Capítulo 21 - A importância de um comentário casual

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Durante o retorno ao meu apartamento, decidi passar pela delegacia. Àquela altura, o inspetor Carboni certamente já teria interrogado Fiorela novamente. E eu não posso deixar de negar que, naquele momento, eu me sentia bastante curioso em saber a explicação para mais uma atitude omissa de Fiorela Castini.

Quando adentrei a antessala da delegacia perguntando pelo inspetor Carboni, o sargento que estava de plantão me informou que o seu superior precisara sair com urgência. Obviamente, o sargento comportou-se do modo mais protocolar possível, e, por isso, não entrou em detalhes sobre o destino do seu superior para um cidadão comum como eu.

Frustrado com a ausência do inspetor, segui meu rumo até o meu apartamento com o pensamento dominado por perguntas cujas respostas pareciam inalcançáveis. Por que Fiorela Castini permanecia omitindo fatos da polícia? O que a jovem viúva de Stefano Castini pretendia esconder? Sinceramente, não conseguia
compreender a atitude dela.

Aliás, eu lembrei logo depois, não era apenas Fiorela quem agia de modo obscuro. Rebecca, a tia de Bartolomeo Cuatrimossi, também se empenhara ferrenhamente em proteger um segredo de família: o amor que houvera entre os primos Bartolomeo e Milena.

Milena Cavalieri... Onde ela teria ido nessa tarde? Teria retornado ao clube de xadrez como fez há dois dias, quando eu a reconheci e ela fugiu de mim? Se fosse esse o caso, qual seria a conexão com o clube de xadrez?

Será que...?

Estalei os dedos diante do que eu acabara de vislumbrar.

Aquilo começava a fazer sentido. Milena ainda amava Bartolomeo. E o clube de xadrez seria outra vez um ponto de encontro clandestino entre os dois, assim
como o casal fazia em Veneza após a proibição da Sra. Adelaide. Como eu ainda não havia enxergado algo tão simples?

Às vezes, refleti, muitas coisas são tão simples de serem solucionadas. Recordei-me de tantas vezes em que disputei uma partida de xadrez e que a saída encontrada para vencê-la adveio justamente de uma jogada simples.

Mas, ainda assim, eu não era capaz de compreender por que razão Milena Cavalieri ainda sentia necessidade de tentar encobrir sua identidade após a
morte de Bartolomeo. Mesmo se ela tivesse decidido investigar por conta própria a morte do primo, não havia motivo para que Milena se preocupasse em ser vista no clube de xadrez.

A não ser que...

Eu estava a poucos metros da joalheria próxima ao edifício no qual ficava o meu apartamento. Estava prestes a entrar no prédio quando fui detido por uma voz que eu reconhecera imediatamente. Não era a primeira vez que esta pessoa se propunha a aparecer naquelas redondezas. No entanto, desta vez, sua voz estava nitidamente
ofegante.

― Boa tarde, Sr. Rodanelli. Ainda bem que consegui encontrá-lo a tempo.

Quando me virei, deparei-me com Fiorela Castini. Sua respiração permanecia nitidamente acelerada. Parecia
que a jovem viera correndo em direção ao meu endereço.

― Vamos subir, Sra. Fiorela. ― convidei-a. ― Você me parece bastante preocupada.

― Não precisa, Sr. Rodanelli. Obrigada. Eu estou vindo do clube de xadrez. Aquele perto da Fontana Di Trevi.

― O que foi você foi fazer lá?

― Bem, eu resolvi espairecer depois de prestar novo depoimento na delegacia. Acredito que deva saber que eu estive lá hoje.

― Espairecer? ― indaguei, curioso.

― Vamos entrar nessa joalheria. Eu lhe explico enquanto nós fingimos estar interessados em alguma coisa.

Movimentos perigosos (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora