Capítulo 2 - Inspetor Carboni

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I

Durante o trajeto até a antessala da editora, senti- me um completo idiota. Parecia que eu era única pessoa no mundo que não sabia nada a respeito da notícia sobre o homem encontrado no rio Tibre. Um jovem casal no elevador debatia o assunto com propriedade. Funcionários do prédio também comentavam sobre a morte misteriosa do rapaz. Sim, um rapaz. A vítima havia sido um jovem de 28 anos. Ao menos fora o que eu pude compreender do
diálogo entre dois senhores engravatados que cruzaram meu caminho no corredor do terceiro andar.

As informações a respeito do caso eram muitovagas. Por isso, vislumbrei em minha mente a
possibilidade de retirar o jornal da minha pasta e atualizar-me do assunto enquanto estivesse esperando ser anunciado ao editor por sua secretária. Mas não foi preciso.

Assim que adentrei a antessala, a voz anasalada e estridente da Srta. Henriqueta entupiu meu ouvido com o que ela achava que sabia sobre o caso:

― O senhor acha que a dama branca no bolso do pobre Castini não é obra de uma mulher ciumenta? Oh! Desculpe, senhor Lorenzo. Esqueci-me de lhe dar bom-dia. Mas é que não se fala de outra coisa por aí... Estou vendo que o senhor não me parece atualizado da misteriosa morte do jovem rapaz encontrado boiando às margens do Tibre. Deu em todos os telejornais da noite!

Eu não tinha o hábito de assistir telejornais à noite.

A secretária prosseguiu me atordoando com sua enxurrada de informações desencontradas:

― Dizem que o inspetor que anda investigando o caso está clamando para que testemunhas se apresentem. Parece que ainda não tem certeza de como o Sr. Castini foi parar no rio. Dizem que ele pulou de lá e morreu afogado, mas eu desconfio de que estão escondendo algo.

A Srta. Henriqueta calou-se por um instante e pressionou sobre seu rosto a parte central da haste dos seus óculos de grau. Como bom observador que sou, notei que este era um gesto involuntário da secretária quando ela se senti inconformada com alguma coisa.

A antessala estava vazia, e eu mal tive tempo de retribuir um bom-dia à Srta. Henriqueta, uma vez que as palavras transbordavam de sua boca.

― Eu sabia que eu estava certa quanto ao senhor não estar em dia com as novidades ― ela apontou o dedo para a porta fechada ao seu lado e disse em um tom de voz bem mais baixo que o usual: ― Ele também é outro que está alheio a tudo isso. Compenetrado que só ele! ―
ela suspirou levemente e acrescentou em seu tom de voz
natural: ― Será que alguém no Della Nonna não ouviu
nada e...

Naquele momento o telefone da Srta. Henriqueta tocou. Assim que ela atendeu, lançou-me aquele olhar que eu conhecia bem, aquele olhar que dizia que minha entrada havia sido autorizada.

O Sr. Roy Salvatore, dono da editora, era um sujeito sério e de poucas palavras. Terminados os
cumprimentos iniciais, coloquei-o a par do andamento do meu novo livro, enfatizando principalmente o bloqueio de
ideias que havia tomado conta de mim.

― Lorenzo, confie na sua criatividade. Sei que você
é capaz ― ele disse em uma tentativa de me encorajar.
Trocamos mais algumas breves palavras envolvendo o prazo de conclusão de minha obra e
despedi-me.

Um pouco mais tarde, enquanto debruçava-me sobre a escrivaninha do meu quarto, tive consciência de que o incentivo moral do dono da editora não teve o poder de injetar ânimo em minhas inspirações literárias.
Parecia que minha ideia de escrever um livro sobre xadrez
estava fadada ao fracasso.

Deixei meus rascunhos de lado e, desapontado, afundei-me em um canto do sofá da sala. Permaneci absorto por alguns segundos até notar a minha pasta na outra extremidade do sofá. Como eu havia jogado a pasta ali de qualquer jeito, uma parte do jornal despontava para fora dela.

Movimentos perigosos (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora