I
A Srta. Henriqueta abriu a porta da editora com entusiasmo. Antes de visitar o inspetor Carboni pela manhã, eu havia telefonado para ela e conseguido agendar um encontro com o Sr. Salvatore, diante do qual poderia apresentar o conteúdo das vinte primeiras páginas que eu havia escrito no dia anterior.
― Bom dia, Sr. Rodanelli ― cumprimentou-me a Srta. Henriqueta, mais falante do que nunca naquela manhã. ― Pontual como sempre. Onze e meia da manhã. A essa altura, o Sr. Salvatore já deve estar terminando o que parece ser o rascunho de algum livro que ele anda escrevendo. Algum romance policial passado em Berlim ou Paris, eu aposto. Ele estava murmurando Berlim repetidas vezes quando entrei agora há pouco para avisá-lo de que eram quase onze e meia e que o senhor estaria prestes a
chegar.
Ela lançou um rápido olhar sobre a pasta que eu havia buscado em casa depois de passar pela delegacia, e falou, sorrindo:
― Vejo que progrediu no andamento do seu novo livro. Sobre xadrez, não é? Francamente, acho tudo isso meio maçante. Aquele monte de peças espalhadas em um tabuleiro me parece muito confuso. Todas querendo proteger o rei. Pobre dos peões que são postos na linha de frente. E os cavalos, as torres, os bispos e as rainhas...
― A senhorita parece bastante inteirada sobre o tema, hein? ― disse, lançando a ela um sorriso malicioso.
― Não é bem assim, Sr. Rodanelli. É que, de tanto ouvir falar sobre isso, eu acabei gravando o nome das peças. É tanto debate em programas, tantos artigos em jornais abordando aqueles dois crimes que eu aprendi um pouco. Até sobre os movimentos de algumas peças eu já aprendi. Eu, particularmente, adquiri admiração pelos cavalos. Saber que eles podem saltar por cima de uma peça no tabuleiro é algo que eu simplesmente considero
fantástico. Engraçado! ― ela pausou brevemente. ― Se não me engano, lembro que eu li no jornal os nomes dos familiares daquele jovem morto no Coliseu. Alguém tinha um nome que lembrava cavalo. Agora não sei
exatamente. Também são tantos nomes que minha cabeça chega a dar voltas. Acomode-se à vontade, Sr. Rodanelli. O Sr. Salvatore já irá recebê-lo. Espero que seu livro alavanque as vendas da editora. Ouvi dizer que a editora não anda muito bem das pernas.
Ela calou-se por uns instantes.
A Srta. Henriqueta era uma criatura de uma imaginação extremamente mirabolante. Alguém com o nome que lembrava cavalo.
Repassei rapidamente os nomes dos familiares de Bartolomeo Cuatrimossi em minha mente. E, para minha surpresa, desta vez a Srta. Henriqueta tinha razão.
Cavalieri. Milena Cavalieri.
Curiosamente, o sobrenome de Milena Cavalieri dava margens a essa comparação.
― O senhor já pode entrar Sr. Rodanelli ― avisou-me a Srta. Henriqueta.
O Sr. Salvatore me recebeu com um sorriso de satisfação no rosto.
― Preparei vinte páginas, Sr. Salvatore ― disse enquanto lhe entregava a pasta com as folhas
datilografadas.
― Eu sabia que não iria me decepcionar, Sr. Lorenzo ― ele sorriu ao mesmo tempo em que folheava as páginas. ― Pelo que posso ver, você está no caminho certo. Era exatamente disso que precisávamos.
― Fico feliz, Sr. Salvatore. A propósito, conhece o senhor Ítalo Langoli?
― Ítalo Langoli ― repetiu ele, pensativo. ― Ah, claro! O psiquiatra. Também está escrevendo um livro.
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Movimentos perigosos (COMPLETA)
Mystery / Thriller(...) ― Ganhar tempo? ― perguntei, ainda perplexo com o mistério feito pelo inspetor. ― Sim. Tudo indica que esta dama branca não estava lá junto à vítima por mero acaso. Fizemos uma busca no apartamento em que o jovem morava aqui em Roma e encontr...