03. Staying and taking care

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Narrado por Joe.

Quando estacionei meu carro na minha garagem e saí, avistei o carro de Demi. Queria tomar um banho antes de checar se ela estava bem, mas quando notei, já guardava a chave do carro no bolso da calça e atravessava meu quintal, caminhando para o quintal da casa do lado. Não venho aqui desde o dia do enterro de Colin. Via Bob e Zoey sempre cuidando da grama, ou abrindo as janelas para arejar a casa, mas não me atrevia a chegar muito perto. Eu estava com Colin quando ele veio ver a casa com o corretor. Estava com ele quando ele contou para Demi, e estava com ele quando a mudança chegou. Essa casa era o maior orgulho que Colin e Demi tinham. Foi a primeira coisa que os dois conquistaram juntos.

Subi os degraus da varanda e bati na porta. A varanda estava escura e era um pouco assustador, mas eu esperava que Demi abrisse a maldita porta de uma vez.

- Joe? –ouvi ao mesmo tempo que uma mão pousou no meu ombro e eu saltei, soltando um grito humilhante, me virando e dando de cara com Demi-

- Porra, quer me matar de susto? –gritei assim que focalizei em Demi que tinha os olhos arregalados-

Demi começou a rir aos poucos, e logo gargalhava de mim. Fechou os olhos com força, balançou a cabeça. Tinha o rosto vermelho e eu sabia que fazia muito tempo que ela não ria desse jeito. De repente esqueci a súbita raiva que senti pelo susto. Fiquei feliz por ve-la rindo dessa forma. Quando notei, eu já ria também. Já fazia um tempo que não ria tão naturalmente assim, e a sensação era estranha, mas boa. Quando a risada dela cessou, ela respirou fundo e então ficou séria. Eu sabia o que era aquilo. Era a culpa! Sabia disso porque vivo isso há dois meses já. Esquecemos por algum segundo da dor que nos toma, mas então nós lembramos e a culpa nos atinge. É errado sentir culpa, mas é inevitável.

- O que faz aqui? –ela perguntou baixinho, desviando o olhar, ainda respirando rapidamente com o rosto vermelho-

- Vim ver você. –respondi e ela me olhou- E quase desmaiar de susto. –falei e ela sorriu, soltando uma risada nasalada-

- Você gritou como uma garotinha. –ela brincou e eu revirei os olhos, desviando e olhado para o lado, onde haviam cadeiras de varanda-

Algumas sacolas estavam no chão ao lado da porta. Voltei meu olhar para Demi e a vi encolhida, cruzando os braços contra o peito.

- Você não entrou? –eu perguntei e ela deu de ombros-

- Acabei de chegar. –ela murmurou desviando o olhar e eu soube que ela estava mentindo-

- Vai fazer o teste hoje? –perguntei sem rodeios e Demi congelou- Demi, sem enrolar. –pedi e ela fez uma careta, assentindo- Certo, então vamos entrar. –falei e estendi a mão-

Ela hesitou, mas segundo depois me entregou a chave da casa. Eu abri a porta, entrei e foi como se alguma coisa apertasse meu coração sem dó alguma. Parei de andar ainda no batente da porta e senti Demi bater nas minhas costas, pousando suas mãos na minha cintura pelo impacto. Acendi a luz ainda meio perdido. Quando iluminada, uma sensação doida me tomou. Era como se Colin desceria as escadas, ou saísse da sala de estar, ou viesse do corredor ao lado das escadas. Ouvi Demi suspirar pesadamente, e procurei sua mão, apertando a mesma assim que a segurei. Ela sabia o que eu estava passando. Ela sentia isso também, mas de um segundo para o outro ela soltou a minha mão e passou por mim. Demi andava acuada, como se não tivesse forças para se erguer. Olhou tudo na sua volta enquanto sua mão tocou delicadamente o corrimão. Respirou fundo, uma respiração tremula e então fechou os olhos.

Me perguntou se vou sentir isso sempre quando entrar aqui, porque se sim, vai ser bem complicado cuidar de Demi como Colin pediu. Eu não sei se suporto frequentar esse lugar recheado de memórias novamente.

- Porque que as coisas tinham que mudar tanto? –Demi perguntou baixinho e eu não respondi- Não... Não estava bom? Estava, né? –ela perguntou e fungou, se agachando e sentando no segundo degrau da escada- Porque ele não podia ter só... Ficado? –ela falou e limpou suas lágrimas- Você não se pergunta isso? –ela perguntou e eu funguei também-

- O tempo todo, Dems. –respondi e balancei a cabeça-

- Ele não preparou a gente para isso. Porque isso tinha que acontecer logo com ele? –ela perguntou olhando o chão- Porque que aquele acidente tinha que acontecer? –ela grunhiu, se encolhendo- Isso nunca vai passar, sabe? –ela perguntou e eu sabia- Essa angustia, esse vazio. Como se estivesse faltando um pedaço. Você sente isso também, eu sei que sente. –ela disse e eu caminhei até ela, me sentando ao seu lado-

- Claro que eu sinto. Ele era praticamente o meu irmão, Demi. –eu disse e peguei sua mão- Eu espero que isso passe. Mesmo achando que seja impossível. –falei e ela assentiu devagar- Eu acho que em algum momento, daqui um tempo, já não vai doer tanto. Vai doer ainda, mas vai ser mais fraco. Não vai nos tomar por inteiro como toma agora. –sussurrei e ela me olhou-

- Tomara, né? –ela perguntou baixinho, parecendo uma criança machucada e a certeza me atingiu como um tapa-

Eu ficaria. Mesmo sem saber o que fazer, eu ficaria. Ficaria e cuidaria dela. Não só por Colin. Mas sim, porque precisávamos disso.

- Tomara, Dems. –falei e ela assentiu, deitando sua cabeça no meu braço-

 –falei e ela assentiu, deitando sua cabeça no meu braço-

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Stay with me [JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora