainda era forte.

Degustava despreocupadamente um calzoni de presunto quando uma voz familiar alcançou os meus ouvidos.

― Lorenzo. Que coincidência!

Era o meu velho amigo Ítalo Langoli.

Cumprimentei-o e convidei-o para se sentar comigo.

― Li aquele jornal de ontem ―disse a ele. ― Que coisa mais insana!

― É meu camarada! Nunca se sabe. Há quem diga que exista um mínimo de lucidez em atitudes aparentemente insanas.

― O que você quer dizer com isso, Langoli? ― perguntei com o cenho franzido.

Ele deu uma risada jovial.

― O que queria dizer, Lorenzo, é que pode ter acontecido algo sério que pode ter perturbado gravemente este jovem. E que isto poderia ter criado na mente dele a ilusão de que o suicídio seria a melhor saída. Não foi suicídio a causa da morte do jovem?

― É o que andam dizendo.

― Mas não é isso que você pensa, estou certo?

― Não posso afirmar ― desconversei. ― Acredite, meu amigo. Eu estava no Della Nonna naquela noite.

Acabei testemunhando uma discussão entre o jovem que morreu e a esposa dele.

― A matéria do jornal mencionava a discussão e... Ei! Espere um momento. Se eu ainda o conheço bem, você deve ter ido à delegacia contar o que sabia.

Meu sorriso me denunciou.

― Eu continuo o mesmo. Achei que pudesse ajudar. ― hesitei por um momento antes de acrescentar:

― Aquela rainha branca na cena do crime me intrigou.

―Crime? ― repetiu Langoli. ― Suicídio é um ato reprovável, sim. Mas legalmente não o considero um crime. Porque, no caso de um suicídio, o autor não pode ser condenado por aquilo que fez. Afinal, ele próprio já se
condenou, matando a si mesmo. Por que você acha que foi um crime?

Ele enfatizou a palavra "crime". Percebi a mancada que havia cometido. Tentei consertá-la para que meu amigo não desconfiasse de que eu sabia que se tratava de um assassinato.

― Se, com o seu ato extremo, o suicida consegue de alguma forma atingir alguém próximo, jogando sobre esta pessoa a culpa, isso pode ser considerado um crime.

Movimentos perigosos (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora