Capítulo 15 - Lorenzo volta ao Constantino

53 7 0
                                    

Um pouco mais tarde, eu retornava à região do Trastevere. Ansiava por um telefonema de Doralice no período da noite. Pretendia discutir com ela alguns pontos sobre os dois casos de assassinato. Quando eu escrevo,
ela costuma sugerir ideias, muitas delas absurdas, posso dizer, mas que, em algum ponto da história, eu acabo conseguindo encaixar no enredo. Eu imaginava que ela também pudesse fazer algo parecido nos casos Castini e Cuatrimossi.

Eu também precisava voltar logo ao meu apartamento para preparar as quarenta páginas iniciais que o Sr. Salvatore havia exigido até a próxima quarta-
feira. Faltava ainda uma semana, um prazo razoavelmente confortável. Ainda eram cinco horas da tarde, e eu decidi que precisava conversar com uma pessoa no Constantino Palazzo Hotel.

Na recepção, eu pedi para falar com a Sra. Adelaide Cuatrimossi. Apresentei-me como um mensageiro enviado pelo inspetor Carboni.

A recepcionista explicou que a Sra. Cuatrimossi desceria ao meu encontro. Afastei-me um pouco da recepção.

Enquanto aguardava, um funcionário jovem que entreouvira minha conversa aproximou-me de mim e
comentou:

― Se for quem eu estou pensando, o senhor deu sorte. Porque ela acabou de retornar ao hotel.

Ligeiramente constrangido com a indiscrição do funcionário, decidi descrever a Sra. Adelaide de um modo educado. Ele confirmou, embora não tenha medido muito suas palavras:

― Sim. Ela mesma. Uma senhora gordinha e espalhafatosa. Voltou com um senhor que creio que seja o marido dela ― Ele fez uma breve pausa e enrubesceu, ciente de sua gafe. ― Desculpe. É que o Giorgio aqui ― ele apontou para si próprio ― é um pouco avoado. Agora que eu fui me dar conta de que esta senhora é a mãe do jovem rapaz morto no Coliseu.

Então aquele era o tal funcionário atrapalhado sobre o qual a recepcionista comentara pela manhã quando estive com o inspetor Carboni procurando por Helga Flink no hotel? Não me admirava o fato de a estrangeira não ter sido vista retornando ao hotel ontem.

― Um inspetor esteve aqui hoje pela manhã querendo saber sobre o sumiço de uma estrangeira. Beatrice foi quem me contou - Giorgio virou discretamente o pescoço na direção da recepção. - Ela queria saber se eu tinha visto esta estrangeira retornar ao hotel ontem à tarde. Mas confesso que não me recordo. Que idiotice esta minha conduta! Espero que eu não perca meu emprego por causa disso.

O empregado indiscreto se afastou. Logo em seguida, a porta do elevador se abriu e a Sra. Adelaide ingressou no saguão do hotel.

Visivelmente abatida com a recente tragédia, a senhora trazia ligeira ansiedade na voz quando me abordou:

― Quem é mesmo o senhor? Desculpe. Não lembro e...

― Trabalho com o inspetor Carboni ― disse uma meia-verdade. ― Sou Lorenzo Rodanelli. Podemos conversar reservadamente?

Eu sugeri a cafeteria do hotel, e logo nos acomodamos em uma das mesas.

― Desculpe se pareci meio rude ― começou a Sra. Adelaide. - Mas acabei de retornar do necrotério com meu marido. O coitado teve que ingerir um calmante para relaxar. Está descansando um pouco lá no quarto.Rebecca está com ele. Já eu... Minha cabeça está a mil. Não consigo parar de pensar um só minuto. Pedi para preservarem o corpo de Bartolomeu por mais alguns dias. Não arredo pé daqui de Roma sem saber quem foi o
responsável por injetar aquela coisa no meu menino.

― Aposto que o inspetor Carboni encontrará uma solução para o caso ― disse, tentando tranquiliza-la.

― E o senhor tem alguma novidade?

Movimentos perigosos (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora