32. My head was a mess

485 42 6
                                    

Narrado por Demi.

No sábado de manhã, eu acordei já decidida do que eu faria. Uma faxina nessa casa! Acordei muito cedo, antes mesmo do sol nascer, mas mesmo assim, estava cheia de energia. Precisava distrair minha cabeça e parar de pensar em Joe e na discussão que tivemos no início da semana.

Comecei pela cozinha, limpando até o mínimo detalhe de lá. Passei pela sala, tirando o pó das estantes de livros, da lareira, da mesinha centro, ajeitando as mantas nos sofás e varrendo tudo. Passei então para o banheiro, depois para o quarto que estava dormindo desde que voltei de Londres, depois o escritório, e o quarto de hospedes. Estava cansada e louca por um banho, mas me peguei fitando a porta do meu antigo quarto. Mordi o lábio, indecisa, mas quando notei, já me encaminhava para o escritório, onde eu havia guardado a chave. Como eu havia deixado, a peguei no fundo de uma gaveta da escrivaninha. Voltei para o corredor e encarei aquela porta de novo. Fazia muitos meses que eu não entrava naquele quarto. Depois que Colin morreu, e eu voltei de Londres, eu entrei apenas uma vez, para pegar minhas coisas. Depois nunca mais e tanta coisa havia mudado na minha vida depois daquele dia.

Coloquei a chave na fechadura e a virei, abrindo a porta. O quarto estava escuro, com as cortinas fechadas e a luz apagada. Acendi, fiz uma careta pelo cheiro de lugar fechado e adentrei o quarto. Tudo estava organizado, sem vida. Caminhei em passos lentos até a cama e respirei fundo. Há quantos meses não me sentava nessa cama, não me deitava nessa cama. A última vez foi com ele. Com Colin. Foi acordando com ele mexendo nos meus cabelos e cantarolando uma música do Aerosmith, sua banda favorita. Foi olhando seus olhos claros e sorrindo para ele, agradecendo a paz que eu tinha. A sorte que eu tinha. Naquela manhã, ainda na cama, ele me disse que iria com Joe em uma loja de construções, para comprar algumas coisas para decorar o escritório. Lembro que resmunguei, reclamando que ele iria me deixar na cama para sair com Joe e ele me beijou de uma forma tão boa que mesmo antes de ele sair pela porta de casa, eu já sentia sua falta. Depois daquele dia, nunca mais parei de sentir sua falta.

Um pouco hesitante, me aproximei da cama e me sentei na beirada, do lado que Colin costumava dormir. Pousei minha mão em cima de seu travesseiro e respirei fundo, esperando a angustia e a tristeza. Esperando a dor. Mas não senti nada. Não senti meu peito apertar, não senti meus olhos arderem, não senti minha garganta fechar, nem mesmo me senti zonza e desconsolada. Não senti nada.

Peguei o travesseiro e o cheirei. Mesmo fraco, seu cheiro ainda estava ali. Isso fez meus olhos se encherem de lágrimas, como se eu ainda sentisse sua presença. Solucei contra o travesseiro e o abracei, como se abraçasse Colin. Queria abraça-lo de novo. Queria a paz daquele abraço, queria seu carinho nas minhas costas e seus beijos no meu cabelo. Queria que ele sussurrasse que ficaria tudo bem. Queria que ele fizesse tudo ficar bem.

Larguei seu travesseiro, limpei algumas poucas lágrimas que haviam escorrido e me levantei, caminhando até o closet. Meu lado estava vazio, por isso passei direto e fui para o seu lado. Quando abri a porta do seu lado do closet, e observei suas roupas muito bem organizadas, foi como um soco no estomago. Passei a mão por um casaco no cabide, alisei uma camisa dobrada em uma prateleira e peguei sua camiseta de pijama, toda amassada em uma prateleira. Cheirei e fechei meus olhos, sentindo seu cheiro um pouco mais forte do que no travesseiro. Seu cheiro me confortou de uma forma inexplicável. Era como se ele estivesse ali comigo. Não doeu como eu achei que doeria. Me aliviou. Dobrei a camiseta e a coloquei de volta na prateleira, sentindo algo novo em mim.

Colin não era mais o motivo da minha dor. Ele era uma boa recordação, mas apenas isso. Eu havia superado sua morte. Nossa história foi incrível, mas acabou. Saí de dentro do closet, passei direto pela cama e saí do quarto. Quando fechei a porta e virei a chave, senti como se aquilo tivesse sido um ponto final. O ponto final na nossa história.

Stay with me [JEMI]Onde histórias criam vida. Descubra agora