Capítulo 26 - A decisão de Lorenzo

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Doralice me encarou com olhos inquisidores.

― O que nós vamos fazer, Enzo?

― Simples, Doralice ― respondi calmamente. ― Não há mais nada para fazermos aqui em Roma. Telefonarei para o Sr. Salvatore e agendarei um almoço com ele para tratarmos da conclusão do meu livro.

― Almoçar? Mas nós dois sequer almoçamos ainda, Enzo ― protestou Doralice. ― E eu?

― Não se preocupe, Dora. Providenciarei uma refeição a domicílio para você ― disse, ignorando os protestos de Doralice. Então, prossegui caminhando até o telefone e retirei o telefone do gancho.

― Espero que o Sr. Salvatore esteja disponível.

Algum tempo depois eu ocupava uma mesa de dois lugares no Pasta Della Nonna. À minha frente, o Sr. Roy Salvatore, claramente surpreso com o meu súbito convite. O restaurante não estava muito cheio e eu havia escolhido uma mesa em um canto discreto.

― Imagino que lhe devo explicações para falar com o senhor pessoalmente em pleno sábado ― comecei. ― Mas ponderei e decidi que o assunto era urgente o suficiente para esperar até segunda-feira.

Franzindo o cenho, o Sr. Salvatore assentiu, e eu continuei:

― Deve saber que minha esposa Doralice viajava pela Europa trabalhando como guia de turismo e...

― Desculpe, Sr. Lorenzo ― O Sr. Salvatore me interrompeu, preocupado. ― Mas ocorreu algo com ela?

― Não, não. Está tudo bem como ela ― tranquilizei-o. ― Mas, sabe como às vezes as mulheres agem movidas por uma impulsividade inexplicável.

O Sr. Salvatore sorriu e disse:

― Minha ex-esposa também não era muito diferente. Prossiga.

― Vou direto ao ponto. Doralice arrumou um jeito de largar tudo o que estava fazendo e vir para cá no fim da tarde de ontem.

― Para Roma? ― surpreendeu-se o Sr. Salvatore.

― Eu também me surpreendi, Sr. Salvatore. Claro que eu contei a ela sobre uma febre que me deixou de cama na quarta-feira. Porém, ela confessou que veio até aqui para me ajudar a buscar inspiração no livro que eu estou escrevendo.

O Sr. Salvatore parecia confuso. Ele disse:

― Desculpe, Sr. Lorenzo. Não compreendo. Se ela é uma espécie de coautora do seu livro, por que razão não a trouxe junto com você?

― Admito que ela às vezes ela acaba me auxiliando. Até mesmo sem querer. Mas eu a convenci de que não é bom misturar as coisas ― expliquei. ― Além disso, também vim para lhe alertar sobre algo que descobri.

A testa do Sr. Salvatore se enrugou nitidamente.

― É sobre Ítalo Langoli ― declarei.

― Ítalo Langoli? Aquele que é seu amigo? Ele fez algo de errado?

― Ítalo Langoli me contou que também escrevia um livro para sua editora. Ele iria abordar a esquizofrenia. Uma paciente dele seria a base de sua pesquisa.

― Claro ― aquiesceu o Sr. Salvatore. ― Mas não vejo mal algum nisso.

― Não haveria mal algum. Com certeza ― concordei com ele. ― A não ser que Ítalo Langoli soubesse que a sua própria paciente não era esquizofrênica.

Avaliei a reação do Sr. Salvatore. Afinal, a acusação que eu fazia era grave. Ítalo Langoli poderia estar mentindo desde o começo para o Sr. Salvatore, apenas com o objetivo de obter o contrato para a publicação de seu livro.

Movimentos perigosos (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora